Capítulo II.

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❝ ⸻ Sol, Alicent Hightower e outras coisas que queimam a minha pele.

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Eu me apoiei no peitoril da janela do meu quarto, observando o céu tingido pelo pôr do sol de um dia quente. Uma paleta de cores flamejantes se espalhava no horizonte, lembrando-me de como tudo ali era sempre grandioso e intimidante. O sol se punha sobre Porto Real, e, embora gostasse de observar o fim do dia, a visão daquela cidade parecia ainda mais opressiva desde o casamento de meu pai. Havia uma sensação incômoda de vazio dentro de mim, uma sensação que sempre parecia mais forte ao cair da noite. Antes, eu passava as tardes ao lado dela, trocando sorrisos e confidências, mas agora isso parecia errado, como se o casamento tivesse transformado tudo em algo fora dos limites. Ela não era apenas a amiga que sempre estivera ao seu lado. Ela era a nova rainha, a esposa de meu pai.

Era difícil colocar em palavras o que a presença dela significava para mim agora. Algo que, de certa forma, me perturbava e, ao mesmo tempo, parecia magnetizar meus pensamentos.

Aquilo era tão recente, havia mudado tudo, e, ao mesmo tempo, não parecia mudar nada.

O castelo ainda estava lá, as obrigações continuavam, e os rostos familiares dos servos e conselheiros desfilavam pelos corredores sem questionar. Mas, para mim, tudo parecia fora de lugar. Agora via-me colocada de lado, na sombra de uma nova rainha. Uma rainha que era... eu desviei o pensamento. Não queria alimentar o desconforto crescente, embora este não lhe desse descanso.

Olhei para o horizonte, meus olhos violetas seguindo as curvas das montanhas distantes, e respirei fundo. Quantas vezes havia imaginado fugir dali, apenas montar em Syrax e voar para longe? Muitas. Mas, nos últimos tempos, esse desejo havia se intensificado. Era como se o peso do palácio, das tradições e da coroa estivesse sufocando o ar ao meu redor. Eu sabia que meu destino estava atado a Porto Real, mas às vezes sonhava que poderia ser livre, vivendo para além dos muros de pedra fria e dos sussurros de seus próprios pensamentos.

Fechei os olhos e senti uma brisa suave acariciar meu rosto, lembrando-me de dias mais tranquilos, quando a vida parecia simples e descomplicada. Alicent era apenas Alicent, a amiga de minhas horas de estudo, de risos abafados e momentos secretos nos cantos do castelo. Aquele tempo havia desaparecido tão rápido quanto a fumaça de uma vela apagada. E, por um momento, eu me permiti mergulhar nas memórias daquele passado distante.

Senti uma pontada amarga no peito. Era como se uma parte de mim tivesse sido tirada, deixando um vazio que nem mesmo Syrax, meus livros ou meus sonhos poderiam preencher. Ao fechar os olhos, permiti-me recordar seu riso mais uma vez, e um desejo imprudente tomou conta de mim, um desejo de voltar àquele bosque e àqueles dias, quando o futuro parecia tão distante e éramos apenas duas garotas em um mundo que mal começávamos a compreender.

Abri os olhos, encarando a vastidão de Porto Real. Eu sabia que o tempo não retrocedia e que, mesmo que tentássemos, não poderíamos reviver aquele passado. Mas, naquele instante, eu desejei, com uma intensidade que me assustou, poder ter mais uma tarde despreocupada ao lado de Alicent, como se o mundo ao nosso redor não existisse.

O ar ainda estava pesado com o calor do dia, e o som distante das aves retornando aos seus ninhos me trouxe um breve consolo. No entanto, a sensação de deslocamento, de estar em um mundo onde as regras haviam mudado sem aviso, não se dissipava. Eu me perguntava, mais uma vez, se ela também sentia isso. Se, de algum modo, a vida dela havia se tornado tão insustentável quanto a minha, agora que éramos estranhas.

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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𝐋ike 𝐀 𝐒ailor - 𝐑haenicent.Onde histórias criam vida. Descubra agora