Entre Coelhos e Peixes

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Depois de sairmos do sanatório, fui direto para casa. Algo estava me incomodando profundamente. Aurora havia mencionado que viu alguém dentro do sanatório. Era praticamente impossível, ou era o que eu pensava. A imagem da estrutura em ruínas e os ecos de sussurros estranhos ainda estavam gravados na minha mente, como um eco persistente.

Cheguei em casa e encontrei Summer, minha garotinha, brincando na sua casinha de boneca. Ela virou o rosto e deu um largo sorriso, vindo correndo na minha direção e pulando no meu colo.

— Você chegou tarde! Aonde você estava? Você prometeu brincar comigo! Você se esqueceu, DexDex?

— Claro que não me esqueci, meu amor. Apenas estava muito ocupado — respondi, tentando ocultar a tensão que me consumia. As palavras saíram de mim como um eco, mas, na verdade, eu estava perdido em pensamentos sobre o que poderia ter ocorrido no sanatório.

— Papai e mamãe saíram. Eles foram jantar na casa do senhor Wisley. Só está a senhorita Morgan aqui comigo.

— É mesmo? Que pena — fiz uma cara triste. — Mas sabe o que é bom nisso? Podemos comer chocolate à vontade.

Summer abriu um sorriso tão grande que poderia sair do seu rosto se quisesse. Pulou do meu colo e correu para a cozinha, mas parou e se virou para mim, colocando o dedo na boca, pedindo silêncio.

Subi direto para o meu quarto, destranquei a porta com a minha digital e joguei a bolsa em cima da cama. Fui direto para o computador. A luz da tela iluminou meu rosto e comecei a pesquisar sobre o sanatório. A cada texto que desbloqueava, descobria atrocidades terríveis, quase impossíveis para um ser humano. Mas alguns textos estavam trancados com senha.

— Olha quem fez isso aqui! Fez um ótimo trabalho. Por pouco não consigo — pensei comigo mesmo. Então algo me chamou a atenção.

Entre a enxurrada de arquivos criptografados e pastas sem nome, havia uma que parecia diferente. Não seguia o padrão dos outros documentos confidenciais. Estava completamente fora de lugar, marcada apenas por um código: C24-AZ, e um símbolo estranho, como uma assinatura tremida.

Hesitei por um momento mas, os dedos pairando sobre as teclas. Eu sabia que, se continuasse, atravessaria uma linha da qual não haveria volta. Mas a curiosidade era mais forte. Respirando fundo, acessei o arquivo. Em segundos, a tela encheu-se de imagens antigas, manchetes que haviam desaparecido dos registros públicos, vídeos que nunca foram ao ar. E, em meio a tudo aquilo, ele encontrou o relato sobre três crianças que nunca foram encontradas.

Era impossível. Aquele caso havia sido arquivado, lacrado sob ordens diretas de segurança nacional. A voz de Dex saiu quase inaudível, um murmúrio surpreso:

— Puta merda, Aurora vai pirar com isso. Mas isso já não é problema meu.

Salvei rapidamente os arquivos no pen drive e os encaminhei para Aurora. Sabia que ela ia surtar; afinal, conheço a Aurora desde criança, muito antes dela se mudar. De repente, ouvi batidas na porta e uma voz fina e doce chamando meu nome, ou melhor, meu apelido.

— DexDex! Papai e mamãe chegaram. Eles pediram pra você descer.

Caminhei em direção à porta e a abri, quase caindo pra trás com a cena que vi: Summer estava com a cara toda cheia de chocolate.

Com o sorriso mais sincero que pude dar, perguntei:

— Você acha que conseguiu enganar eles falando que não comeu chocolate?

Aurora me olhou confusa, mas respondeu:

— Sim, eles nem perceberam!

— Avise a mamãe que eu vou descer, mas vou demorar um pouco. Estou resolvendo uns trabalhos da escola.

[..]

Shadows in the watersOnde histórias criam vida. Descubra agora