Atenção: o capítulo abaixo possui violência física,verbal e psicológica,não recomendado para leitores sensíveis.
Ao chegarem em casa após o jantar com os Andrades, o silêncio de Lucas pairava sobre eles como uma ameaça invisível. Cintia sentia a tensão no ar, e seu coração acelerava, tentando se preparar para o que sabia que estava por vir. Ela conhecia bem aquele silêncio carregado de ciúmes e desconfiança e sabia que, a qualquer momento, ele poderia explodir.
De repente, Lucas a encarou com um olhar furioso e rompeu o silêncio.
— O que você e Isabela tanto conversaram? Está achando que pode me fazer de idiota? — ele gritou, aproximando-se rapidamente. A voz, repleta de ciúme e acusações, fazia com que Cintia se encolhesse.
Antes que pudesse responder, ele agarrou seu braço com força, apertando-o até que a dor começasse a latejar. Cintia tentou se afastar, mas ele não afrouxou o aperto.
— Você acha que pode agir assim? Quer me envergonhar? — disparou com um olhar ameaçador.
Num acesso de raiva, ele levantou a mão e deu-lhe um tapa no rosto. O impacto e a dor fizeram com que Cintia perdesse o equilíbrio. Ela cambaleou para trás, mas antes que pudesse se recompor, ele a empurrou com brutalidade. O corpo dela bateu contra uma mesinha próxima, que se quebrou sob o peso, espalhando estilhaços pelo chão.
Cintia ficou ali caída, com o rosto ardendo e o braço dolorido, sentindo a humilhação e a tristeza se misturarem à dor física. Ela olhou para Lucas, mas tudo o que viu foi um olhar de desprezo e frieza. Sabia que, naquele momento, qualquer palavra poderia piorar a situação, então permaneceu em silêncio, segurando as lágrimas que teimavam em vir.
Lucas respirou fundo, lançou-lhe um último olhar de reprovação e, sem dizer mais nada, afastou-se, deixando-a sozinha no chão, cercada pelos pedaços daquela noite partida.
Cintia permaneceu no chão por horas, a dor física misturando-se com o peso emocional que a deixava paralisada. O silêncio da casa era quase ensurdecedor, e a sensação de abandono a envolvia como um véu sombrio. Ela tentou mexer o braço, mas o simples movimento trazia uma dor aguda. Não sabia ao certo se era o corpo ou a alma que pesava mais.
A noite cedeu lugar ao amanhecer, e ainda assim, Lucas não apareceu. Era como se ele tivesse decidido ignorar a própria violência, deixando-a sozinha para lidar com as consequências. Aos poucos, Cintia reuniu forças para se levantar, apoiando-se em uma mesa próxima. O corpo inteiro protestava, os músculos doloridos, as manchas arroxeadas começando a se revelar com mais clareza na luz fraca da manhã.
Ela caminhou até o banheiro, sentindo-se como um fantasma. Quando finalmente se olhou no espelho, mal reconheceu a mulher refletida ali. Os olhos, antes brilhantes e cheios de vida, agora estavam vermelhos e inchados. No rosto, o leve inchaço onde ele havia batido começava a marcar.
Ela ergueu a manga do roupão, revelando as manchas roxas espalhadas pelo braço. Seus dedos trêmulos passaram de leve pelas marcas, e uma dor profunda tomou conta dela, mais intensa do que qualquer dor física. Em seguida, abaixou o olhar e percebeu as marcas também nas coxas, denunciando o quanto sua vulnerabilidade havia sido explorada. Cada hematoma parecia gritar, como cicatrizes visíveis de sua impotência diante daquela situação.
Ao ver seu reflexo, Cintia sentiu uma profunda desconexão com a imagem que via. Era como se, em algum lugar ao longo daquele caminho doloroso, tivesse perdido a si mesma. Lágrimas silenciosas desciam por seu rosto enquanto ela murmurava para si mesma, tentando entender como havia chegado a esse ponto.
Cintia havia passado duas semanas trancada em casa, mergulhada em um silêncio angustiante. Lucas a observava, mas não trocavam uma única palavra. O ambiente tornara-se insuportável, como se um abismo tivesse se formado entre eles, e Cintia se sentia cada vez mais isolada. Seus seguidores começaram a questionar a falta de vídeos e postagens, e até Isabela notou a ausência de novos conteúdos, mas preferiu não tocar no assunto, respeitando a necessidade aparente de privacidade da amiga.
Naquela manhã, Cintia decidiu que era hora de sair. Precisava de um pouco de ar fresco, de um respiro longe das quatro paredes que a sufocavam. Optou por passear pelo parque do condomínio, um lugar que antes lhe trazia paz. Enquanto caminhava, a luz do sol filtrava-se pelas folhas, e o canto dos pássaros tentava quebrar a tensão que a acompanhava.
Foi nesse momento que, ao dobrar uma esquina, avistou Isabela sentada em um banco. A jovem estava com um livro, mas logo ergueu o olhar ao ver Cintia se aproximando. Um sorriso iluminou seu rosto, trazendo um pequeno conforto ao coração angustiado de Cintia.
— Olá, Senhorita Chagas! Quanto tempo! Você está bem? — perguntou Isabela, levantando-se e indo até ela.
Cintia hesitou, tentando forçar um sorriso que não saiu.
— Oi, Isabela. Estou… só precisando de um tempo para mim — respondeu, a voz vacilante.
— Eu entendo — disse Isabela, a preocupação se estampando em seu rosto. — Mas você não precisa ficar sozinha. Quer caminhar comigo? O parque está lindo hoje.
Cintia sentiu um frio na barriga. A proposta era tentadora, mas a ideia de ser vista com outra pessoa a fazia tremer. O medo a dominava, e ela lembrava das discussões e da forma como Lucas a controlava.
— Não, obrigada. Eu… estou bem aqui — Cintia disse, sua voz tremendo.
— Por favor, Cintia — insistiu Isabela, mantendo uma distância respeitosa. — Só uma caminhada. Às vezes, falar ajuda a clarear a mente.
As palavras de Isabela penetraram sua armadura emocional. Cintia tremeu, as lágrimas ameaçando escapar.
— Eu realmente vou negar dessa vez,mas obrigada — respondeu mais confiante.
— Se precisar de amiga,sabe onde encontrar — ofereceu um sorriso cordial.
Cintia se virou rapidamente, preocupada para não ser vista com Isabela. A presença da jovem despertava sentimentos confusos que ela tentava reprimir. Sentia-se culpada por gostar do jeito descontraído e confiante de Isabela, algo que parecia tão distante da realidade que vivia com Lucas.
“Ela é mais nova, e uma mulher”, pensou Cintia, reprimindo qualquer impulso que poderia levá-la a se abrir para Isabela. Era um emaranhado de sentimentos que a deixava angustiada. O olhar atencioso de Isabela fazia seu coração acelerar, e isso a deixava ainda mais ansiosa.
“Não posso me sentir assim”, sussurrou para si mesma, lembrando-se do que Lucas diria se soubesse. Ela não queria dar mais um motivo para o marido ficar ainda mais irritado. Cintia já se sentia envergonhada o suficiente por não conseguir manter as aparências de uma vida perfeita. O medo da reação de Lucas, especialmente ao considerar sua orientação sexual, a paralisava. Para ele, qualquer coisa que escapasse de sua ideia de controle e normalidade era inaceitável.
Enquanto pensava nisso, um frio percorreu sua espinha. Cintia se lembrou das discussões que tinham, das palavras duras que Lucas usava quando se sentia ameaçado. Ele não suportaria a ideia de que ela pudesse ter qualquer tipo de amizade ou conexão com outra mulher, ainda mais com alguém tão jovem e atraente. A simples ideia de ser vista com Isabela era suficiente para que ela se sentisse em perigo.
Cintia respirou fundo, tentando afastar esses pensamentos. "Eu só preciso ficar sozinha", disse a si mesma, enquanto se afastava lentamente. A verdade é que, embora desejasse a companhia de Isabela, o medo do que poderia acontecer caso Lucas descobrisse a deixava imobilizada.
Ela seguiu seu caminho, a mente cheia de conflitos. A atração que sentia por Isabela era uma questão que nunca havia considerado antes, e agora se sentia perdida, sem saber como lidar com isso. O parque, que antes parecia um refúgio, agora se tornava um lugar de incertezas e confusão, refletindo a tempestade interna que Cintia tentava conter.
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Amor proibido
Romanceconservadora,submissa,bolsonarista...essa é Cintia Chagas,casada com Lucas Bove um político do Rio De Janeiro,tudo é perfeito até os casos de agressões virem a público. essa é uma história onde Cintia Chagas encontra o amor onde mais ela depositava...