2⁰ capítulo

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Após o treino, Cintia voltou para casa e se sentou em seu elegante escritório, um espaço decorado com cores suaves e minimalistas, ideal para gravar seus vídeos e fazer suas publicações. Como influencer digital, seu perfil era focado em dicas de etiqueta, ensinando seus seguidores a se portarem e falarem com elegância em diversas situações. Ela passou algum tempo adiantando o conteúdo, planejando os próximos vídeos e respondendo aos comentários de seu público fiel. Havia uma satisfação profissional naquele trabalho, mas algo em sua mente continuava voltando para o estranho encontro na academia mais cedo.

Algumas horas depois, Cintia decidiu sair para tomar um café com suas amigas. Embora chamá-las de "amigas" talvez fosse exagero, já que as conversas entre elas sempre giravam em torno de assuntos superficiais — moda, eventos sociais e fofocas locais —, ela mantinha esses encontros como parte de sua vida social bem calculada.

Elas se encontraram em um café elegante, conhecido por suas mesinhas ao ar livre e ambiente sofisticado. Cintia, como de costume, ouviu as histórias das outras mulheres com atenção educada, mas sem grande interesse. O diálogo fluía com leveza, mas sem profundidade, e Cintia se pegou mais uma vez refletindo sobre o quanto aquelas relações eram mais convenções sociais do que amizades verdadeiras.

No entanto, no meio de uma conversa sobre a última festa da alta sociedade, Cintia a viu novamente. A mesma garota da academia. Desta vez, ela estava diferente. Usava um terno azul escuro bem ajustado, que ressaltava ainda mais sua postura confiante. Carregava uma maleta preta discreta, e, ao entrar no café, pediu um expresso rápido no balcão. Cintia não conseguia desviar o olhar enquanto a observava se sentar em uma mesa próxima e tirar um notebook da maleta. A jovem começou a trabalhar, seus dedos ágeis no teclado, o cenho levemente franzido, como se estivesse completamente absorvida no que fazia.

As conversas à mesa de Cintia continuaram, mas ela mal conseguia se concentrar. As palavras das outras mulheres se tornaram ruído de fundo enquanto sua atenção era completamente capturada pela garota de terno. Cintia observava cada movimento: a maneira como ela arqueava as sobrancelhas enquanto lia algo na tela, o jeito como levava a xícara aos lábios com precisão. A cada segundo, sua curiosidade crescia.

Foi então que a garota pareceu sentir o olhar de Cintia sobre ela. Sem levantar a cabeça, ela moveu os olhos lentamente até encontrar os de Cintia. Houve um instante de tensão. A garota parou de digitar e, em um gesto casual, piscou para Cintia com um sorriso de canto, como se estivesse ciente do fascínio que exercia sobre ela.

Cintia, completamente pega de surpresa, sentiu o rosto corar imediatamente. Desviou o olhar, tentando disfarçar, mas era tarde demais. O coração dela disparou, e, de repente, as conversas fúteis ao seu redor pareciam ainda mais distantes. As risadas e comentários das amigas mal registravam em sua mente. Tudo o que ela conseguia pensar era na garota — quem era ela? Por que estava aparecendo em sua vida de forma tão misteriosa? E, acima de tudo, por que Cintia estava tão profundamente afetada por sua presença?

Enquanto as outras mulheres continuavam a conversar, Cintia, agora envergonhada e inquieta, não conseguia mais prestar atenção. Algo dentro dela, uma mistura de curiosidade e atração, começava a ganhar força, e, naquele momento, ela sabia que não conseguiria simplesmente ignorar a garota misteriosa que tinha capturado sua atenção mais uma vez.

Uma semana havia se passado desde o último encontro no café, e, para Cintia, o fato de não ter visto mais a garota misteriosa era um alívio. Ela tentava convencer a si mesma de que era melhor assim. Não havia espaço em sua vida para distrações, ainda mais com Lucas voltando de viagem. Ele havia chegado há três dias e, para sua surpresa, estava mais carinhoso do que nunca. A tensão que pairava entre eles antes de sua viagem parecia ter desaparecido, ao menos temporariamente. Eles até haviam feito amor na noite anterior, algo que não acontecia com tanta frequência, dada a pressão das campanhas e compromissos sociais.

Agora, no entanto, Cintia estava focada em outro evento importante. Ela se preparava para um jantar na casa dos Andrades, uma das famílias mais influentes no mundo político e financeiro, com negócios que iam além das fronteiras do Brasil, incluindo ações internacionais e propriedades de bancos. O convite não era apenas uma cortesia; era um evento estratégico, onde conexões poderosas seriam reforçadas, e Cintia sabia da importância de manter as aparências e fortalecer alianças para a futura campanha de Lucas.

No espelho de seu luxuoso closet, Cintia ajustava o vestido de seda preta que havia escolhido para a noite. Era uma peça discreta, mas elegante, transmitindo poder e sofisticação sem exageros. Ela prendeu o cabelo em um coque baixo e escolheu joias mínimas, deixando apenas um par de brincos de diamantes pendurados discretamente em suas orelhas.

Lucas entrou no quarto logo depois, já vestido com um terno escuro perfeitamente alinhado. Ele se aproximou de Cintia e beijou sua nuca, observando o reflexo dela no espelho.

— Você está deslumbrante, como sempre — disse ele, sua voz suave, mas carregada de confiança. Cintia sorriu de leve, grata pelo elogio, mas ainda havia uma pequena parte dela que se sentia distante, mesmo com toda a atenção que ele vinha dando ultimamente.

— Espero que tudo corra bem hoje à noite — comentou ela, ajustando o batom vermelho nos lábios — Os Andrades são cruciais para nossa campanha.

Lucas assentiu, seu rosto assumindo a expressão séria que ele sempre tinha quando o assunto era política.

— Eles serão. Essa noite é mais do que um jantar, Cintia. É uma oportunidade de garantir que estamos ao lado das pessoas certas.

Ela sabia disso. A noite seria cheia de sorrisos calculados, conversas cheias de subtexto, e promessas veladas. Cintia estava acostumada com esse jogo, embora, às vezes, se pegasse cansada da superficialidade de tudo. Mesmo assim, ela colocaria sua melhor face em cena, como sempre fazia.

— Pronta?— perguntou Lucas, oferecendo o braço.

Cintia respirou fundo, ajustou a postura e, com um último olhar no espelho, pegou a bolsa de mão.

— Sempre — respondeu ela, com um sorriso que escondia tudo o que ela realmente sentia.

Juntos, eles saíram para mais uma noite de alianças e expectativas políticas, onde o destino de suas ambições estava em jogo.

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