Capítulo 2: Alice

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Olhei para Cíntia que brincava sobre a grama enquanto esperávamos mamãe para irmos a casa dos nosso avós.

Fechei meus olhos e respirei fundo. Vi chuva, mamãe, Cíntia e eu rindo e correndo tentando chegar ao coche a tempo...

-Mary Alice? -Abri meus olhos e mamãe sorriu. -Guarda-chuva ou não?

Sorri grande. Mamãe não me chamava de maluca como muitos por ai. Ela acreditava em mim.

-Vai chover! -Falei sorrindo e ela pegou três guarda-chuvas.

Os anos foram passando. Sempre eu tinha minhas previsões, mas, entre elas eu sempre os via. Um loiro que era simplesmente a perfeição em pessoa e uma família que eu já amava mesmo sem conhecer.

Foi então que tudo aquilo que eu via começou a me dar pânico. Primeiro, vi uma amiga minha sendo torturada pelo seu pretendente. Eu contei a ela, mas, ela casou assim mesmo. Claro que ela culpou a mim. Eu havia amaldiçoado seu casamento. Minha família era motivo de chacota. Eram conhecidos como os Brandon, família da louca.

Acabei guardando as coisas pra mim depois que alertei a morte do meu primo Joshua. Todos disseram que eu agourei sua viagem e por isso ele morreu. Desde então eu não podia mais sair de casa.

Quando completei meus 18 anos, meus pais cismaram que eu tinha que casar. Íamos a bailes, mas, eu sabia que nenhum deles iria me querer. Afinal eu era uma bruxa.

Numa destas festas eu peguei meu pai aos beijos com uma garota mais nova que eu.

Ele tinha a mão por debaixo da saia dela assim como a mão dela estava por dentro de sua calça.

Ele me viu olhando e correu atrás de mim. Naquela noite eu apanhei dele e não dormir depois de ver o que eu vi. Mamãe morta depois de ser perseguida quando voltava da casa da minha avó.

Os dias foram passando e assim que meu pai saiu de viagem, mamãe recebeu um telefonema dizendo que vovó precisava dela. Eu chorei, gritei e implorei para que mamãe não fosse. Ela ficou assustada quando eu disse que sempre via ela morrendo.

Quando meu pai chegou, estávamos escondidas no quarto. Ele me bateu muito. Mamãe acabou indo e logo descobriram seu corpo na mata. Eu fiquei desolada. Mas, fazia apenas dois dias de seu enterro quando ele me levou para uma consulta com o Dr. Denver. Ele me fez várias perguntas e me receitou remédios que sempre me deixavam cansada demais. Mas, as visões ainda estavam ali.

Numa delas eu vi meu pai pagando o homem que matou minha mãe. Foi Quando eu parei de tomar os remédios. Falei tudo para a polícia que apenas riu quando meu pai chegou com o Dr. Denver e disseram que eu tinha problemas mentais.

Naquela mesma noite eu fui levada para o Bilox Asillyum Medical.

-Papai! Por favor! Não faz isso! -Chorei enquanto ele andava de um lado para o outro na sala.

-Você não me deu escolhas, Mary Alice!

-VOCÊ MANDOU MATAR A MINHA MÃE! -Gritei a plenos pulmões e senti o impacto do golpe em meu rosto.

-Era para ser você, vadiazinha! -Ele falou com ódio. -Você sempre atrapalhou nossas vidas. Mas, isso não vai acontecer mais!

Assim que ele terminou de falar, três homens me agarraram e me levaram dali. Eu gritava e me debatia como podia.

Eles me jogaram num quarto de qualquer jeito e saíram. Eu batia na porta, gritava e implorava para que me tirassem dali. Minhas mãos ficaram machucadas de tanto que eu batia na porta.

Até que eu cansei. Deitei numa pequena cama e fechei meus olhos. A porta se abriu e uma mulher e dois homens passaram por elas. Tentei levantar, mas, os homens me seguraram. A mulher, uma enfermeira eu acho, aplicou algo em meu braço. Eu sentia meu corpo mole. Me sentaram numa cadeira e eu chorei copiosamente quando cortaram meus cabelos.

Os dias foram passando e eu me sentia cada vez mais fraca. Eu tinha uma espécie de diário em que relatava meus dias. Mas, não era sempre que eu tinha disposição para escrever, então acabei deixando pra lá.

Um ano se passou e então eu arrumei um amigo. Matarazzo vinha me ver todos os dias. Ele era um italiano que estava na América desde muito novo. Segundo ele, já tinha vivido demais e estava agora trabalhando naquele sanatório. Ele não entendi a como meu pai simplesmente me deixara ali. Para ele, filhos deveriam ser uma bênção apesar dele jamais ter sido pai.

Numa noite fria de Janeiro ele me contou quem ele era. Vampiro. Por mais que eu quisesse ter medo, não conseguia. Estava cansada demais até para me assustar ao ficar sabendo que tudo aquilo que julguei não existir era verdade.

Ele me contava suas aventuras e apenas isso me fazia ter alguma esperança no que quer que fosse. Os meses foram passando e numa noite eu voltei a ter visões. Porem, via a mim caçando humanos. Duas moças que me temiam como temiam ao diabo.

Gritei e acabei na mesa para os choques elétricos.

Durante eles, minha mente simplesmente apagou. Era como se nada existisse. E nada existia. Apenas eu e o loiro lindo que me jurava seu amor.

-Querida? Olhe pra mim! -Um homem me chamou. -Alice?

-Alice? -Repeti confusa. Este nome me era familiar, mas, eu não sabia de onde.

-Sim... Seu nome é Alice, querida.

Sorri me sentindo estranha.

-Alice... Gosto desse nome.

Ele me olhou em desgosto.

-O que fizeram com você, minha pequena? Te tiraram até a liberdade de ser você mesma!

O olhei sem entender. O que ele estava querendo dizer com isso?

Os dias foram passando. Todas as noites Matarazzo aparecia. Sempre me trazia alguma comida, roupas ou mesmo folhas de papel e lápis. Eu amava desenhar. Meus desenhos sempre se resumiram a pessoas que eu via sempre que dormia. Creio que eram anjos que me velavam o sono neste lugar tão sombrio.

-Vamos dar um passeio? -Matarazzo chegou me trazendo um casaco.

-O que? Você sabe que eu não posso sair daqui.

-Ninguém nos verá, pequena! Vamos!

Me animei. Não sei ao certo quanto tempo, mas, sei que fazia bastante tempo que eu não saía dali.

Assim que senti a brisa fria sorri. Era uma sensação que eu jamais fui capaz de sentir. Meu corpo tremeu e do nada imagens vieram a minha mente.

Antes que eu pudesse agir, senti algo fincando em meu pescoço. Arfei e de repente senti meu corpo ser lançado. Uma pancada em minha cabeça e uma dor em meu corpo. Parecia que eu estava em chamas.

Mas, meu corpo simplesmente não se movia. Por mais que eu quisesse gritar eu não conseguia. Estava presa em mim mesma sentindo aquela dor que me consumia.

Até que ele apareceu. Meu anjo de cabelos loiros e olhos vermelhos. Sempre imaginei que anjos tivessem os olhos azuis, mas, lá estava ele com olhos vermelhos sangue. Aos outros isso poderia ser assustador, mas, para mim já era algo tão natural dele que não me incomodava. E então os outros apareceram. Seus olhos eram dourados. Devia ser outra categoria de anjos. Eles corriam e riam. Estavam brincando.

Eram cinco. Dois casais e um rapaz. E então, lá estávamos o anjo e eu. De mãos dadas correndo com eles. Nossos olhos dourados. Estávamos felizes.

Foi então que senti meu corpo parar. Ou melhor, tudo nele era silêncio.

Sentei e...

Ele entrou num lugar. Meu anjo estava com olhos negros e por algum motivo isso era ruim.

Me aproximei e ele me olhou com receio.

-Me deixou esperando um bom tempo! -Falei sorrindo e ele pareceu relaxar, por que também sorriu.

-Minhas desculpas, senhora.

-Me chame de Alice!

Ele sorriu me cumprimentando com um beijo na mão.

-Me chame de Jasper.

Meu Jasper... E eu gosto do nome Alice.

Você É O Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora