Capítulo 1: Jasper

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Eu jamais sonhei em ser um soldado. Sempre pensei que um dia teria minha Fazenda, uma esposa que eu amasse e filhos que me enchessem de orgulho. Mas, assim que notei o quanto meu pai estava aflito, percebi que eu não tinha por onde correr. Aliás, nossa família não tinha para onde fugir.

Deixei claro aos meus familiares, que estava indo para a guerra. Mamãe quase tem um ataque de tanto chorar, mas, era necessário. Seria meu pai ou eu. E sem dúvida que eu não permitiria que ele fosse.

Foram semanas até que eu conseguisse escapar, fugir, de casa para poder me unir ao Exército Confederado. Eu não poderia ir embora com uma despedida. Meu pai até estava orgulhoso, mas, mamãe estava irredutível. Meus pais, Meredith e Joseph Withlock, sempre foram pais amáveis. Eu tinha uma irmã. A pequena Donna. Mas, ela morrera há algum tempo depois de contrair uma grave infecção. Meus pais, não só eles como eu também, ficamos completamente devastados. Foram meses e mais meses tentando nos reerguer quando a Guerra Civil explodiu. Passou dois anos antes que a carta de convocação chegasse e agora eu estava aqui. Aos meus 17 anos, que eles acham que tenho 20, como o mais jovem Major da cavalaria do Texas.

Não me arrependo nenhum pouco das escolhas que me trouxeram até aqui. Tudo bem que a guerra de glorioso não tem nada, mas, saber que algumas pessoas estão vivas por minha causa tem lá sua alegria.

O campo era intenso. Fui baleado três vezes, sobrevivendo a todas elas. Mesmo que quisessem me mandar de volta, eu sempre fui muito bom em convencer as pessoas. Meu pai costuma dizer que eu tenho um carisma inegável que sempre faz com que as pessoas ao meu redor atendam aos meus pedidos.

Fui prolongando minha estadia até que os anos foram passando e significando alguma coisa. Já como Major, cheguei a visitar meus pais. Eles quase me bateram, mas, ao ver que eu estava vivo e bem, decidiram que não me impediriam mais. Até porque eu já tinha idade suficiente para seguir com minhas próprias pernas.

Nessa breve estadia eu conheci uma moça. Ela era linda, mas, seu corpo e seus atos gritavam que ela não era bem uma moça para casamentos.

Com 18 anos eu perdi a virgindade. Meus amigos de tropa, apenas aqueles sabiam que eu jamais tinha estado com uma mulher, quase soltaram fógos. Confessaram que por um momento acreditaram que eu era um maricas que gostava de homens. A moça se chamava Wendy. Estava escondida numa Fazenda próxima a casa dos meus pais. Nos encontramos algumas vezes até que eu tive que voltar.

E então mais um ferimento. Um tiro de raspão em meu braço esquerdo. Completei meus 19 anos em campo matando meus inimigos e tentando não morrer sendo acertado por eles. Meu braço ainda não estava totalmente curado, mas, já não incomodava tanto.

Haviam os tempos da guerra. Tempos em que o embate era total, sossego não poderíamos nem pensar nisso. Sempre estávamos em campo. Comíamos pouco, dormíamos menos ainda, mas, estávamos sempre prontos para lutar pelos nossos ideais. Foi então que eu comecei a me cansar daquilo tudo. Se eu vi glória no começo agora via apenas, dor, agonia e sofrimento. Antes eu não gostava nem de pensar, mas, vivendo tudo isso, percebo que foi melhor eu vir do que permitir que meu pai sofresse essas coisas. E o conhecendo como conheço, sei que ele não duraria muito.

Uma bomba soou forte bem perto de onde eu estava me trazendo de volta a realidade. Corri no sentido contrário e me joguei atrás de uma enorme pedra. Vi dois dos meus amigos caírem mortos e rosnei.

Lágrimas nublavam meus olhos. Essa era a primeira vez que eu chorava desde que cheguei aqui. Permaneci escondido como um covarde. Ouvia os gritos de socorro, ouvia os gemidos de dor... Eu ouvia tudo!

Mas, nenhum músculo meu se movia. Era como se eu tivesse me fundido àquela rocha na qual eu me escondi. Eu estava apenas deixando que a dor, ou ao menos parte bem pequena dela, saísse de mim em forma de lágrimas.

Assim que notei que os tiros e bombardeios cessaram, sai do meu esconderijo e corri o mais rápido que pude daquele lugar. Ao chegar as tendas, me lavei como pude e logo estava em missão novamente. Eu teria que levar mulheres e crianças até Galveston. Seria uma longa noite evacuando a cidade que estava lastimavelmente em ruínas.

Passava das três da manhã quando eu voltava para Houston. Precisava buscar mais um grupo para levar para um abrigo seguro.

Foi quando eu vi três mulheres. Creio que jamais vi mulheres mais belas que aquelas. A pele era tão perfeitamente pálida que mesmo a luz da lua ela brilhava.

Todos os pelos do meu corpo eriçaram. Senti um calafrio percorrer meu corpo. O mesmo medo que sentira mais cedo ao ver meus amigos morrerem estava ali agora. Mais fraco, mas, presente em mim.

Ignorando qualquer apelo racional que eu pudesse ter, desci do meu cavalo e as cumprimentei.

-Senhoras. -Falei em reverência. Mesmo que elas sejam fantasmas ou sei lá o que, fui educado para ser totalmente gentil com mulheres.

-Percebem isso? -Uma delas, a morena mais alta perguntou. -Ele tem algo a mais.

Eu não entendi a bem o que elas conversavam. Ainda estava pensando se as ajudava ou se corria dali gritando por ajuda.

-Sim... Eu sei. Melhor você fazer isso, Maria. Eu os devoro mais do que os deixo vivos.

-Vão caçar por aí... Eu farei isto.

As duas outras mulheres, a morena mais alta e a loira que falou algo sobre matar ou deixar vivo, saíram numa velocidade que nem meus olhos, sempre muito perspicazes, foram capazes de seguir o ritmo.

A morena mais baixa, Maria se não me engano, se aproximou de mim. Olhou em meus olhos e eu arfei ao ver seus olhos vermelhos sangue.

-Quem é você? -Ela me questionou numa voz aveludada e totalmente sensual.

-Major Jasper Withlock, senhora.

-Nossa! Um major... Espero que sobreviva. Você pode ser importante demais para mim.

Tendo dito isso ela se aproximou beijando rapidamente meus lábios, mas, antes que pudesse afastá-la, seus dentes fincaram em meu pescoço. Gemi de dor, mas, ela não parou. Senti meus olhos se fechando, mas, quando penso que a morte finalmente se penalizou de mim e veio me buscar, sinto uma dor que jamais julguei ser possível sentir.

Todo meu corpo ardia em brasas. Então ela estava queimando meu corpo?

Até que um grito ensurdecedor saiu de meus lábios enquanto meu corpo inteiro se contorcia sobre o chão frio.

Que tipo de tortura era essa?

Por que não me matar de uma vez?

-POR FAVOR! ME MATE! ACABE COM ISSO! ME MATE!

Eu gritava implorando pela morte. Mas, ouvia apenas risos e algo como eu ter que suportar e isso me daria a eternidade.

Não sei ao certo quanto tempo se passou. Sei apenas que a dor saiu dos meus pés e mãos, mas, agora se concentrava em meu peito. Bem em meu coração.

-Está acabando... Trouxe o que pedi? -Alguém perguntou e eu só consegui sentir alívio pelo fato da morte estar perto.

-Sim. Dez mulheres como me pediu. Um verdadeiro banquete para o nosso Major.

Hein? Mesmo sem entender muito o que acontecia senti que meu corpo estava terminando a sua tortura.

Meu coração pareceu galopar até que mais nada. Ele já não batia, mas, eu tinha plena consciência do que acontecia a minha volta.

Podia ouvir coisas ao longe. Um riacho que parecia a quilômetros de distância, dez choros contidos que me passavam o pânico que sentiam, orgulho, surpresa...

Abri meus olhos e assim que pensei em ficar de pé já estava correndo na direção do cheiro que me era completamente atrativo. Arranquei a porta do galpão de uma vez e me surpreendi. Mas, antes que eu me distraisse uma das mulheres gritou. Rosnei e logo ela estava em meus braços. Seu sangue era delicioso e eu tinha plena consciência do que estava fazendo. As dez mulheres jaziam aos meus pés quando ouvi aplausos. Me virei e as três sorriram.

-O que você fez comigo? -Perguntei e estranhei minha voz. Parecia melodiosa.

-Bem-vindo a vida de vampiro, Major Jasper!

E então começou a minha nova vida!

Você É O Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora