Lua e Sangue

2. Nós somos diferentes

Semanas de solidão profunda consumiam Yoko, mas ela se agarrava ao fio de esperança de que Yuri ainda estivesse vivo. Seu irmão sempre fora um visionário, ele não compartilhava do ódio contra os vampiros. Ao contrário, acreditava que era possível estabelecer um bom convívio, evitando uma guerra iminente. Yoko se perguntava, o que poderia ter levado alguém a ceifar a vida de um lobo tão bom e espirituoso e, talvez, tenha almejado iniciar um diálogo com os vampiros e não obteve sucesso.

Em sua mente, a imagem da líder dos vampiros surgia como uma figura arrogante, desprovida de beleza, com uma sede insaciável por sangue. Só de pensar em suas presas afiadas cravadas no corpo de seu irmão, seu estômago revirava. A cada detalhe que imaginava, a pele pálida e mórbida, os olhos escuros e frios, o nojo tomava conta dela. Enquanto Yoko permanecia cabisbaixa e perdida em seus pensamentos, Neko, uma jovem loba que acompanhava de perto o sofrimento da família Apasra, se aproximou e sentou ao seu lado para confortar a jovem.

__Eu sinto muito, Yoko. Yuri era um verdadeiro cavalheiro e um exemplo para nossa alcateia.

__Ele era diferente.

__Nós somos diferentes.

Neko tinha 18 anos e ainda não havia se unido a nenhum lobo, como Yoko, ela era uma ovelha desgarrada das tradições. De longe, observava Yoko e se inspirava na sua resiliência, a jovem loba chamava atenção por sua força e independência, Yuri a incentivou a ser ela mesma e ninguém podia tirar isso dela. Yoko lançou um olhar curioso para a garota ao seu lado, tentando decifrar algum detalhe ou pista que tinha deixado passar.

__Alguns de nós pensamos de forma diferente do restante da alcateia e isso não deve ser motivo de vergonha, mas de orgulho. Isso está em nosso sangue, nós somos a mudança.

__Enfim alguém que pensa como eu! Que mudança?

__Você e eu ainda não passamos pelo imprinting. Há lobos sem vínculo, mas nós ainda não nos conectamos, e você sabe que essa ligação é essencial para a continuidade da nossa espécie. Sem ela... pode significar o nosso fim.

__Eu realmente não gosto de ninguém, meu coração não está aqui.

__É isso que estou te falando. Nosso imprinting pode não estar aqui na nossa tribo.

__O que sugere?

__Estamos sendo sufocadas. Nossa natureza não quer que fiquemos por aqui, nossa conexão pode estar em outras terras... em outra espécie.

__Isso é impossível!

__Seria uma surpresa e tanto descobrir que nossa natureza quer diversificar.

__Você acha que Yuri pode... ter encontrado outra conexão?

__É o que eu penso, mas demorei dias para te contar. Na verdade, eu poderia ser expulsa só por sugerir isso, mas percebi que você é como eu, com a mente aberta. Por favor, não conte a ninguém o que te disse. Nem todos estão prontos para aceitar uma perspectiva diferente, e muitos vão lutar com unhas e dentes para defender o que acreditam.

As palavras de Neko ecoavam na mente de Yoko, refletia no que deveria fazer em seguida. Havia uma pequena chance de Yuri estar vivo e ela queria acreditar na possibilidade. Seus ouvidos atentos ouviam ao longe os planos dos alfas de sua alcateia. Além de remoer o desaparecimento de seu irmão, Yoko escutava os alfas, como se procurasse um plano somente seu, ninguém se importava tanto com o lobo como a irmã dedicada.

Depois de dias na espreita, Yoko ouviu sobre um baile no covil dos vampiros, uma ocasião festiva, em que os vampiros recebiam outros de fora do condado e traziam humanos para os servir. Yoko pensou sobre, as lobas em sua alcateia já tinham se transformado desde os 16 anos, mas ela ainda não. Culpava-se pelo atraso e queria provar seu valor para si mesma e para sua família. Queria tirar o peso de ser um ômega submisso à vontade de sua alcateia e se rebelou. Afinal, era filha do líder, a única herdeira restante.