1. Um truque da natureza

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O sol da tarde resplandecia entre as copas altas das árvores, lançando manchas douradas sobre o chão da floresta. O riso leve de Yuri, um menino de 10 anos, ecoava pelo bosque enquanto ele corria descalço, sentindo a terra sob os pés. Seus olhos azuis vibravam com a emoção da corrida. Atrás dele, sua irmã mais nova, Yoko, de apenas 5 anos, tentava acompanhá-lo com passos curtos, seus cabelos longos e castanhos balançavam enquanto ela se esforçava para não ficar para trás.

__Yuri! Me espera!

Seu uivo baixinho e raivoso a fez gritar e esboçou um bico enorme. Quando seu irmão ouviu seu choramingo estendeu a mão para a garotinha o alcançar. Yuri, com um sorriso travesso, olhava para trás, notando o quanto Yoko era fofa, a pequena ômega era sua sombra, sua melhor amiga. Para não desanimá-la a explorar a floresta, fingiu estar cansado para que ela o alcançasse.

__Vem, Yoko, você consegue! Não pode depender de mim para sempre. Vem!

Ele a incentivava, apontando para uma clareira adiante, onde o sol batia mais forte. Aquele era o lugar deles, um refúgio secreto no meio da floresta, onde as árvores formavam um círculo perfeito, como se estivessem guardando um segredo só deles. Yuri tinha apreço pela sua irmã e jurou afastar todos que tentassem se aproximar dela. Yoko era muito doce e ingênua, sempre que podia rosnava para qualquer outro de sua tribo que a olhasse.

Para ela, cada momento na floresta era uma aventura, e com Yuri ao seu lado, não havia medo, não pensava em nenhum perigo, apenas na diversão. Despercebida, uma criatura se escondia entre às sombras da árvore mais alta, observando os dois pequenos lobinhos brincarem. A jovem vampira de 14 anos gostava de se arriscar observando a vida dos lobos. Uma curiosa nata, Charlotte queria entender o que os separava, não satisfeita com a guerra secular entre lobos e vampiros.

Em um mundo paralelo, devastado por um cenário pós-apocalíptico, diferentes raças e seres dividem o planeta. Experimentos com alterações genéticas e armas biológicas levaram a humanidade a criar seres aprimorados, mas o resultado foi um completo desastre. Incapazes de controlar suas próprias criações, os humanos foram subjugados, e os poucos sobreviventes eram os betas, indivíduos comuns que se refugiavam nos restos de sua civilização, o mais distante possível dos seres modificados.

Entre essas criações estavam os lobos e os vampiros, espécies altamente evoluídas, mais fortes e resistentes do que qualquer ser humano. Surgidos de erros fatais nos experimentos, eles passaram séculos vivendo em grupos, fortalecendo seus clãs contra as tentativas de extermínio feitas pelos betas. No entanto, a disputa por território e o instinto de sobrevivência transformaram lobos e vampiros em inimigos ferozes, incapazes de tolerar o modo de vida um do outro.

Por um longo período entre as guerras, um equilíbrio de territórios foi estabelecido. Os lobos reivindicaram as florestas baixas e as vastas planícies, onde a vegetação densa e os rios sinuosos favoreciam sua natureza selvagem e territorial. Nesses ambientes, podiam se mover livremente, caçando e patrulhando cada centímetro de terra, enquanto os ventos carregavam os cheiros distantes, alertando-os de qualquer invasor ou presa.

Os vampiros, por sua vez, migraram para as montanhas e planaltos, locais de difícil acesso e onde a altitude os favorecia. As altas encostas e penhascos íngremes lhes ofereciam uma fortaleza natural. De lá, vigiavam a vasta extensão de terras que se estendia sob seus pés, como predadores à espreita. Vivendo nas montanhas, adaptaram-se ao frio cortante e ao ar rarefeito. Se algum humano ousasse tentar a longa e árdua escalada, já estaria condenado antes de chegar ao topo. Suas presas, ágeis e implacáveis, eram sempre a última coisa que suas vítimas viam.

Charlotte, que era uma exploradora, retornou ao castelo sorrateiramente e viu sua irmã com os olhos vermelhos no canto do quarto, ainda limpando a boca de uma refeição recente. Faye tinha 19 anos, uma vampira inteligente que observava a todos aprendendo a liderar seu clã. A jovem alfa era a primogênita, que se preocupava com as aventuras de sua irmã.

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