A manhã do dia seguinte chegou com uma luz pálida que filtrava através das nuvens pesadas. Aelyn acordou em sua cama improvisada de papelão, a respiração pesada e o corpo dolorido. O frio da noite ainda grudava em sua pele, e o pensamento de passar mais uma noite nas ruas a apavorava. Após ser aprovada para a vaga de faxineira, sabia que começaria a trabalhar no dia seguinte, às sete horas. O que a aguardava não era uma mudança na sua vida, mas uma nova rotina de sobrevivência.
Ao arrumar suas poucas posses na mochila, Aelyn saiu do lugar que havia sido seu abrigo temporário. As ruas ainda estavam adormecidas, mas o murmúrio da cidade começava a crescer, lembrando-a de que ela ainda estava invisível no meio de toda aquela vida.
Quando chegou à mansão, sentiu o peso da opressão do espaço imenso e vazio. A casa possuía dois andares, e sua grande porta de madeira escura parecia intimidante. Aelyn hesitou por um momento antes de pressionar a campainha. O som ecoou pela entrada, e logo uma mulher rabugenta, com um avental manchado e um olhar de desprezo, apareceu. A cozinheira a avaliou da cabeça aos pés, fazendo uma expressão de nojo ao notar sua aparência desleixada. Aelyn se sentiu ainda mais pequena sob aquele olhar.
— Você deve ser a nova faxineira — a mulher disse, com uma voz áspera. — Vem comigo.
A cozinheira a conduziu por corredores longos e vazios até um pequeno quarto no fundo da casa. O cheiro de comida e temperos se misturava ao ar fresco que entrava pela janela, mas a ausência de vida na casa era palpável. O espaço era menor do que Aelyn esperava, mas, para sua surpresa, estava bem arrumado e confortável. Um pequeno armário, uma cama simples e um banheiro só para ela. Lembrou-se da época em que dividia o banheiro do orfanato com um monte de outras crianças, e um peso aliviou um pouco seu coração angustiado. Mas essa leveza logo se dissipou, deixando apenas a frustração.
— Aqui é o seu quarto. Você vai fazer o que a casa precisar, e não vai ter muito tempo livre. É melhor não se atrasar — a cozinheira avisou, quase jogando as instruções para ela. Aelyn assentiu, tentando absorver tudo, mas a mulher já se afastava, deixando-a sozinha.
Respirando fundo, Aelyn lutou contra as lágrimas que ameaçavam brotar. Não havia ninguém ali para confortá-la ou dizer que ficaria tudo bem. A solidão a envolvia como uma capa pesada, e a familiaridade do desamparo a oprimia. Ao olhar em volta, percebeu que, embora estivesse em um lugar desconhecido, ainda tinha um espaço que poderia chamar de seu. Mas o que isso significava, realmente?
Depois de um banho quente, que parecia um luxo após dias nas ruas, Aelyn vestiu o uniforme que a cozinheira lhe entregou, um vestido simples e desgastado. O tecido era áspero em sua pele, mas ela se sentia grata por ter algo para vestir. Era um lembrete de que, apesar de sua situação, ainda havia algo para fazer, uma rotina a seguir.
Com o coração acelerado e a mente confusa, decidiu que precisava explorar a casa. Aelyn saiu do quarto e começou a caminhar pelos corredores vazios, admirando a decoração imponente, mas sentindo-se ao mesmo tempo uma intrusa naquele mundo de luxo. Os móveis eram finos, as obras de arte penduradas nas paredes pareciam contar histórias de vidas que nunca seriam dela.
Ela passava por portas entreabertas, ouvindo ecos de sua própria respiração e o distante tilintar de utensílios na cozinha. Cada som a lembrava de que ali havia uma vida pulsante, enquanto ela se sentia como um fantasma, invisível e sem valor. A sensação de inadequação a envolvia, mas, ao mesmo tempo, a determinação de não se deixar abater crescia dentro dela. Se conseguisse superar os desafios do orfanato, também poderia enfrentar este novo capítulo, mesmo que a solidão a acompanhasse a cada passo.
De repente, Aelyn se encontrou em frente a uma grande janela que dava para o jardim. A visão era deslumbrante, com flores coloridas e árvores frondosas, mas a beleza não era suficiente para afugentar a tristeza que se abatia sobre ela. No fundo, uma sensação de desespero a consumia, e ela desejou poder ser uma parte daquele mundo, em vez de ser apenas uma observadora.
Com um suspiro profundo, Aelyn se virou e decidiu que precisava se concentrar em seu trabalho. A sensação de que ninguém se importava com ela a acompanhava, e a falta de esperança a deixava ainda mais vulnerável. O peso da solidão ainda a cercava, mas, mesmo sem um objetivo claro, Aelyn estava ali, apenas seguindo o fluxo do que a vida impunha.
Ao entrar na cozinha, encontrou a cozinheira preparando o almoço, e um novo desafio começava a se desenhar à sua frente. O peso da solidão a acompanhava, mas ali estava ela, disposta a enfrentar mais um dia no ciclo interminável de sua existência.
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Ecos Do Passado
FanfictionMaraisa é uma mulher amarga e isolada, marcada por um passado doloroso que a levou a desprezar conexões humanas. Em sua vida, ela se resguarda em sua fortaleza emocional, acreditando que vulnerabilidade é fraqueza. Por outro lado, Aelyn luta contra...