Prologue.

98 19 13
                                    

Eu disse: Você acha que vai matar por mim um dia? (Sim, claro que vou, minha querida.)”

I Want It All — Lana Del Rey





𝗘𝘂 𝘀𝗲𝗺𝗽𝗿𝗲 soube que havia algo de mágico nos momentos simples.

Era final de tarde, o céu tingido de cores que pareciam ter sido pintadas à mão — laranjas, rosas e azuis suaves — quando Louis segurou minha mão com força, como se tivesse medo de me perder. O vento soprava delicadamente, brincando com as mechas do seu cabelo, e a luz dourada do sol poente envolvia nossos corpos como um abraço silencioso. O dia estava quente, embora ameno; o calor enlaçando nossos corpos como se quisesse nos manter juntos. Me lembro de cada detalhe, como se estivesse gravado a fogo na minha memória.

A grama sob nossos pés ainda estava úmida da chuva da noite anterior, mas não importava. Nada mais importava naquele momento. Estávamos ali, no centro do mundo, cercados por amigos, família, e pela certeza inabalável de que o amor era tudo de que precisávamos. Eu sentia como se não existisse mais ninguém do mundo além de nós dois.

Com Louis, eu nunca me sentia solitário.

As flores perfumavam o ar, a música embalava os corações e nossos sorrisos iluminavam o salão. Era o dia perfeito para um amor perfeito.

Ele me olhou nos olhos — seu olhar profundo, aquele azul acinzentado que sempre me fazia sentir seguro — e eu senti meu coração bater mais rápido. Louis sorriu, e aquele sorriso foi a última coisa que vi antes de nossos lábios se encontrarem, selando a promessa que estávamos fazendo naquele dia. Um beijo suave, cheio de significados que as palavras não podiam explicar. Não havia nada além de nós dois, naquele instante perfeito.

O padre mal havia terminado suas palavras quando Louis, com uma risada baixa, aproximou seu corpo e sussurrou algo no meu ouvido. Algo que me fez rir também. Sempre fora assim com ele — a sensação de estarmos compartilhando um segredo só nosso; como se o mundo inteiro desaparecesse quando estávamos juntos e nada mais importasse além de nós dois.

Nós éramos indestrutíveis, ou, pelo menos, era o que eu costumava acreditar.

O anel de casamento cintilava sob a luz das velas, um símbolo de um amor que logo seria posto à prova.

“Você me faz tão feliz, Harry,” ele dissera naquela tarde. “Eu nunca vou deixar ninguém nos separar.”

Eu podia ter jurado que o céu brilhou um pouco mais intensamente naquele momento. Meus votos foram simples, honestos, mas carregados de tudo que eu sentia:

“Com você, eu sou tudo. Sem você, eu não sou nada. Prometo que estarei ao seu lado, não importa o que aconteça.”

E naquele dia, de fato, eu acreditava que nada poderia acontecer.

O casamento foi um sonho do qual eu nunca quis acordar. A alegria, o riso, a música que flutuava no ar. Eu podia sentir tudo novamente agora, como se ainda estivesse lá. Era a lembrança mais preciosa da minha vida.

Mas sonhos têm a péssima tendência de acabar, e quando acordamos, nem sempre encontramos o que esperamos.

Agora, com os olhos abertos, não há céu azul, nem risadas. Também não há certeza da indestrutibilidade do nosso amor.

Só há Louis coberto de sangue.

Muito sangue.

A princípio, não consigo entender. Meus olhos demoram um segundo para processar o que estão vendo. O sangue — espesso, escuro — cobre seu rosto, escorre pelos braços e suja a camisa branca que ele sempre usava nos dias em que queria me impressionar. Sua respiração está pesada, os passos vacilantes. Louis cambaleia em minha direção, cada movimento parecendo uma luta.

Meu corpo congela. Um arrepio percorre minha espinha enquanto percebo que o sangue não é de qualquer outra pessoa. É dele.

Os machucados no seu rosto são profundos, os cortes em seu corpo parecem ter sido feitos por alguém que não teve piedade. Sua mão, a mesma que me segurou com tanta ternura naquele dia, agora treme violentamente.

“Louis…” minha voz sai fraca, rouca, como se algo estivesse apertando minha garganta. O choque, o medo, a confusão — tudo se mistura de uma vez, esmagando meu peito.

Ele não responde. Apenas se aproxima, mais perto e mais perto, até que posso sentir o cheiro metálico do sangue no ar. Ele olha para mim como se fosse a última coisa que pudesse fazer, como se fosse a última coisa que quisesse fazer. Seus olhos, aqueles mesmos olhos que um dia me prometeram proteção, agora estão carregados de dor.

E antes que eu pudesse reagir, ele me beija. Um beijo que é, ao mesmo tempo familiar, e terrivelmente errado.

O gosto do sangue inunda minha boca, misturando-se com a lembrança daquele beijo no altar, tão doce e puro. Agora, há uma amargura que queima em minha garganta, e eu não sei se é pelo gosto metálico ou pelo medo do que está por vir.

Quando ele se afasta, eu percebo que há algo quebrado dentro dele. Algo que eu não consigo alcançar. Ele sussurra com dificuldade, sua voz embargada pela dor, mas com uma intensidade que eu não consigo ignorar.

“Agora você não precisa se preocupar,” seus olhos cintilam com uma determinação selvagem. “Eu matarei qualquer um que queira nos separar. Não importa quem seja.”

Aquelas palavras ecoam em minha cabeça como um trovão distante, reverberando pelo meu corpo. Meus pensamentos se agitam, confusos, enquanto tento entender o que ele quis dizer. E então, antes que eu possa processar completamente, a realidade me atinge como um golpe frio:

O homem que está diante de mim, o homem que amo, está disposto a tudo, até mesmo a matar.

Louis dá mais um passo, sua respiração irregular e ofegante. Ele está morrendo, e eu não sei o que fazer.

Meu coração, que antes só batia por ele, agora martela com desespero. O homem que prometeu me proteger, o homem que amei com todo meu ser, está se desfazendo na minha frente, e com ele, tudo o que eu conhecia. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, fazer qualquer coisa, ele cai de joelhos, suas forças esvaindo-se junto com o sangue que mancha o chão entre nós.

Eu olho para ele, impotente, e tudo o que consigo pensar é no dia do nosso casamento, no amor que juramos proteger. Agora, parece que esse amor o consumiu, transformou-o em algo que eu mal reconheço.

De repente, a realidade me atinge em cheio: o pesadelo começou.

E eu não sei como acordar.

𝗌𝗉𝗂𝗅𝗅𝖾𝖽 𝖻𝗅𝗈𝗈𝖽Onde histórias criam vida. Descubra agora