Tons de Você

6. Onze da manhã,

a sacola laranja de tangerinas ainda está na cama, e as cascas no chão, como em uma pintura dramática.

Os últimos vinte minutos, foram preenchidos por pensamentos suavizados pelas músicas antigas que tocam mais de uma vez no rádio. Momentaneamente, me sinto uma pessoa antiga.

Foco nas músicas em que homens fazem parecer que sexo é, para eles, amor. Seguindo as minhas ideias, sexo pode ser uma forma de afeto ou apenas sexo, e esse "apenas" não indica que um vazio de nutrientes, mesmo o ato mais prático ainda é contato intímo.

Lembro de Felipe sussurrando “Você é linda”, pelo menos, cinco vezes. Eu não disse o que penso dele, e não agradeci, mesmo que tenham sido sussurros significativos. “Amo o seu cabelo.” Não disse gosto, disse amo. “Seria muito estranho se eu dissesse que acho a sua cor bonita?” Felipe estava apaixonado por meus mamilos.

O tecido da roupa dele cheirava a abraço de vó, com aquelas bolinhas brancas que elas costumam colocar nas gavetas. Naftalina.

Perder a virgindade no ensino médio, e com um garoto que não é seu namorado, causa um impacto assustador. Ninguém cogita os seus motivos, se você queria isso ou não. Caso descubram, irão fazer você sentir que deve se culpar pelo assédio e desrespeito que, muito provavelmente, receberá. Então, agora você é uma puta sem valor, principalmente para ele, o garoto que compartilhou aquele momento com você.

Me sinto assim enquanto encaro o reflexo no espelho do banheiro. Não mais a garota comportada que nunca fui. Não mais pura de alma como talvez tenha sido. Inseguranças pulsam como os batimentos de um coração acelerado. Não quero que as pessoas saibam.
Estou chorando no espelho.