( O luto é como um vazio existencial, lembre-se, um muro não pode ser construído em cima de fundações vazias)
(3 dias depois)
"A sessão terminará em breve Rain, como você está?" -Escuto a voz da minha terapeuta no computador.
"Acho que estou tentando entender.." -Respondo, com uma voz pesada.
"Sua licença terminou, você precisa voltar às aulas e recuperar minhas notas." -Disse ela, com um sorriso confortante no rosto.
"Eu sei...é que, não sei se estou pronta." -Falei, passando a mão no meu peito.
"Entendo, mas você sabe que pode me ligar sempre, não é?" -Instigou ela, prendendo minha atenção em um ponto fixo.
"Obrigada." -Digo, pensando pela primeira vez.
"Tenho que ir agora, cuide-se querida." -Falou ela, encerrando nossa chamada.
Em três dias, meu mundo caiu e minha mente simplesmente não queria acordar.
Tento pensar em coisas bobas para me distrair, mas nada me tira do luto. Pensar naquela cena me deixa enjoada, é como ficar amarrada em loops de culpa sem fim. Ela queria meu melhor e eu quero ser boa o suficiente para pensar nela como saudade.
Mas essa dor é como uma peste enraizada que cresce a cada dia.
Acho que perdi 5kg trancada nesse quarto, eu não tenho vontade de comer ou conversar com alguém, as meninas sempre tentam falar comigo.Hoje eu começo minhas aulas de reforço, minhas notas caíram de forma considerável porque eu perdi três dias de prova, minha grade de aulas está concentrada em 6h na biblioteca com alguém desconhecido.
Meu celular despertou algumas horas antes, mas avisei a diretora que minha sessão seria na parte da manhã.
Um banho quente me salvaria agora, o frio caiu tão rápido que minhas roupas de inverno ainda estão empacotadas. Sei que as janelas da biblioteca me causaram arrepios na espinha, meu medo maior é não saber quem me acompanhará durante as semanas de recuperação."Rain, posso entrar?" -Escuto a voz da Mickaela do outro lado da porta.
"Posso também?" -Athena fala, saindo do seu esconderijo da minha varanda, como essa mulher foi parar ali? Às vezes é melhor nem saber...
"Entrem suas bobas..." -Falei, pegando minha toalha no cabideiro. "Athena, não esquece de fechar a porta da varanda."
"Ta bom amiga." -Respondeu ela.
"Amiga, você tem quantas provas hoje?" -Disse Mickaela, sentada no chão do quarto.
"Umas duas, tenho redação também." -Falei, entrando na minha ducha.
"Credo, cuidado com seu tutor em." -Disse ela, com um tom sugestivo.
"Mulher não demo eu preciso te atualizar." -Falou Athena.
Depois de 20 minutos de banho, meu corpo parece leve como uma pena.
As meninas estavam sentadas no chão do meu quarto, as duas mexiam nos seus celulares e conversavam entre si. É muito difícil estar longe de casa, sem minhas amigas e olhar para as duas me lembra delas...
"Vocês acham que essa roupa está boa?" -Falei, fazendo uma pose.
"Seu uniforme caiu super bem no corpo, você está gatíssima." -Disse Mickaela.
"Uhum, seu cabelo está mais apresentável agora." -Disse Athena me zoando.
Eu estava com o meu cabelo preso a três dias seguidos, eles passaram rápido e não parece que eu vivenciei eles de fato. É como se um vazio me preenchesse, a dor me consome por dias inteiros e a voz dela se repete no fundo da minha mente.
Eu preciso voltar e acreditar que posso fazer o que ela me pediu.
"O que uma lavagem premium não faz? Estava tão ruim assim?" -Perguntei, sabendo a resposta.
"Ruim é pouco, seu cabelo estava um ninho." -Disse Mickaela, rindo.
De repente, meu celular dispara de novo.
"Acho que está na hora das minhas aulas particulares." -Falei, pegando minha bolsa.
"Nos vemos no intervalo." -Se despediu Mickaela.
***
Ótimo, minhas aulas serão modificadas antes mesmo da semana de provas, aparentemente meu tutor está indisponível nesse horário.
Ou seja, mais duas horas foram adicionadas no meu relógio, o tempo gélido arrepia a minha pele, uma sensação estranha atravessa minha mente...aquele terraço atrás do jardim central é lindo, estranhamente, minha mente grita seu nome e meu corpo quer aceitar a ideia de caminhar até lá.Não faria mal, certo? A vista daquele lugar é realmente bonita.
Espera...é ela? Aquela menina, ela está aqui, seu olhar sombrio me pega desprevenida e suas mão fazem gestos convidativos, é como se ela estivesse me chamando. Aquilo com ela...mas o que é isso? Ela está segurando uma cobra? Espera, ela usa...uma cartola?
A curiosidade me pega e me direciono à ela, mas lentamente, seus passos foram afastando e um sorriso crescia naquele rostinho estranho, tento alcançá-la e decidi segui-la...afinal, nosso destino será o mesmo.
Aquele lugar me deixa fascinada, algo muda quando estou lá, é como se um peso saísse das minhas costas.Quanto mais perto, mais livre eu me sinto, o jardim é magnífico, as rosas e as árvores imensas com seus charmes, aqui é realmente lindo. As escadas começam a aparecer e a menina sorri convencida, nesse momento eu percebi que nada poderia ser melhor do que esse sentimento de novidade e tensão, não havia ninguém nas salas e os quadros estão limpos, as janelas estão limpas e começo a enxergar o parapeito.
"Eu sabia que te encontraria novamente." -Falou a menina desconhecida.
"Posso saber seu nome?" -Pergunto, seguindo minhas intuições.
"Você pode saber se vier comigo." -Disse ela, repetindo seu ato perigoso do passado.
"Como você fez aquilo? Você caiu do parapeito e sumiu." -Falei, me recordando do meu grito desesperador.
"Quer descobrir?" -Disse ela, rindo.
"É loucura, posso morrer saltando dessa altura." -Respondi, dando uma olhada para baixo.
"A altura não é um problema, venha...pode confiar em mim" -Insistiu ela, pegando na minha mão.
"Eu tenho medo de altura, é melhor passar." -Digo, tentando mentir.
"Oh, pare de usar a mentira como escapatória..." -Falou ela, me encarando. "Impressionante, vocês mudam muito pouco." -Complementou, mexendo em algo no seu pescoço.
Minha atenção no objeto foi desconexa quando escutei um assobio repentinamente, era o segurança. Ele grita coisas indecifráveis, que vão se tornando audíveis na medida que seus passos se aproximam, sua expressão assustadora é quase impossível de se ignorar e ele carrega um objeto familiar na mão...era minha bolsa.
Foi nesse exato momento que minhas mãos tocaram meus ombros, eu só posso estar maluca. Eu esqueci minha mochila na diretoria e não percebi, até uma anêmona do mar lembraria disso.
"Garota, o telhado é perigoso." -O homem grita no pé da escada.
"Por favor, venha comigo." -A menina sem nome, diz apertando minha mão.
Tomando coragem e tentando encontrar qualquer pontada de esperança para escapar da dor que me invade. Eu aceitei seu convite, pegando na mão da menina e ultrapassando a grade de proteção, entretanto, o homem chega no fim da escada, mas alguma coisa no rosto dele mudou e seu corpo paralisou completamente.
"Meu bem?" -Disse ele, me deixando confusa.
"Adeus." -A menina disse me abraçando.
Em questão de segundos, me sinto em queda livre.
Capítulo curtinho hoje, mas introdutório...
As coisas vão mudar agora amores, aguardem a próxima parte :)HEHEHEHHEHEHEHE
Beijinhos<3
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Tiefen
Roman d'amour⚠️Dark romance ⚠️ A história acompanha a jornada de uma jovem que sofreu um grave acidente de carro, ela acorda sem memória e cercada por estranhos. Incapaz de se lembrar de quem é ou de como chegou ali, ela embarca em uma busca incansável pela verd...