A Alquimia do Desejo

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Serena ajustou o capuz do manto, protegendo-se do frio das primeiras horas da manhã. À sua volta, o silêncio do bosque parecia segurar o fôlego, como se até mesmo as árvores esperassem por algo. Ela havia ouvido falar das poções de um misterioso alquimista, que morava no coração da floresta há décadas. Diziam que ele podia fazer qualquer tipo de bebida mágica, mas havia uma em especial — uma poção azul como o céu ao amanhecer — que atraía os corações mais intrépidos e desesperados.

O "Blue Drink", como chamavam, era cobiçado há gerações. Alguns diziam que ela revelava o verdadeiro amor. Outros, que transportava o espírito para uma dimensão onde as almas vagavam sem fronteiras, apenas guiadas pelo desejo mais profundo de seus corações.

Serena não sabia no que acreditar, mas sabia que seu coração guardava um segredo, e se o alquimista tivesse as respostas, ela estava disposta a arriscar.

Ao se aproximar da clareira, ela avistou uma cabana de aparência antiga, com o telhado inclinado e coberto de musgo. O cheiro de ervas e fumaça escapava das janelas pequenas, e, enquanto ela hesitava diante da porta, esta se abriu sozinha, rangendo levemente.

Lá dentro, uma figura alta e esguia, de barba prateada e olhos intensamente azuis, a observava. Ele a esperava com um sorriso enigmático.

— Você veio pela poção, não veio? — perguntou o alquimista.

Serena assentiu, mas hesitou, lembrando-se dos rumores de que poucos voltavam depois de conseguir a poção azul. Mas não era covarde. A curiosidade e o desejo queimavam dentro dela.

— Me disseram que essa bebida pode revelar o coração, fazer com que o amor se mostre como realmente é.

O alquimista riu baixinho, voltando-se para uma estante cheia de frascos e ervas raras. Ele parecia conhecer os anseios dela melhor do que ela mesma. Sem olhar para trás, ele murmurou:

— O amor é apenas uma das muitas faces do que esta poção pode fazer. É preciso desejar algo de verdade, Serena, de corpo e alma. O que você quer?

Ela sentiu as palavras do homem como um desafio. Em sua mente, a imagem de Elias, o jovem viajante que havia conhecido em uma feira distante, brilhou como uma lembrança viva e dolorosa. Mas... será que o desejo por ele era forte o suficiente?

— Eu quero... encontrar aquilo que busco — disse Serena finalmente, com firmeza, sem especificar o que exatamente procurava.

O alquimista sorriu de novo, como se entendesse cada sombra de hesitação em suas palavras.

— Então, começaremos os preparativos. A poção azul exige ingredientes raros e uma alma sincera — disse ele, pegando um frasco e colocando-o sobre a mesa. — Mas lembre-se, cada gole tem um preço.

Ele começou a explicar sobre os ingredientes que ela precisaria buscar: uma flor que só desabrochava à meia-noite, o orvalho de uma folha coberta de névoa, e uma pedra encantada encontrada nas profundezas do rio mais antigo da floresta. Cada item parecia guardado por segredos, e cada segredo parecia clamar por um sacrifício.

Antes de partir, Serena olhou novamente para o alquimista, buscando qualquer vestígio de engano ou ameaça nos olhos dele.

— Você não terá garantias, Serena — disse ele, quase como se lesse seus pensamentos. — Mas se seu coração for verdadeiro, o destino cuidará do resto.

Serena deixou a cabana com a lista em mãos e uma sensação de aventura no peito, mas também com a incômoda impressão de que algo mais a esperava nessa jornada.

O bosque, agora, parecia observá-la com olhos invisíveis, e o ar tinha o aroma de um mistério antigo e incompreensível.

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