Capítulo 5 - Afinidades e Vigilâncias

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Nos dias que seguiram à festa, um sentimento novo e intenso passou a preencher os pensamentos de Andrômeda e Aaron. O laço que os unia parecia crescer a cada conversa e troca de olhares, revelando uma sintonia rara. Andrômeda, sempre espontânea e cheia de energia, encontrou em Aaron uma alma parecida com a dela. Os dois eram filósofos de coração, sempre buscando compreender o mundo ao redor e questionar as coisas de maneira profunda.

Nas tardes depois da aula, Andrômeda e Aaron se encontravam para longas caminhadas no parque, onde conversavam sobre filosofia, literatura e música. Eles adoravam debater sobre o significado das coisas, seja sobre um romance clássico ou a última música que haviam descoberto. Muitas vezes, suas conversas se estendiam até o anoitecer, e nenhum dos dois notava o tempo passar. Ambos tinham uma visão poética e um tanto extrovertida sobre a vida, e a sinceridade com que se tratavam tornava cada encontro ainda mais especial.

Em uma dessas tardes, enquanto estavam sentados embaixo de uma árvore antiga, Andrômeda olhou para Aaron e disse com a franqueza que sempre carregava:

— Aaron, sabe, não conheci muitas pessoas que compartilhassem tanto comigo. Parece que nossos pensamentos correm na mesma direção, não acha?

Aaron sorriu, surpreso com a naturalidade dela, mas sentindo o mesmo.

— Eu sinto o mesmo, Andrômeda. Estar com você é como conversar com alguém que já entende tudo o que quero dizer, e ainda assim consegue me surpreender.

Andrômeda corou ligeiramente, algo raro para ela, mas continuou olhando para ele, sentindo que havia algo especial e verdadeiro se formando entre eles. Aaron, sempre muito sincero, olhou para ela com um brilho nos olhos.

— Andrômeda, você percebe o quanto tudo isso é único? É como se o mundo lá fora desaparecesse quando estamos juntos. É difícil encontrar alguém que vê a vida com essa mesma intensidade.

Com esse momento compartilhado, ficou claro para ambos que o sentimento que nascia não era apenas uma amizade; era um amor construído com base em uma conexão genuína, cheia de cumplicidade. Andrômeda e Aaron continuaram a se encontrar e a se envolver mais profundamente, o vínculo entre eles crescendo com cada conversa e troca de risadas.

Enquanto isso, Frida e Catarina observavam com atenção a volta de Ernesto à escola. Sabiam que ele era alguém impulsivo e vingativo e que a suspensão poderia ter aumentado seu ressentimento. Elas estavam especialmente preocupadas com a influência que ele poderia exercer sobre os alunos, especialmente Vênus e Júpiter.

Frida comentou com Catarina em uma manhã:

— Catarina, algo me diz que Ernesto não vai aceitar o retorno de forma tranquila. Precisamos estar atentas e prontas para agir caso ele tente prejudicar nossos alunos.

Catarina assentiu, preocupada.

— Também sinto isso. Vamos fazer o possível para protegê-los e evitar que ele cause mais problemas.

As duas decidiram intensificar sua vigilância, sempre observando discretamente as atitudes de Ernesto. Ele parecia estar à espreita, o olhar frio e calculista, sempre rondando como quem planeja algo sombrio.

Ernesto, determinado a camuflar suas intenções, foi até a sala de Catarina, onde bateu à porta com um sorriso contido e um olhar que tentava aparentar sinceridade. Catarina, ciente do histórico dele e da recente suspensão, o observou com desconfiança, mas o convidou a entrar, interessada em entender quais seriam as novas intenções do rapaz.

— Catarina, eu queria me desculpar por todo o meu comportamento nos últimos tempos — começou Ernesto, mantendo a voz baixa e controlada. — Eu sei que agi errado e gostaria de ter a chance de mostrar que posso ser um aluno melhor. Prometo que vou mudar e respeitar as regras da escola.

Catarina o encarou com firmeza, mas manteve a postura profissional.

— Ernesto, entendo que você queira melhorar, mas não posso simplesmente ignorar seu histórico. Suas atitudes prejudicaram outros alunos, e isso não é algo que desaparece com promessas. Preciso de provas reais de mudança.

Ele assentiu, fingindo concordância e lançando um olhar humilde.

— Claro, Catarina, eu entendo. Só quero que saibam que eu estou realmente comprometido em fazer a coisa certa. Talvez com o tempo, eu consiga reconstruir minha imagem.

Catarina o observou por alguns instantes antes de assentir, ainda desconfiada. Ela pretendia ficar ainda mais atenta às atitudes dele e alertou Frida sobre a conversa. As duas sabiam que, mesmo prometendo mudança, Ernesto não era alguém confiável.

Entretanto, por trás daquela fachada, Ernesto arquitetava algo muito mais sombrio. Na verdade, ele sentia que a suspensão e as recentes desconfianças de Catarina e Frida só aumentavam seu desejo de vingança contra Vênus e, indiretamente, contra Júpiter e suas tias. Ele já não se contentava com pequenas provocações ou ameaças veladas; Ernesto queria causar um impacto real, algo que fizesse todos pagarem pelo que ele via como uma série de injustiças contra ele.

Seu plano tomava uma forma terrível. Ernesto começou a esboçar uma ideia sinistra: sequestrar Vênus. Ele sabia que isso abalaria profundamente Júpiter e deixaria suas tias em pânico, e, de quebra, ainda teria a sensação de controle que tanto almejava. Começou a estudar a rotina de Vênus, percebendo os horários em que ela ficava sozinha depois das aulas e observando os locais por onde passava.

No fundo, Ernesto sentia que, ao sequestrar Vênus, poderia manipular a situação a seu favor e forçar a escola — e Júpiter — a cederem de alguma forma. Ele não se importava com as consequências ou com o sofrimento que poderia causar. Sua mente estava consumida por vingança, e, para ele, o sequestro parecia ser o único caminho para satisfazer seu desejo de controle e retaliação.

Após o encontro de Ernesto com Catarina, o clima na escola parecia normal, mas Vênus não conseguia afastar a sensação de inquietação que sentia. Ela e Júpiter começaram a passar ainda mais tempo juntos, e cada momento ao lado dele trazia um conforto que parecia afastar qualquer sombra que pudesse ameaçá-la.

Em uma tarde depois da aula, os dois decidiram se encontrar novamente no jardim, o mesmo onde haviam trocado tantas conversas e olhares significativos. A brisa leve fazia as folhas das árvores dançarem, e o sol que começava a se pôr pintava o céu com tons alaranjados e dourados, criando o cenário perfeito para aquele momento.

Eles conversaram sobre tudo e nada ao mesmo tempo, rindo de piadas bobas e relembrando momentos da amizade. Júpiter, com o coração acelerado, olhava para Vênus de uma forma que ela nunca tinha notado antes, como se o mundo inteiro se resumisse ao instante que compartilhavam.

— Vênus... — ele disse, hesitante, mas decidido. — Eu nunca imaginei que algum dia teria a chance de estar tão perto de você assim.

Ela sorriu, sentindo as bochechas corarem, e o encarou com doçura. Antes que pudesse responder, Júpiter se aproximou devagar, seu rosto a poucos centímetros do dela. Vênus sentiu o coração disparar, e, num instante que pareceu durar uma eternidade, eles se entregaram ao momento.

Os lábios se tocaram num beijo suave e cheio de carinho, como se fosse uma promessa silenciosa entre os dois. Vênus sentiu uma emoção indescritível, algo puro e verdadeiro, que a fez perceber que o que sentia por Júpiter era especial e real. Naquele instante, todos os medos e incertezas desapareceram, e o mundo ao redor parecia ter parado.

Quando o beijo terminou, os dois sorriram, ainda um pouco tímidos, mas felizes. Era como se aquele simples gesto tivesse selado a ligação entre eles, confirmando o que seus corações já sabiam. Vênus nunca havia se sentido tão conectada a alguém, e, ao lado de Júpiter, ela sentia que poderia enfrentar qualquer coisa.

O capítulo termina com Vênus e Júpiter ainda no jardim, abraçados enquanto o sol se põe, prontos para enfrentar o que viesse, sem imaginar os perigos que Ernesto ainda tramava nas sombras.


AMOR FALSOWhere stories live. Discover now