Silêncio entre amigos

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O relógio marcava 7h20, e Lando ajeitava a gola da camisa polo de Noah, tentando domar os fios rebeldes do cabelo do filho. Noah, ainda meio sonolento, coçava os olhos e murmurava algo sobre não querer ir para a escola.

- Papai... eu não gosto da escola... parece aqueles filmes de "teor" que o Maxie assiste comigo pra me assustar quando eu não durmo na casa dele...

Lando levantou uma sobrancelha, contendo o riso.

- Espera aí... qual dos idiotas deixa você assistir filme de terror com três anos?

- Três anos e meio, não esquece da metadinha, papai.

- Certo, certo, metadinha... Agora diz, qual dos Max's faz isso?

- O Fer... o... o Ferterel! - Noah respondeu, enroscando-se com o nome enquanto coçava o nariz.

- Quem, filho? - Lando perguntou, segurando a risada.

- O Feretuel... aquele que não corre de carrinho com você...

- Ah, quer dizer o Max Verstappen. Pois é, esse infeliz vai ter o troco! Eu mal deixo você ver Scooby-Doo, e ele já te coloca para ver filme de terror? Isso que é amigo... E olha que eu poderia ter amigos mais decentes da cabeça.

- Eu ouvi a palavra "decência" sair da boca de Lando Norris? - Jully Verstappen entrou na casa sem bater na porta, como sempre fazia desde que virou babá de Noah. Lando já estava mais do que acostumado com esse jeito espontâneo da ruiva.

- Hoje não, Jully. E você, Noah, vai escovar os dentes. - Ele deu um tapinha de leve no bumbum do filho, que subiu as escadas com um biquinho, ainda emburrado por ter que ir para a escola.

- Eu conheço essa cara... - Jully comentou, sentando no sofá ao lado de Lando. - Essa é a cara de "Carlos Sainz falou um monte de merda sobre mim, e eu ouvi cada palavra".

- Olha a linguagem, tem criança em casa, Jully! - Lando reclamou, cruzando os braços. - E, bom... sim. Eu sei que o Carlos não me suporta desde 2019, quando confessei que gostava dele... mas daí a falar o que falou ontem, ele exagerou. Ele tá levando isso pro lado pessoal.

- Qual parte foi a pior? - Jully perguntou, passando a mão pelos cabelos do amigo.

Lando bufou, franzindo o cenho.

- Todas! Ele disse que eu nem devia estar na F1, que sou "inconsistente", e até me comparou ao Lance Stroll! É um tapa na cara, sabe? - Lando fechou os olhos por um instante, tentando se acalmar. - Eu entendo que tenho que melhorar, mas comparar meu trabalho ao do Lance?

Jully balançou a cabeça.

- Carlos tá só tentando te afetar, Lando. Ele sabe onde te acertar e você tá deixando. Não vale a pena.

Lando suspirou, inclinando-se para frente.

- Então o que eu faço? Fico calado?

- Não, mas se alguém te perguntar, diz apenas "eu tô em segundo no mundial, ele tá em quarto ou quinto, então sabemos quem merece estar aqui."

Antes que Lando pudesse responder, Noah desceu as escadas com pequenos pulinhos, agora mais animado.

- Depois a gente se fala - Jully se levantou e deu um abraço rápido em Lando, saindo com Noah pela porta.

- Noah, cadê meu abraço? - Lando perguntou, abaixando-se para ficar na altura do filho.

- Hoje não tem, papai! Você tá me obrigando a ir pra escola, então sem beijo e sem abraço!

Lando riu, observando Noah saindo com Jully.

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Algumas horas depois, Lando entrou na sala de reuniões da McLaren, pronta para discutir a próxima corrida. A sala, pintada em preto e laranja, era simples, com uma miniatura do carro de Ayrton Senna no centro da mesa e imagens dos carros 04 e 81 nas paredes. Lando deu um leve sorriso ao ver a miniatura do seu carro e do de Oscar, e imediatamente foi levado por uma onda de memórias.

Dois corações e um destino - Landoscar Onde histórias criam vida. Descubra agora