Capítulo Único: Cheeky

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Lucy Heartfilia era uma jovem professora de uma escola primária, prestes a completar trinta anos, que amava sua profissão mais do que a si mesma. Para ela, cuidar de seus alunos, passar seus ensinamentos de vida, vê-los crescer e aprender era mais gratificante do que quando se formou em pedagogia, exatamente para poder ministrar aulas para suas crianças.

Sim, suas crianças, afinal, passava meio período dos dias de todo um ano apenas ensinando-os como deverão encarar suas obrigações dali para frente, ajudando-os em suas dificuldades e, querendo ou não, sua responsabilidade se equiparava à dos pais de todas elas, já que o respeito que empunhava e a admiração que conseguia eram tão marcantes em suas vidas que qualquer orientação poderia fazê-los mudar de comportamento. E ainda havia pessoas que desmereciam sua profissão, não que alguma profissão devesse ser desmerecida, porém o impacto de um educador na vida de uma criança é maior do que os próprios pais imaginam. Entretanto a jovem loira não se deixava abalar por comentários maldosos, ela tinha seus planos e objetivos de vida que, além de desenvolver uma infância saudável aos seus alunos, também era a de ter um filho.

Quantas vezes já pôde presenciar seus alunos a chamando de mãe acidentalmente? Inúmeras, afinal, como dito anteriormente, seu trabalho se equiparava a de uma. O constrangimento que as crianças ficavam era, no mínimo, fofo, e Lucy sempre sentia seu coração se enchendo de alegria ao ouvir aquela simples palavra.

— Oh, mãe! — Uma das alunas a chamou enquanto puxava a barra de seu vestido florido, a aula tinha acabado de terminar.

Aquela aluna em especial a chamava de mãe mesmo sem ser acidente, até onde sabia, Wendy era filha de pai solteiro, se não lhe faltava memória.

— Sim, Wendy?

— Você é mãe de verdade?

Aquela pergunta, obviamente, era inocente; afinal, vinha de uma criança de sete anos. Entretanto, para Lucy, aquilo era como um tiro entrando em seu peito, ainda que não fosse o real objetivo.

— Ainda não, Wendy — disse com um pesar na voz que era despercebido pela criança.

— E você não quer ser minha mãe?

A professora estava encurralada, não era simples de se explicar que para ser sua mãe ela deveria tê-la concebido, entretanto mais difícil ainda era não ficar curiosa com aquela pergunta.

— Por que diz isso?

— Papai sempre disse que mãe e pai é quem cuida e você cuida muito bem de mim.

Novamente aquele calorzinho especial e satisfatório aqueceu seu coração e quase fez a jovem professora deixar escapar alguma lágrima.

— Seu pai tem razão, Wendy, mas eu sou somente sua professora no momento.

— A gente pode resolver isso já! — a menina disse empolgada e saiu em disparada para fora da sala. Não sabia onde a criança ia e já era hora de ir embora, então Lucy começou a arrumar seus materiais e ajeitar sua bolsa. Quando ia desligar as luzes da sala, escutou uma voz vindo do corredor juntamente de passos apressados.

— Mãe! Espere, não vá embora!

Era Wendy que corria segurando a mão de um rapaz de cabelos róseos trajando roupa social, possivelmente do trabalho, que estava com uma expressão confusa.

— Filha, já disse para não correr e o que você quer me trazendo até aqui? — o homem questionou, enquanto era puxado.

— Papai, eu quero que a titia Lucy seja minha mãe.

Lucy que até então estava assimilando a situação, ficou envergonhada da cabeça aos pés. Sua pele branca ajudou bastante na evidenciação do fato para os outros dois.

— Viu? Mamãe ficou envergonhada porque gostou do papai.

"Que garota atrevida!", a mente de Lucy gritava em um verdadeiro colapso. O pai da garota voltou seus olhos para a professora que até então nada disse e estava obviamente envergonhada.

— Filha, não é bem assim que as coisas funcionam, sabe? Além do que... — Foi cortado pela garota.

— Mas papai sempre disse que pai e mãe é quem cuida, e a titia Lucy confirmou que você estava certo hoje, papai. — A voz doce de Wendy soava inocentemente.

A criança não estava errada, e isso fez com que um breve silêncio se instalasse na sala.

— Wendy, querida, posso conversar com seu pai por um momento? — Então a professora quebrou o clima ao se aproximar da porta onde se encontravam o pai e a filha.

— Está bem, mamãe. Vou aguardar lá fora com meus amiguinhos. — E foi até o pátio onde ainda tinha algumas crianças.

Lucy ficou de frente para o homem que ainda estava confuso com a situação e se curvou levemente.

— Primeiramente mil desculpas pelo o que disse a sua filha. — Se referia à confirmação da frase de que pai e mãe é quem cuida. — Não achei que ela fosse interpretar de tal forma.

— Não há pelo o que se desculpar, afinal a frase não está errada, eu concordo com ela. — Deu um sorriso aberto e acolhedor para a professora. — A propósito meu nome é Natsu. — Estendeu a mão.

— Prazer, Lucy. — Segurou firmemente a mão do outro.

— Não se preocupe, posso tentar explicar para ela a situação quando chegar em casa, mesmo sabendo que ela vai continuar a enxergá-la como mãe, já que você a trata tão bem — falava enquanto rodava os olhos pela sala retangular. — Todo dia ela comenta sobre tudo o que passa aqui.

— Fico feliz que ela goste tanto de mim e que vocês tenham uma relação próxima, não são todos os pais que se interessam pelo dia a dia dos filhos.

— Sei bem disso, estou tentando dar o meu máximo como um pai de primeira viagem. — Sorriu ainda mais e Lucy não pôde deixar de notar o sorriso largo e bonito que o rosado possuía. E então, caíram novamente no silêncio apenas um encarando o outro e a professora notou os olhos curiosos do homem à sua frente.

— Eu vou indo, sei que Wendy deve estar com fome. — Natsu retirou de seu bolso um papel e uma caneta. Anotou improvisadamente na parede o que parecia ser seu telefone e entregou à professora. — Por mais que eu ainda explique para ela a situação, não é como se não pudéssemos nos conhecer melhor. — Piscou para a professora que ficou rubra novamente.

"Atrevido igual a filha!", sua mente estava entrando em colapso novamente. Pegou o telefone da mão do rapaz que logo virou as costas e começou a chamar por Wendy.

Lucy leu o bilhete dado que ainda vinha com um coração de bônus, ficou lisonjeada, afinal o rosado não era de se jogar fora. Ela tinha certeza de duas coisas após aquele dia: que Wendy tinha a quem puxar pelo atrevimento e que o atrevimento de Natsu foi a melhor coisa que aconteceu para os dois dali para frente.

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