O quarto de Lívia é pequeno, com paredes cobertas de um azul desgastado e uma janela estreita que deixa entrar um raio de luz pálida. É um espaço acolhedor, mas solitário, onde ela passa horas a fio, perdida entre livros empilhados e objetos espalhados, cada um contando uma história que só ela conhece.
Para Lívia, o quarto é um lugar de refúgio. Aqui, a solidão se torna quase uma amiga, uma presença constante que ela conhece bem. Ao mesmo tempo, esse espaço é também uma prisão, onde o silêncio a força a confrontar seus pensamentos. A solidão, nesse lugar, não é só uma escolha, mas uma companheira inevitável. Ela se sente protegida ali, mas há algo inquietante em perceber que as paredes que a confortam são as mesmas que a separam do mundo.
Na penumbra do quarto, Lívia se pergunta: "Até que ponto eu escolhi a solidão, ou foi a solidão que me escolheu?" É uma dúvida que a acompanha, um pensamento que oscila entre o prazer de estar sozinha e o peso de estar sempre só.
Enquanto Lívia olha para os objetos ao seu redor, cada um deles parece ter um peso único, carregado de memórias que só ela entende. Em cima da escrivaninha, há um caderno surrado, suas páginas cheias de rascunhos e frases inacabadas. Escrever é um dos poucos meios que ela tem para colocar em ordem a confusão dos próprios pensamentos. Às vezes, é a única forma de acalmar a mente.
Mas mesmo ali, com as palavras ao seu dispor, há coisas que Lívia nunca consegue expressar. A solidão é algo que se insinua entre as linhas, algo que ela nunca consegue definir completamente. Como explicar a sensação de se sentir bem sozinha, mas ainda assim, sentir falta de algo ou alguém que ela talvez nunca tenha conhecido?
Olhando pela janela, Lívia vê o mundo lá fora. Crianças brincam na rua, pessoas passam distraídas, em suas próprias rotinas. Para ela, a janela é quase como um portal para uma realidade da qual ela sempre sentiu estar à margem. Ela não sente inveja dessas pessoas, mas uma curiosidade distante. Ela pensa no que seria estar ali, entre elas, e se pergunta se alguém sequer notaria sua presença.
Essa é a dualidade da vida de Lívia: ela ama a paz do seu próprio silêncio, mas ao mesmo tempo, há uma pontada de dor ao perceber que ninguém compartilha dessa quietude com ela. Em seu íntimo, existe um desejo de ser entendida, de que alguém enxergue além da superfície e descubra as camadas da sua alma.
Enquanto a tarde avança e a luz do quarto se torna cada vez mais tênue, Lívia se deita na cama, abraçando o vazio que a envolve. Na penumbra, ela deixa que seus pensamentos vagueiem para um território incerto, onde a solidão parece ganhar uma nova forma, ora suave, ora sufocante.
Eu fecho os olhos e escapo para um lugar que só existe dentro de mim. Não é um lugar comum, não tem paredes nem limites, mas há algo de familiar nesse espaço. Um campo vasto e silencioso, onde a luz e a sombra parecem dançar num compasso que eu mesma criei. É aqui que me escondo quando o peso do mundo fica grande demais.
É engraçado – não sei se o que sinto é medo da solidão ou um alívio por estar só. Às vezes, penso que me inventei um universo para me proteger da realidade, como uma muralha invisível que ninguém pode atravessar. Aqui, as palavras não têm pressa e o tempo é lento, quase como um rio que desliza, ignorando a pressa de quem observa da margem. Neste lugar, o silêncio é profundo, e tudo o que dói fica adormecido.
E, ao mesmo tempo, existe uma dor aqui. Porque, por mais que eu tente, não consigo acreditar totalmente nesse universo que criei. Ele é frágil, feito de pedaços de esperança e de tristeza, e às vezes desmorona como um castelo de cartas. O vazio sempre acaba voltando, como se quisesse me lembrar de que tudo isso é apenas uma ilusão.
As pessoas dizem que sonhar é libertador, mas sinto que os meus sonhos são uma espécie de prisão. Eles me atraem, me levam para longe, mas depois me abandonam de volta no mesmo lugar, sozinha. É como construir uma ponte para o nada.
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Silêncio em Solidão
ЧиклитSilêncio e a Minha Solidão" explora a realidade da solidão que muitos enfrentam, refletindo a desconexão emocional e a busca por pertencimento. Através de uma narrativa sensível, o livro convida os leitores a reconhecerem suas experiências de solidã...