Correndo Para Algo Novo

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Acordo com a sensação de que preciso ir para algum lugar. O vazio que sinto dentro de mim parece maior essa manhã, e eu não consigo mais ficar sentada, esperando que algo aconteça. Não sei o que estou esperando, talvez um sinal, talvez uma mudança, mas sei que ficar parada não vai me levar a lugar nenhum.

Coloco os tênis sem muito entusiasmo e decido correr. Não sei por que, mas o movimento parece uma resposta, uma forma de me livrar da sensação de sufocamento que cresce a cada dia. Ao menos, posso sentir o vento, posso ver a rua passando rapidamente sob meus pés, como se o simples ato de me deslocar pudesse me distanciar de mim mesma por um tempo. Quem sabe, eu encontre algo no caminho que me faça entender essa solidão que carrego.

O som dos meus passos se mistura com o batimento do meu coração, que acelera junto com a velocidade do meu corpo. Sinto o ar fresco, mas também a pressão do meu próprio corpo, como se cada movimento fosse uma tentativa de me libertar das correntes invisíveis que me prendem à rotina de todos os dias. Minha mente está em silêncio, mas minha alma grita.

Correr é mais fácil quando você não pensa. Eu só sigo em frente, sem realmente me preocupar para onde vou. Olho para o chão, depois para os lados. A cidade vai ficando para trás, e as ruas vão se tornando cada vez mais tranquilas. O som do trânsito desaparece e o único barulho é o dos meus pés batendo no concreto. Eu não me importo com o destino, não me importo com o que está à frente, só preciso correr.

Passo por uma rua que conheço bem, mas hoje parece diferente. O sol começa a se esconder atrás das nuvens, deixando o ambiente com uma leve sensação de mistério. Vejo uma árvore à esquerda, com seu tronco retorcido, suas folhas secas caindo ao vento. Cada folha que cai é um lembrete de que o tempo está passando, mas eu continuo correndo, como se fosse possível correr contra ele.

Eu não sei quanto tempo se passou. O ar começa a ficar mais fresco, e a paisagem vai mudando lentamente. As ruas de concreto e as casas com fachadas padronizadas dão lugar a um caminho menos povoado, mais tranquilo. As árvores se tornam mais altas e densas, criando um túnel de sombras e luz filtrada. Sinto que estou me afastando de tudo o que conheço, e, pela primeira vez em muito tempo, não sinto medo. Sinto uma leveza, como se estivesse me libertando de algo.

E então, como se o destino tivesse me guiado até ali, algo chama minha atenção. A visão de uma construção que se destaca entre as árvores. Uma biblioteca. Seus muros de tijolos, desgastados pelo tempo, parecem contar histórias que eu nunca soube que queria ouvir. Um lugar silencioso, misterioso, com uma aura de tranquilidade que parece me convidar a entrar. Não sei por que, mas sinto como se aquele fosse o lugar onde eu deveria estar. Como se, de alguma forma, eu tivesse corrido até ali, sem saber por quê.

Me aproximo da porta de vidro com letras douradas que anunciam "Biblioteca Municipal". Uma brisa leve me envolve e, antes que eu perceba, estou entrando. O cheiro de madeira envelhecida e de livros antigos me envolve instantaneamente. A sensação de acolhimento é imediata. O silêncio aqui não é pesado, como o da minha casa. É um silêncio que se espalha pelo ambiente, como se o próprio ar estivesse esperando para ser preenchido com as histórias que estão guardadas ali.

A biblioteca é mais do que eu esperava. As estantes são altas, quase tocando o teto, e estão repletas de livros, como se cada um deles fosse um pedaço de uma vida que não conheço. As paredes têm um tom acolhedor, a luz suave, mas suficiente para iluminar os cantos mais distantes. Eu posso sentir que aqui, posso ser qualquer pessoa, ou talvez, ninguém. Aqui, não sou julgada. Aqui, sou apenas mais uma alma que se perdeu entre as palavras.

Sigo em direção a uma das estantes, quase como se estivesse sendo guiada. Minhas mãos se estendem para tocar os livros, e sinto o papel sob meus dedos. Eu sempre amei livros, sempre me senti em casa nas páginas das histórias, mas essa sensação é diferente. Aqui, eles parecem ser mais do que apenas palavras. Eles são um refúgio, uma maneira de escapar de mim mesma, de encontrar algo que, por um momento, me faça sentir menos sozinha.

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⏰ Última atualização: Nov 08 ⏰

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