A luz do dia entra timidamente pela janela do meu quarto, e por um instante, penso que ainda é madrugada. É esse o horário em que gosto de acordar. Não porque sou uma pessoa matutina — longe disso — mas porque é o único momento do dia em que o silêncio parece completo. O mundo lá fora ainda está adormecido, e eu posso fingir que estou sozinha no universo.
Troco de roupa, pego minha mochila e coloco um dos meus livros favoritos dentro. Não sei por que carrego livros para todos os lugares, mesmo sabendo que dificilmente terei tempo para lê-los. Talvez seja pelo conforto que eles me dão, como se fossem amuletos. É quase um lembrete de que, se o dia for difícil, eu posso me refugiar em suas páginas.
Saio de casa sem fazer muito barulho, deslizando pela porta como um fantasma. A rua está vazia, e o ar fresco da manhã me envolve, me acolhendo em sua serenidade. Caminho em direção ao parque. É um lugar onde costumo ir quando sinto que a solidão está me sufocando, mas de uma forma irônica, é também o único lugar onde eu me sinto bem em estar sozinha.
Sento em um banco, ainda úmido do orvalho, e observo o movimento tímido das árvores. As folhas dançam ao vento, como se estivessem me convidando para um baile silencioso. Pego meu livro, mas não abro. Hoje, não consigo me concentrar nas palavras de outros. Hoje, preciso encarar as minhas próprias.
Penso em como é estranho se sentir sozinha em um mundo tão cheio de gente. Sinto como se estivesse do lado de fora, olhando pela janela uma vida que não é a minha. Tento me encaixar nas conversas, sorrir nos momentos certos, mas é tudo muito forçado. No fundo, eu me vejo como uma atriz mediana tentando interpretar um papel que não domina.
Começo a lembrar de momentos em que tentei me abrir, em que tentei fazer parte de algo maior. Foram poucas as vezes, e a cada tentativa, o resultado foi o mesmo: portas fechadas. Não literalmente, claro, mas é assim que se sente quando você não é ouvida. Quando suas palavras são recebidas com desinteresse ou, pior ainda, com piedade.
Respiro fundo. Nunca fui boa na cozinha, mas tentei e tentei até conseguir fazer melhor. É assim com quase tudo na minha vida: tentativa e erro, erros que parecem infinitos. Mas aqui estou eu, tentando encontrar um motivo para sorrir e seguir em frente.
Observo uma mãe empurrando o carrinho de bebê, um casal correndo lado a lado e um cachorro brincando com seu dono. Todos parecem tão felizes, tão completos. Será que é só uma impressão minha? Será que todos se sentem um pouco sozinhos, como eu, mas são bons em esconder?
Fecho os olhos por um instante e sinto o vento acariciar meu rosto. Penso em todas as coisas que nunca disse, nas conversas que tive apenas em minha cabeça. São tantas histórias que não vivi, tantos momentos que deixei passar. Mas talvez tudo bem. Talvez a beleza de viver também esteja no silêncio, nos momentos que compartilhamos apenas conosco.
A vida real é barulhenta, mas o silêncio... O silêncio é onde encontro minha paz. Mesmo que seja só eu e o vento, já é o suficiente. E é aqui, nesse pequeno espaço de solidão, que encontro o conforto de ser quem sou.
Abro meu livro, finalmente, e começo a ler. As palavras se tornam meu mundo, e por alguns minutos, eu sou a heroína de outra história. Uma história onde a solidão não é um fardo, mas uma escolha consciente de apreciar minha própria companhia.
Enquanto o sol sobe no céu, esquentando minha pele, eu penso em como tudo pode mudar de um instante para outro. Talvez amanhã, ou quem sabe depois, eu encontre alguém que veja o mundo da mesma forma que eu. Mas até lá, estou bem com meu próprio silêncio e minha própria solidão.
As páginas do livro me envolvem, mas minha mente vagueia. Leio as mesmas frases repetidas vezes, sem absorver seu significado. Não é a primeira vez que isso acontece; na verdade, é comum. Eu me pergunto se, em algum momento, vou encontrar uma história que me prenda tanto que eu esqueça do mundo ao meu redor. Talvez eu esteja procurando um livro que fale de mim, mas não sei se alguém já escreveu algo assim.
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Silêncio em Solidão
ChickLitSilêncio e a Minha Solidão" explora a realidade da solidão que muitos enfrentam, refletindo a desconexão emocional e a busca por pertencimento. Através de uma narrativa sensível, o livro convida os leitores a reconhecerem suas experiências de solidã...