A primeira cor, vermelho!!

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Nasci em uma cidadezinha no interior de Minas Gerais, chamada Santa Esperança. O nome me parecia, desde criança, um presságio de grandes coisas, embora o lugar fosse pequeno, simples e silencioso, espremido entre montanhas verdes e cortado por um rio que sempre parecia estar à beira de secar. Meu mundo era feito de poeira vermelha, que subia na estrada de terra quando o vento soprava mais forte, e do cheiro da chuva, que deixava o chão escuro e úmido, formando pequenas poças onde eu via o reflexo do céu.

Naquele tempo, minha vida era uma paleta de cores vivas, ainda que singelas. Eu acordava com o amarelo do sol despontando no alto das serras e passava os dias correndo entre árvores, subindo nas pedras e sonhando com aventuras. Santa Esperança era tão pequena que qualquer estranho que chegasse era um evento. Com poucos comércios, uma igreja de pedra no centro da praça e um bar onde os homens se reuniam ao fim do dia, as novidades sempre viajavam depressa. A infância, ali, era como um sonho silencioso, onde os dias pareciam se arrastar no compasso da natureza.

Minha mãe era professora na escolinha da cidade, e meu pai era o único alfaiate da região. Eles me ensinaram a valorizar cada coisa, como se tudo tivesse seu próprio tom, seu brilho. Minha mãe, com sua delicadeza, dizia que aprender a ler era como abrir as portas de um mundo colorido; e meu pai, com seu jeito sério e meticuloso, me falava da importância de cuidar de cada detalhe, porque eram eles que faziam a diferença no final.

Santa Esperança não era rica em dinheiro, mas sim em paisagens que pareciam obras de arte, e em pessoas que, mesmo simples, guardavam histórias complexas. Naquele chão batido e naquela poeira, foi onde aprendi as primeiras lições de vida. E cada uma delas, hoje percebo, deixou uma marca, uma cor que ainda carrego comigo.

— Joaquim, hora de acordar, meu filho — sussurrou dona Carmem, puxando as cobertas que ele insistia em segurar.

— Não, mãe… tá muito cedo — respondeu ele, virando o rostinho para o outro lado, ainda com os olhos fechados.

Dona Carmem soltou uma risada baixa e carinhosa.

— Cedo nada, Joaquim! O sol já tá lá fora, chamando você pra mais um dia bonito. Não quer ver o sol nascer?

O menino abriu os olhos, ainda sonolento, e espiou pela janela, onde uma faixa de luz começava a entrar, dourando o quarto.

— É que… o sol é muito claro, mãe — ele disse, esfregando os olhinhos.

— Ah, mas o sol só fica claro quando a gente deixa ele nos pegar de surpresa. Vem, levanta, que hoje é dia de aprender coisas novas na escola. A dona Marieta vai ler histórias, não quer ouvir?

Joaquim ficou em silêncio por um instante, claramente tentado pela ideia. Mas o sono ainda o puxava de volta para o travesseiro.

— E se eu dormir só mais um pouquinho, mãe? Depois eu escuto as histórias…

Carmem balançou a cabeça, com um sorriso divertido, e deu um beijo leve na testa dele.

— Hoje você pode até dormir mais um pouquinho, mas lembra, Joaquim: cada dia é uma cor nova que a gente descobre, e cada dia que passa sem ver o mundo lá fora é uma cor que você perde. Agora me diz, você quer perder a cor de hoje?

O menino olhou para ela com curiosidade, ainda com o rostinho amassado de sono, mas algo naquelas palavras parecia fazer sentido. Ele se levantou, cambaleando um pouco.

— Não quero perder cor nenhuma, mãe.

— Então pronto! — disse dona Carmem, rindo e ajudando-o a levantar. — Vamos descobrir as cores de hoje juntos.

Dona Carmem levou Joaquim até o banheiro, pegou a pequena escova de dentes dele e começou a passar a pasta.

— Abre a boquinha, Joaquim — pediu ela, com delicadeza.

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