No dia seguinte, Maria Luiza acordou com a luz do sol filtrando pelas cortinas. O encontro da noite anterior ainda ecoava em sua mente. As palavras de Radinho sobre um futuro diferente a inspiraram profundamente, e ela sabia que precisava transformar suas ideias em ação. Depois de tomar café da manhã, decidiu conversar com seu avô, que estava sentado na varanda lendo o jornal.
— Oi, vovô. Posso falar com você um minuto? — pediu ela, nervosa, mas determinada.
— Claro, querida. O que você tem em mente? — ele respondeu, fechando o jornal e dando-lhe toda a atenção.
— Ontem, conversei com a Dona Arlete sobre a associação. Quero fazer algo de verdade para ajudar os moradores e os jovens daqui. Estou pensando em promover algumas atividades, dar um pontapé inicial — explicou, animada.
O avô olhou para ela, com uma expressão entre a preocupação e a admiração.
— Isso é bom, Maria Luiza, mas você sabe que as coisas não são fáceis por aqui. Algumas pessoas nem acreditam que podem mudar. E se você não conseguir apoio?
Ela suspirou, ciente dos desafios, mas determinada.
— Eu sei que não será fácil, vovô. Mas se eu conseguir ao menos despertar alguma esperança nas pessoas, talvez possamos começar a mudar, nem que seja aos poucos.
Ele assentiu, percebendo a convicção nos olhos da neta.
— Tenho orgulho de você, Maria Luiza. Vá em frente com seu projeto, e conte comigo para o que precisar — disse ele, apertando a mão dela com firmeza.
Sentindo-se revigorada, Maria Luiza decidiu ir até a pequena barraca de papelaria de Dona Rosa, no Dendê, para comprar o que precisava. A caminho da barraca, ela avistou Radinho do outro lado da rua, conversando com alguns dos garotos da área. Assim que ele a viu, abriu um sorriso e se despediu dos amigos, caminhando em direção a ela.
— Ei, Maria Luiza. — chamou ele, já com aquele sorriso sincero. — Vai pra algum lugar com essa pressa toda?
Ela parou, surpresa, mas feliz em vê-lo tão cedo.
— Vou até a Dona Rosa comprar umas coisas pra fazer os cartazes da associação. Quer vir comigo? — perguntou, animada com a ideia de tê-lo por perto.
Os olhos de Radinho brilharam com a oportunidade.
— Claro que quero! — Ele se posicionou ao lado dela. — Mas deixa que eu carrego isso pra você. — Pegou a bolsa dela com gentileza, segurando-a com firmeza.
Maria Luiza riu, tocada pelo gesto.
— Ah, nossa, que cavalheiro. Obrigada!
Ele deu de ombros, um pouco envergonhado, mas com um sorriso no rosto.
— Ué, tenho que ser, Linda. — brincou ele. — Vou te mostrar como eu trato uma princesa, dona Maria Luiza.
O coração dela deu um leve salto. Era a segunda vez que ele a chamava de “linda”, e ela não conseguia evitar o sorriso tímido que brotava em seus lábios. Enquanto caminhavam juntos. Enquanto caminhavam, ela começou a explicar com entusiasmo a ideia da associação. Radinho ouvia com atenção, admirado pela dedicação dela ao projeto.
Logo chegaram à barraca de Dona Rosa, uma senhora carismática e sempre prestativa, que vendia de tudo para os moradores da região. Radinho parou alguns passos atrás de Maria Luiza, como se estivesse ali para protegê-la, enquanto ela se aproximava da entrada.
— Olá, Dona Rosa! — cumprimentou Maria Luiza, percorrendo as prateleiras cheias de materiais. — Preciso de algumas coisas para um projeto da associação. Você tem canetas coloridas e cartolinas?
— Olá, minha querida. Tenho sim! — respondeu Dona Rosa com um sorriso caloroso. — O que você está planejando fazer?
Maria Luiza explicou rapidamente sobre os cartazes e as atividades que queria promover. Dona Rosa ouviu com atenção, um brilho de orgulho nos olhos.
— Isso é maravilhoso, Maria Luiza! Você sempre foi tão dedicada. — Não se esqueça de usar a sua criatividade.
— Obrigada, Dona Rosa! — respondeu Maria Luiza, animada. — Vou fazer o meu melhor.
Maria Luiza pegou a mão de Radinho, puxando-o para dentro da barraca com um sorriso no rosto.
— Então, o que você vai precisar, linda? — perguntou Radinho, olhando para ela com curiosidade.
— Três cartolinas brancas, duas amarelas, um EVA dourado e outro azul — listou ela. — E também umas canetas coloridas e um piloto permanente, o meu está acabando.
Radinho arqueou uma sobrancelha, rindo.
— Vai fazer tudo isso sozinha?
— Vou, mas a Dona Arlete vai me ajudar fazendo cópias das informações para o primeiro evento. Ela cuidará dos panfletos, e eu dos cartazes.
— Eu ajudo com tudo isso, é só falar o que precisa — disse ele prontamente. — Aliás, posso aparecer mais tarde, se não se importar.
Surpresa com a disponibilidade dele, Maria Luiza sorriu.
— Sério? Eu ia adorar a ajuda! Fica muito mais fácil com alguém junto.
— Fechado, então! — Radinho pegou as sacolas e as cartolinas. — Depois daqui eu volto pro trabalho... mas hoje à noite tô livre.
Era noite de culto, mas Maria Luiza pensou que seu avô não se importaria se ela faltasse uma vez para preparar as coisas da associação.
— Então vai lá em casa hoje à noite — disse, com um pouco de ansiedade na voz.
Enquanto Radinho a ajudava a pegar os materiais, uma nova ideia surgiu na mente de Maria Luiza. Além dos cartazes, talvez pudesse organizar uma pequena feira de talentos para mostrar as habilidades dos jovens do bairro. Seria uma forma de unir as pessoas e oferecer um espaço de expressão para todos.
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O outro lado da fé - Radinho
FanfictionMaria Luiza sempre foi a neta perfeita do pastor: devota, obediente, e o exemplo vivo de uma jovem fiel. Mas, no dia em que seus olhos encontram os de um rapaz misterioso no fundo da igreja, tudo muda. Com ele, ela descobre sentimentos que nunca ima...