Guarde seus segredos

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Por mais que Radinho quisesse ajudar Maria e acompanhá-la até em casa, ele tinha que voltar ao trabalho. Wilbert tinha mandado ela fazer algo, e isso o impediu de ficar mais tempo ao lado dela. Assim, Maria Luiza seguiu sozinha, carregando a bolsa com as cartolinas e as canetas, quando ouviu alguém gritar seu nome.

— Maria Luiza!

Ao se virar, ela se deparou com Geise, a ex-loira do Dendê.

— Oi, Maria! Tudo bem com você? — perguntou Geise, seu sorriso iluminando o rosto. — Eu queria te perguntar uma coisa.

— Oi, tudo certo sim! Claro, pode perguntar.

— O Airton está querendo participar das atividades da associação. A Dona Arlete foi lá em casa hoje de manhã e pediu para mim e ao Evandro para deixá-lo participar. Mas, para ser sincera, ainda estou meio na dúvida. Não confio muito na Dona Arlete. — Geise hesitou, olhando para os lados antes de continuar. — Se eu deixar o Airton ir, você pode ficar de olho nele para mim?

Maria Luiza assentiu, compreendendo a preocupação de Geise.

— Claro, pode deixar. Eu vou planejar algumas atividades e acho que seria bom para ele.

— Obrigada, viu? — Geise sorriu, a gratidão estampada no rosto. — Só não comenta com ninguém, tá? Não quero que isso chegue aos ouvidos do Evandro. Ele pode achar que é coisa da minha cabeça e vai arrumar uma briga comigo.

— Pode deixar, ninguém vai saber — garantiu Maria Luiza, sentindo-se aliviada por poder ajudar.

As duas se despediram, e Maria Luiza segui seu caminho, para casa.






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Já eram sete horas da noite. Maria Luiza se encontrava deitada na cama do seu quarto, mergulhada em um livro de romance, quando três batidas foram ouvidas na porta. A menina suspirou, já sabendo quem era. Seu avô, o pastor João. Ela ainda não tinha contado a ele que não iria ao culto hoje, preferindo esperar até o último momento, pois sabia que, se informasse antes, ele não a deixaria faltar.

— Pode entrar — foi tudo o que disse antes de se sentar na cama.

— Não está pronta, Maria? — questionou o pastor João ao notar que a neta não estava arrumada. — Vamos nos atrasar.

— Vó, eu não vou poder ir hoje — disse a menina de forma direta, jogando logo a bomba.

— E eu posso saber por que não vai hoje? — respondeu o pastor, claramente irritado.

— Eu vou ficar para fazer os cartazes da associação. Prometi à Dona Arlete.

Ele a olhou por um momento, avaliando a situação.

— Tudo bem, pode ficar hoje. Mas só hoje, mocinha.

Maria Luiza levantou-se animada e correu até o avô, envolvendo-o em um abraço.

— Obrigada, vovó! — exclamou a menina. — Só tem mais uma coisinha... um amigo vai vir aqui me ajudar.

— Que tipo de amigo? — perguntou o pastor, a preocupação evidente em sua voz.

Embora o avô de Maria Luiza tentasse ajudar os meninos a não se envolverem com o movimento, havia uma coisa que ele não suportava: ver pessoas desse meio associadas à sua família.

— Um amigo que vai à igreja às vezes. Conheci ele lá.

De certo modo, Maria Luiza não mentiu. Realmente havia conhecido Radinho na igreja. Ela apenas omitiu que ele estava envolvido com o movimento. Não precisava entrar em detalhes.

— Tudo bem, se ele é da igreja, deve ser um bom rapaz. — Mesmo assim, juízo, hein?

— Sempre, vovó. — Maria Luiza sorriu, um pouco aliviada.

Após a conversa, o pastor João saiu do quarto, deixando Maria Luiza sozinha novamente. Ela olhou para o livro, mas sua mente estava distante. Estava animada para trabalhar nos cartazes e, mais ainda, pela companhia de Radinho. Enquanto isso, pensava em todas as ideias que poderiam surgir naquela noite.

O outro lado da fé - Radinho Onde histórias criam vida. Descubra agora