Novos começos.

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Maria Luiza acordou com a luz do sol filtrando pela janela, ainda lembrando da conversa intensa com Radinho e da briga com seu avô na noite anterior. Ela se espreguiçou, tentando deixar de lado os pensamentos pesados enquanto se preparava para o dia. Vestiu uma camiseta simples e uma saia jeans, pegou os cartazes que havia feito na noite anterior e saiu de casa, respirando fundo para acalmar os ânimos.

A caminhada até a associação parecia mais longa do que o habitual. O bairro estava começando a acordar, com crianças brincando na rua e vizinhos conversando sobre os acontecimentos do dia anterior. Quando finalmente chegou à associação, ela se sentiu um pouco mais leve, como se o ar fresco a estivesse revigorando.

Ao entrar, viu Dona Arlete organizando alguns materiais na mesa. A mulher sorriu ao avistar Maria Luiza.

- Bom dia, minha querida. - exclamou, com um brilho nos olhos. - Veio trazer os cartazes?

Maria Luiza assentiu, um sorriso tímido nos lábios.

- Aqui estão. - disse, estendendo os cartazes para Dona Arlete.

A mulher examinou os cartazes com entusiasmo, seus olhos brilhando de satisfação.

- Estão maravilhosos, Maria. Você tem um talento incrível para isso. Estou tão orgulhosa de você! - elogiou, com um sorriso que iluminava o ambiente.

Maria Luiza sentiu o calor da apreciação subir por seu rosto. Era sempre bom ouvir palavras de incentivo.

- Obrigada, Dona Arlete! Fico feliz que tenha gostado.

- Agora, gostaria que você me ajudasse com algo mais, se não se importar. Precisamos distribuir alguns panfletos com as informações sobre o nosso evento no próximo sábado. Você poderia cuidar disso?

Maria Luiza hesitou por um momento, mas a determinação que sentia em ajudar a associação a motivou.

- Claro. Posso fazer isso. Onde eu encontro os panfletos?

- Eles estão na sala ao lado, na mesa do fundo. - Dona Arlete apontou com a mão. - Depois, é só sair pela comunidade e entregar para os moradores. Pode ser?

- Pode deixar. - respondeu Maria Luiza, animada. - Vou me certificar de que todos recebam.

Após pegar os panfletos, Maria Luiza começou a distribuir, sentindo-se bem ao ver os rostos dos moradores iluminarem-se com as informações sobre o evento. Ela se lembrou do que Radinho havia dito na noite anterior sobre querer ajudar a comunidade. Esse pensamento a incentivou a dar o melhor de si.

Conforme passava de porta em porta, Maria Luiza refletia sobre sua vida. A cada sorriso e agradecimento que recebia, ela se sentia mais conectada àquela comunidade, como se cada entrega fosse um pequeno passo para se afastar das sombras do passado que tanto a assombravam.








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Quando Maria Luiza estava distraída contando quantos panfletos ainda tinha, uma figura parou em sua frente: Evandro do Dendê.

Ali estava ele, um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro, parado bem na sua frente. Porém, possuía um sorriso caloroso no rosto, diferente dos dois seguranças armados atrás dele, que tinham expressões sérias.

- Tudo bem, Maria? - perguntou Evandro, com um tom amigável.

- Oi. - Maria Luiza respondeu, forçando um sorriso educado, mas sentindo um frio na barriga. - Tudo bem, sim.

- Eu soube que você está ajudando minha mãe com o projeto da associação. - Ele fez uma pausa, olhando-a nos olhos. - Fico feliz por isso. A associação deixa minha mãe mais animada, então, obrigado.

- Não precisa agradecer. A dona Arlete sempre foi tão boa comigo. Isso é o mínimo que eu possa fazer para retribuir. - Maria Luiza disse, tentando esconder seu nervosismo.

Evandro inclinou a cabeça levemente, mostrando que estava genuinamente interessado.

- Você faz mais do que imagina, sabia? - ele disse. - A sua ajuda realmente faz a diferença. Às vezes, só de ver minha mãe feliz já é um alívio.

- Que bom ouvir isso. - Ela sorriu, sentindo-se um pouco mais à vontade. - Eu só quero ajudar.

- E se precisar de algo, pode contar comigo, tá? - Ele se aproximou um pouco mais, sua expressão mais séria agora. - Eu sei que às vezes pode ser complicado. - Ele gesticulou levemente em direção ao Dendê.

Maria Luiza assentiu, sentindo o peso das palavras dele.

- É verdade. Às vezes, parece que a gente está lutando contra tudo e todos.

Evandro a observou, a expressão no rosto mudando para um olhar compreensivo.

- Olha, eu sei como é. Crescer nesse meio... - Ele fez uma pausa, como se estivesse se lembrando de algo. - Mas a gente sempre tem uma solução.

- É isso que eu espero. - Maria Luiza disse, segurando um panfleto na mão, sua mente vagando para as mudanças que queria ver na comunidade.

- Você tem a força para isso. E se precisar de alguém para te apoiar, eu estarei por perto. - Ele sorriu, um sorriso que parecia promissor.

Maria Luiza sentiu um calor no peito, um misto de gratidão e dúvida?

- Obrigada, Evandro. Isso realmente significa muito para mim.

- Então, vou deixar você terminar o que está fazendo. - Ele se virou um pouco, mas hesitou. - E, ah, se precisar de ajuda para distribuir os panfletos, eu posso mandar alguém te ajudar.

- Pode deixar, eu já estou quase acabando. - Ela disse, sentindo-se mais confiante. - obrigado.


Evandro se afastou, e ela o observou por um momento, sentindo que havia algo mais ali, só que a menina não sabia explicar.

O outro lado da fé - Radinho Onde histórias criam vida. Descubra agora