Capítulo I:
"Devemos ir buscar a coragem ao nosso próprio desespero.
- Sêneca"Era um sonho que se repetia, várias e várias vezes durante as noites, onde sua mãe tocava seus cabelos cacheados, enrolando as pequenas curvas em seus dedos, um livro repousado em seu colo, e uma voz doce enquanto lia suavemente. Wallace sentia falta daqueles momentos preciosos, e a saudade suavizava quando ele tinha aqueles sonhos, de memórias antigas e felizes.
Fazia exatos quatro meses desde a morte de sua mãe, ele ainda conseguia sentir seu corpo gélido em suas mãos e o olhar frio de seu pai enquanto ele olhava para sua mulher ao chão. Nenhum dos dois estavam em casa, quando chegaram já não havia o que pudessem fazer, sua alma já havia ido embora de seu corpo, e apenas um fraco sorriso permanecia em seus lábios, enquanto olhos congelados observavam o além. Era como se os últimos segundos de sua vida haviam sido os melhores, ela parecia feliz. Wallace não conseguia imaginar por quê ela tinha aquela expressão em seu rosto, quando seu corpo havia sido baleado duas vezes, quando seu pescoço havia sido quebrado, e seu coração perfurado. Em que ordem fora feito tudo aquilo? Não se sabia ao certo. Wallace não compreendia, muito menos aceitava, que a polícia havia arquivado o caso depois de um mês. Sem resultado, eles disseram. Wallace os perguntou por que desistiram, mas nenhum deles respondeu, e mesmo ele indo todos os dias durante quatro meses na delegacia, continuou sem respostas. Até que um dia seu pai, a única família restante, decidiu mudar de cidade, dizendo ele que não podia mais viver na mesma casa que sua mulher fora morta, que tinha medo do culpado voltar e fazer o mesmo com eles dois, que não podia mais viver naquela cidade. Wallace tinha dezessete anos, aceitou aquilo de bom agrado, já que o mesmo também não aguentava mais aquele morada, não aguentava chegar todos os dias pela porta de entrada e torcer para que sua mãe não estivesse ali no chão. Ele passou meses vendo o sangue, o sorriso, os olhos perdidos, sentindo o frio em suas mãos, sua mente jamais esqueceria.
Foram quatro meses de luto, que se tornariam anos, mas seu pai insistia em dizer que a vida continuaria, que as coisas mudariam, e que os dois precisavam esquecer. Wallace fingiu concordar com seu pai, colocou as últimas malas dentro do carro e os dois partiram na jornada de recuperação.
Foi quando após três horas de viajem o sonho de Wallace acabou, a memória havia chegado ao fim, e seus olhos de pouco em pouco se abriam para contemplar a chuva que caía na estrada. Ele resmungou ao se arrumar no seu assento, piscou algumas vezes e olhou para o homem sentado ao seu lado. Seu pai era um homem de quarenta anos, com pele meio pálida devido ao seu sangue alemão, barba rala e olhos escuros, seus cabelos eram pretos mas alguns fios brancos escapavam lentamente. Já Wallace era um pouco diferente, seus olhos castanhos escuro brilhavam âmbar ao contato do sol, seu cabelo era da mesma cor e cacheado, sua pele não era tão pálida, continha um bronze leve. Sua beleza era encantadora, puxou de sua mãe, que era ainda mais bela que qualquer um. Diziam seus amigos que ele podia ser comparado a um deus, que ele havia nascido para ser modelo ou ator, que nas câmeras iria chamar atenção, ganhar fama e conhecimento, que ele havia nascido para ser visto. Wallace não pensava assim, dizia que sua beleza era mediana, mas sorria quando ouvia os elogios. Quando se olhava no espelho não conseguia ver aquela figura de um deus que seus amigos falavam, muito menos conseguia se ver, sua figura borrada no espelho gritava feiúra, ele nunca se imaginou bonito, mas se era parecido com sua mãe, era o bastante.
Seus pensamentos voltaram a se organizar quando o carro parou em um posto de gasolina, a placa na esquina dizia que a cidade mais próxima era em 102km, faltava pouco para Hillstown surgir, a cidade pacata que seu pai havia escolhido como novo lar. Wallace se contentou em respirar fundo e sair do carro assim que o mesmo parou em frente a uma lanchonete. Os dois entraram no estabelecimento e foram se sentar em uma mesa qualquer, escolheram qualquer uma já que o lugar estava praticamente vazio, e a garçonete pareceu animada ao ver clientes chegando, seu sorriso era largo e mostravam os dentes quando ela se aproximou. Wallace virou seu rosto para a janela ao seu lado, vendo a chuva cair e ignorando a presença da funcionária, que parecia acostumada com esse tipo de reação vindo de um jovem. O que ela não sabia era que o jovem sentado ali odiava sorrisos, sentia nojo, pois eles o fazia lembrar de sua mãe.
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Darkness Sun Vol1 - O filho perdido
Fantasy"Eu estive cansado por muito tempo, mas agora eu não quero ficar parado, não quero descansar ainda, tenho pessoas que quero proteger e um lar pra voltar. Eu vou lutar, por todos, por mim, por eles." Wallace se encontrava perdido em meio ao turbilhã...