Capítulo IV

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Capítulo IV:
"O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não."Mahatma Gandhi

Quando o sol entrou pelas frestas da cortina, Wallace abriu seus olhos inchados para olhar os raios de sol entrando no quarto. Ele respirou fundo, inspirando e expirando, lembrando-se como era respirar, e depois de cogitar várias vezes, se levantou devagar. Seu corpo estava dolorido, sem energia nenhuma, mas Wallace se obrigou a andar até o banheiro, tomou um longo banho e colocou as roupas mais confortáveis que pode, uma blusa de mangas compridas larga e uma calça de moletom. Não fizera questão de olhar no espelho, escovou os dentes enquanto olhava para a pia, e quando terminou saiu do banheiro.

Descendo as escadas sentindo o cheiro de café, e com passos silenciosos chegou a cozinha, onde seu pai lia um jornal com uma xícara de café ao lado. Wallace serviu um copo para si, se sentando a mesa e tomando em goles pequenos o líquido escaldante. O silêncio era horrendo, mas ainda a tentativa falha de seu pai de fazer um bolo de milho, a coisa estava bem a sua frente, queimada e deformada, o encarando já fria.

  - Você deixou tempo demais no forno, e pelo jeito esqueceu o fermento. – Wallace disse depois de muito tempo.

  - Não sou bom com doces, por isso sua mãe sempre fazia essas coisas. – Seu pai folheou o jornal enquanto falava. – Eu vou sair daqui alguns minutos, vou ir até a cidade fazer algumas compras, vou deixar a chave caso queira dar uma conhecida nas redondezas, só não vá muito longe e esteja em casa antes de anoitecer.

Wallace concordou em silêncio, olhando para o relógio atrás de si e vendo que já passava da uma da tarde. Ele lembrava de seu pai lhe dar alguns remédios na noite anterior, e lembra de deitar com muita dificuldade na cama, antes de apagar por completo. Com vergonha em seu rosto, ele enfim cortou um pedaço daquele monstruoso bolo, colocando-o em um prato pequeno que estava empilhado com outros ao lado, e dando uma garfada em seguida. Por mais que estivesse queimado e feio, o bolo tinha um gosto comestível, e sorrindo, Wallace continuou a comer enquanto tomava seu café.

  - Eu já fiz o almoço, está na geladeira se você sentir fome mais tarde. – Seu pai falou enquanto se levantava da cadeira, colocando a xícara na pia e em seguida olhando para seu filho. – Não vá longe.

  - Pode deixar. – Ele concordou, vendo seu pai sumir pela porta em seguida.

Wallace terminou de tomar seu café, guardou e organizou toda a cozinha, e quanto terminou resolveu assistir qualquer filme que passava na Tv. Descobriu depois de quase meio filme, que ele não estava prestando muita atenção, e mal se lembrava do que se tratava a história, por conta disso, a ideia de andar pela vizinhança não foi uma ideia ruim. Era sábado, em um dia e meio ele estaria começando sua vida de estudante outra vez, e ele se permitiu aproveitar o tempo que sobrava, pois de alguma forma ele sabia que o resto do ano não o daria nenhuma pausa.

Calçando seus tênis que estavam no pequeno hall de entrada da casa, Wallace saiu, trancou a porta e desceu os poucos degraus da varanda. Seguiu pelo mesmo caminho que seu pai havia feito pra sair daquele lugar e ir pra cidade, andando enquanto olhava cada ponto daquele lugar. Ele passou pelos mesmos lugares que havia visto no dia anterior, as casas abandonadas e destruídas, o pouco que sobrava do que um dia foi civilizado, sentindo em sua pele a melancolia daquelas estruturas decadentes.

Não estava tão frio quanto no dia anterior, o sol resolveu dar um pouco mais de calor ao mundo, o que fez com que o jovem se sentisse um pouco mais energizado, as vitaminas entrando em seus poros. E enquanto andava, ele perceberá algo que não tinha visto antes, uma placa em meio à mata densa, meio borrado mais ainda legível. Atalho para o lago Hill, a placa dizia.

Wallace não queria pensar em lagos tão cedo, mas a curiosidade era maior que si mesmo, e seus pés foram mais rápidos em entrar em meio à mata, seguindo um caminho esquecido e escondido, tomado pela grama e pelo musgo da floresta. Os pinheiros altos rangiam ao serem movidos pelo vento, e os pássaros cantavam ao longe canções que só eles entendiam, e naquele lugar intocado, Wallace parecia em casa de alguma forma.

Darkness Sun Vol1 - O filho perdido Onde histórias criam vida. Descubra agora