2 - A primeira visita

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As falas do Nun estão identificadas com "negrito" 
As falas do Yoongi para o lobo estão identificadas com "Aspas simples"
A narração é em primeira pessoa, então a descrição do ambiente é subjetiva e se dá pelos pensamentos do Yoongi

🐱 Yoon 🐱

O sol se põe, e o quarto se encontra envolto em penumbra. Apenas a luz da lua e o brilho frio do monitor permitem que eu veja meu próprio corpo na maca. Caminho em passos lentos até ele, com todo o cuidado e tensão que a situação exige de mim.

"Não é meio absurdo a gente ter que andar? Tipo, nem somos mais de carne e osso! Por que não estamos flutuando por aí que nem a Tinker Bell? "

 "Sério que é isso que te preocupa?"

"Os seus problemas você deve esquecer" - cantarola de forma debochada - "E, olha, eu só queria aproveitar antes de voltar pro corpo. Hakuna Matata, sabe?"

"Corta o musical e o seu planejamento de diversão. Sem turismo astral enquanto nosso corpo apodrece, vamos voltar agora mesmo."

A caminhada lenta e quase patética, finalmente chega ao fim. Olho a maca com medo e receio. Será que sentirei muita dor? E se minha alma voltar e não mudar nada? Se não for o suficiente para sair deste maltido coma?

Estico a mão, tremendo de ansiedade, e faço o primeiro toque. Sinto um arrepio percorrendo minha espinha - o toque é gelado e parece uma névoa densa. Aplico um pouco de força e vejo minhas mãos translúcidas atravessarem minha mão real. Sinto pequenas e leves correntes, fluxo de líquido viscoso e quente, um elétrico bem leve. Pelo menos consigo me sentir. Talvez seja um bom sinal.

Subo na cama e tento me encaixar. Conforme vou tentando alinhar meu espírito ao corpo, uma consciência física começa a surgir. Meu espírito se sobrepõe completamente ao corpo. Fecho os olhos, focado, tentando me conectar mais e mais. Depois de escutar muitos bips sem nenhuma alteração, me sento. Ainda apenas em espírito. Nun está ali, acuado, com o rabinho entre as pernas.

"Você podia tentar também, sabe? Fazer alguma coisa. Talvez juntos dê certo."

Ele acena vagamente, e eu me deito de novo. Desta vez tentamos focar na respiração e nos cheiros ao redor. Inspira. Expira. Inhale, inhale, exhale, exhale. Não me sinto vivo. Nem o meu cheiro de patchouli, nem o de álcool e desinfetante clássicos de hospitais. Nada.

"Isso não tá funcionando."

Me levanto e tento ir direto ao ponto: começo pela cabeça. O cérebro é o principal, certo? Virado de frente, uso toda a concentração que consigo reunir, mas ainda assim... nada.

"Acho que a gente não se ama o suficiente. Deveríamos ter escutado mais o Namjoon sobre amor próprio."

"Do que raios você está falando?"

"Tu quase se deu um beijo. Mas não rolou, né? Então... sem amor verdadeiro. Sem final feliz."

Por um segundo, preferia que ele tivesse ficado quieto. Mas não posso desistir agora. Tentamos mais uma vez. Concentração. Meditação avançada. Alinhamento de chakras. Memórias felizes. Gritar. Chorar. Espernear. Nada funciona.

Sentado ao lado da cama, com os ombros caídos, solto um suspiro longo e derrotado. Olho para mim mesmo, para o meu corpo, como se fosse algo estranho, algo que não me pertence mais.
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Começo a chorar, completamente desorientado e sem saber o que fazer ou pensar. Olho para minhas mãos levemente translúcidas e - apesar da ardência que me faz acreditar que choro - ao passá-las pelo meu rosto, confirmo que nada sai do meus olhos. Erguendo o rosto, vejo que, nos olhos de meu corpo, as lágrimas que caem são reais e escorrem pelas bochechas.

Preso dentro de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora