Rapaz misterioso

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Júlia- Um amor, duas famílias rivais, porém um final bem trágico.
Professor Alberto- Essa foi a sua conclusão de Romeu e Julieta?
Júlia- Sim, não tenho muito o que dizer- respondo rispidamente.
Professor Alberto- Jovem imatura.
Júlia- Imaturos são aqueles que se apaixonam facilmente.
Professor Alberto- Como pode dizer isso se nunca se apaixonou?
Júlia- Paixão é uma forma das pessoas fugirem da sua realidade.
Professor Alberto- Se você acha que sabe tanto assim, a sua próxima lição será descrever o que é o amor.
Júlia- Mas hoje é o meu último dia de aula.
Professor Alberto- Senhorita Júlia, suas aulas continuarão  normalmente mesmo frequentando uma escola.
Júlia- Isso é injusto, eu estaria estudando em dobro. Pensei que se eu frequentasse uma escola não precisaria mais de professores particulares.
Professor Alberto- Essas são simplesmente ordens do Senhor Capuleto.
Júlia- Eu não acredito nisso- saio irritada da sala de estar, e vou ao até o escritório do meu pai.
Júlia- Pai, precisamos conversar- entro em sua sala sem bater, ele está no meio de uma reunião.
Sr. Capuleto- Me desculpem senhores- ele está zangado e pega no meu braço, e me leva até a outra sala.
Sr. Capuleto- O que você pensa que está fazendo Júlia? Você interrompeu uma reunião muito importante.
Júlia- Talvez eu me comportasse melhor se o senhor me ouvisse- estou ficando irritada.
Sr. Capuleto- O que você quer dessa vez?
Júlia- Ser uma garota normal, frequentar uma escola como todo mundo, não ter tantos professores particulares.
Sr. Capuleto- Você não é como uma pessoal normal, você é a herdeira de uma grande associação internacional. Cumpra apenas as suas responsabilidades. Eu já te deixei frequentar uma escola, isso já não é o bastante.
Júlia- Não, eu não queria ser Capuleto- nesse exato momento, inesperadamente meu pai me dá um tapa na minha cara.
Subo correndo as escadas, até o meu quarto. Estou debruçada na minha cama, e começo a chorar. Até ouvir alguém bater na porta.
Júlia- Vá embora. Não me incomode- falo soluçando.
Vovó- Querida- ela vai entrando e sentando do meu lado.
Júlia- Me desculpe, pensei que fosse uma das empregadas.
Vovó- Você brigou de novo com seu pai?
Júlia- Existe mais alguém que me magoa?
Vovó- Tão dramática como a sua mãe- ela está limpando meu rosto com o seu lenço.
Júlia- Por que vovó? Por que eu tenho que ser assim? Por que eu não posso ser uma garota normal?
Vovó- Amanhã vai ser seu grande dia, você conhecerá muitas pessoas interessantes, e fazer bons amigos.
Júlia- Pareço uma boba, com dezesseis anos, vou ter meu primeiro dia de aula- começo a rir.
Vovó- Não se preocupa querida, tudo vai dar certo- ela me abraça bem forte.
Júlia- Espero que sim.
Vovó- Mas, eu tenho uma noticia boa.
Júlia- Sério?- estou empolgada.
Vovó- Vai ter uma festa de boas vindas para você na sua escola.

Entro no salão de festa, todos estão se divertindo, por um momento me sinto um pouco deslocada, até que vejo Bianca, minha amiga de infância.
Bia- Então, senhorita Capuleto, está prestes a encontrar um Montecchio- ela fala gozando de mim.
Júlia- Que piada mais sem graça Bia. Só porque não tenho o mesmo sobrenome da Julieta, não quer dizer que minha história vai terminar assim também. Na verdade, essa história já está me irritando, tive uma lição extra hoje por causa disso- falo irritada.
Bia- Relaxa um pouco Ju, olha lá pra direita, aquele rapaz de chapéu, pode até ser seu Montecchio- continua gozando de mim.
Júlia- Mal posso ver o rosto dele.
Bia- Vamos até lá para descobrir- ela me puxa pelo braço, me levando até a direção do rapaz.
Bia- Oi, prazer, meu nome é Bianca, mas pode me chamar de Bia. Essa é a Júlia, minha amiga, ela está um pouco envergonhada, mas não se preocupe, é porque ela não conhece muitos rapazes bonitos.
Nesse exato momento, eu não estava um pouco envergonhada, mas muito. Como a Bia pode falar essas coisas? Como ela consegue ser tão direta?
Rapaz- Prazer meninas- ele sorri, que sorriso lindo, mas ainda não posso ver o seu rosto.
Bia- Vou deixá-los se conhecerem- puxo o braço da Bia, e levo-a até um canto, longe do rapaz.
Júlia- Não me deixe aqui sozinha, você está maluca?
Bia- Pare de ser tão anti-social, vai lá se divertir- ela simplesmente vai embora.
Quando olho para atrás, o rapaz está vindo em minha direção, ele estende sua mão e me convida para dançar, eu recusei, dizendo que não dançava bem, mas ele insisti em me ensinar.
Rapaz- Olha só para você, já está dançando bem- ele está sorrindo.
Júlia- Obrigada, você me ensinou bem- estou nervosa, e piso no pé dele sem querer.
Rapaz- Ai, meu pé, ai, ai.
Júlia- Me desculpe, como eu sou desastrada- eu levo-o até fora do salão, ele ainda continua gemendo de dor, e se senta no banco.
Júlia- Você estava mancando, eu o machuquei muito, me desculpe.
Rapaz- Não foi sua culpa, eu me machuquei antes. Mas, logo vai passar.
O que eu deveria falar? Eu estou nervosa, eu não faço ideia de como puxar o assunto, comecei a pensar na aula que tive hoje de manhã com o professor Alberto, sobre a lição que ele me deu, sobre descrever o amor.
Júlia- Amor... Como posso descrever o amor?- penso alto demais.
Rapaz- Você disse algo?
Júlia- Não, não é nada, eu só estava pensando alto demais- quando fico nervosa penso alto.
Rapaz- Você disse algo sobre amor?
Júlia- É bem... Não me entenda mal... É apenas uma lição que meu professor passou... Estudamos sobre Romeu e Julieta, ele me pediu para descrever o amor.
Rapaz- E, como você descreveria?
Júlia- É meio complicado, eu nunca me apaixonei por ninguém- estou começando a ficar mais nervosa.
Rapaz- Eu posso te ajudar.
Júlia- O que?- estou um pouco assustada.
Rapaz- Vou te ajudar... Não se preocupe, você não tem jeito de ser alguém que se apaixona fácil, é só uma simulação. Farei tudo o que conseguir fazer, se eu tivesse com uma pessoa que eu amo.
Júlia- E, se...
Rapaz- Se nos apaixonarmos, hoje será só o começo, se for amor, nada nos impedirá de continuarmos.
Júlia- Eu não sei...
Rapaz- Eu tenho uma máscara, não vou conseguir esconder meu rosto por muito tempo. Se, eu não conseguir te ajudar, pode me esquecer facilmente, pois não saberá quem eu sou.
Júlia- E, quanto a você? Você já sabe quem eu sou.
Rapaz- Não se preocupe.
Fomos até a sala de teatro, ele pega uma máscara preta, era tão linda, cobria metade do seu rosto. Isso era bom porque eu ainda poderia ver o seu sorriso.
Fomos até o jardim da escola, onde há rosas vermelhas.
Rapaz- Segure a rosa, mas cuidado com o seus espinhos. A rosa é tão bela, minha virtude é conhecê-la, mas os espinhos são os defeitos, os obstáculos de todo amor.
Júlia- Obstáculo?
Rapaz- No momento, o único é você não saber quem eu sou.
Júlia- Então, toda vez que temos uma rosa temos também o seus espinhos.
Rapaz- Toda vez que existe um amor, há os seus obstáculos.
Júlia- Então, por que amar, se é tão complicado?
Rapaz- Não tem como evitar, é um sentimento incontrolável.
Júlia- Eu não entendo, quanto mais você me fala do amor, mais eu fico confusa.
Rapaz- É um sentimento confuso. Quando pensar que está gostando de alguém, sempre se pergunta se isso realmente está acontecendo. Mas, não podemos escolher, quem amamos e nem quando.
Júlia- Você parece entender muito.
Rapaz- Como você disse o amor é confuso, quanto mais eu entendo, mais eu não entendo.
Júlia- E, você ama alguém?
Rapaz- É um segredo.
Júlia- Parece que você tem resposta para tudo.
Rapaz- Eu só não quero ficar sem te responder.
Júlia- As pessoas dizem estar apaixonados para fugir da realidade.
Rapaz- Isso depende muito, se o amor for a própria realidade.
Júlia- Eu sempre deixo as pessoas sem resposta, mas agora é você que está fazendo isso- eu começo a rir.
Rapaz- Mas, o que é a sua realidade?
Júlia- Minha vida sem graça como herdeira da família Capuleto.
Rapaz- É tão difícil ser Capuleto?
Júlia- É difícil as pessoas me identificarem só pelo meu sobrenome. Eu acho que eu seria uma pessoa diferente se não fosse por isso. Eu teria minhas próprias escolhas.
Rapaz- E, sobre Romeu e Julieta?
Júlia- Eu não consigo entendê-los. Eu não sei se um dia eu seria tão loucamente apaixonada para dar a minha vida por alguém.
Rapaz- O amor é capaz de tudo para salvar a outra pessoa.
Júlia- É sempre preciso pagar um preço tão alto para poder amar alguém?
Rapaz- É preciso amar para estar disposto a isso.
Por que ele sempre me deixa sem respostas? Por que em toda minha vida não senti tão ansiosa como hoje?
Rapaz- Vamos dançar de novo?
Júlia- E, o seu pé?
Rapaz- Já está melhor, não me importo muito com a dor- ele estende a sua mão, logo estamos dançando, mais lentamente do que antes, estou tão próxima dele, que posso ouvi-lo respirar, posso sentir o seu calor.
Júlia- Que cor de rosas você gosta?
Rapaz- Vermelhas.
Júlia- Por que?
Rapaz- Não posso te falar, esse também é meu segredo.
Júlia- Você é cheio de mistérios.
Rapaz- Mas, você é transparente, posso ver tudo em você.
Júlia- Como assim? Você mal me conhece.
Rapaz- Apesar de você tentar ser forte o suficiente, forte tanto para não amar, você se esquece que o amor não é uma fraqueza, mas sim uma virtude, como a beleza de uma rosa.
Júlia- Talvez eu nunca tenha essa virtude.
Rapaz- Por que existe em você esse medo de amar?
Júlia- Eu não tenho medo.
Rapaz- Você tem orgulho o suficiente de mentir, sendo que seus próprios olhos já dizem tudo.
Júlia- O que você pode ver em meus olhos?
Rapaz- Tudo aquilo que você tem medo de falar.
Júlia- Como assim?
Rapaz- Você mesma terá de descobrir, e então saberá descrever o que é o amor.
Bia- Júlia! Júlia! Júlia!- ouço a Bia me chamando, ela vem correndo em minha direção.
Júlia- O que foi?
Bia- Precisamos ir, seu pai mandou alguém para te buscar.
Júlia- Sim, eu já estou indo.
Rapaz- Acho melhor se apressar, eles estão te esperando.
Júlia- Sim, eu já vou indo... Vou vê-lo novamente?
Rapaz- Sim.
Bia- Vamos Júlia- ela me puxa pelo braço.
Eu entro no carro, mas minha mente continua vagueando. Muitas dúvidas na minha cabeça, muitas coisas que eu me pergunto. Por que meu coração parecia bater mais forte quando eu estava com ele? Por que eu sinto como se eu quisesse vê-lo novamente?
Bia- E, então, pegou o celular dele?- ela me pergunta de repente
Júlia- Não, eu nem sei o nome dele.
Bia- Eu não acredito que você deixou passar uma oportunidade dessa.
Júlia- Ele disse que vou vê-lo novamente.
Bia- E, você acreditou? Que menina inocente! Você acha que ele vai te procurar. Eu conheço esse tipo, eles brincam com seus sentimentos, depois nem querem saber mais de você. E, esse nem o nome falou- Bia parece zangada.
Júlia- Pode ser- abaixo a minha cabeça, falo como se eu tivesse me conformando com a situação.
Bia- Me desculpa Ju, eu acho que eu fui muito sincera- ela me abraça.
Júlia- Não tem problema, acho que era mesmo para ser assim.
Bia- Você gosta dele, né?
Júlia- Eu não sei, espero que não- falo em um tom seco.
Bia- Não minta para si mesma.
Júlia- Posso não saber muito, mas o pouco que sei já me basta, sei que o amor só traz a dor.
Bia- Você está certa disso?
Júlia- Sim- por mais que eu dissesse a mim mesma, que o eu faço é a maneira mais sensata de viver, eu não me sentia bem, parecia que eu estava triste.
Bia- Já chegamos na sua casa, suba lá e descanse. Amanhã vai ser um grande dia!- ela diz muito empolgada.
Júlia- Boa noite Bia- dou um leve sorriso, para disfarçar a minha angústia.
Bia- Boa noite Ju- ela retribui meu sorriso.
Eu deveria estar mais feliz do que nunca, mas não era assim que eu me sentia. Mal eu estava com sono, mal conseguia dormir, porque a noite só me vinha os pensamento a respeito dele.

Júlia CapuletoOnde histórias criam vida. Descubra agora