À procura de Rodrigo

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Eu não ligaria o fato da minha família não gostar dos Montecchios, se eu não tivesse conhecido um deles. Mas, e agora? Ninguém precisa saber quem foram os descendentes dele, mas se eu fizer isso, estaria traindo minha família?
Agora nós temos um segredo, o que nos tornou mais íntimos. Um segredo que eu não posso contar a ninguém, nem mesmo para Bia, minha melhor amiga.
Eu gosto do fato de estar me dando bem com o Rodrigo, só me incomoda o fato de estarmos escondendo algo. O que me assusta mais ainda, que ele me chamou para conversar a sós na hora do intervalo.
Júlia- O que aconteceu?- estou curiosa.
Rodrigo- Espere, precisamos ir a um lugar mais tranquilo- ele me leva até o jardim.
Júlia- Eu me sinto feliz por ser sua amiga. Mas...
Rodrigo- Mas o que?
Júlia- Não parece certo a gente se falar.
Rodrigo- Pensei que você não ligasse para essas coisas.
Júlia- Eu não ligo para o nome que sua família levava. Mas, eu me importo o fato de ficar escondendo algo das pessoas.
Rodrigo- Me incomoda também esse fato, mas eu te contei quem eu sou, porque eu não aguentava mais esconder isso de você. Na verdade, ainda existem muitas coisas que eu quero te contar, mas Júlia, não é nada fácil.
Júlia- Se ainda eu sei que você esconde muitas coisas de mim, por que eu deveria confiar em você?
Rodrigo- Porque você disse que queria ser minha amiga, e para isso, precisa confiar mais em mim... E, você é a única que eu posso confiar.
Júlia- Rodrigo, eu quero confiar em você.
Rodrigo- Mas não parece Júlia, você sempre está dizendo que não quer que as pessoas te enxerguem só pelo nome que leva, mas tem medo de que não seja mais nada além disso.
Júlia- Você está dizendo que se eu não fosse Capuleto, eu não seria ninguém? Olha, o único que está escondendo quem realmente é, é você. Minha família não tem culpa, se vocês são fracassados!- altero meu tom de voz.
Rodrigo- Eu pensei que você fosse diferente, mas não adianta tentar me enganar, seu sangue é Capuleto. Eu não deveria ter confiado em você.
Júlia- Eu sou Capuleto, e sempre vou ser, e você, por mais que mude o seu nome, sempre vai ser Montecchio.
Rodrigo- Tudo bem Júlia... Nunca nos demos bem, e não é agora que as coisas vão mudar. Sinto muito fazer você perder seu tempo, não vou mais te incomodar.
Júlia- Vai ser melhor assim- ambos estávamos irritados, mas Rodrigo parecia mais triste do que antes. Eu me perguntava se ele tinha me chamado aquela hora para contar algo, e no fim, não conseguiu falar.
Eu estava magoada com as coisas que ele disse, mas eu também não deveria ter dito aquelas coisas. Não éramos como Romeu e Julieta, sempre deixávamos o orgulho das nossas famílias falar mais alto.

Passaram se alguns dias, e Rodrigo não ia para escola, nem para o clube. Será que era por causa da nossa briga? Eu perguntava a todos, mas alguns não sabiam me dizer, outros não queriam me contar. Eu me sentia culpada por toda essa situação, se ele largasse tudo isso, não estaria prejudicando apenas ele, mas a todos no clube.
Bia parecia saber algo, mas ela está entre as pessoas que não queriam me contar. Eu teria de arrancar alguma informação a respeito dele, caso contrário, não aguentaria mais ficar nesse estado de culpa.
Júlia- Ei, Bia, espere, quero falar com você- eu levo ela até um lugar mais quieto.
Bia- Oi Ju, aconteceu alguma coisa?
Júlia- Sim, está acontecendo alguma coisa, e eu não sei o que é. E, você sabe, só que está me evitando para não contar.
Bia- Eu não sei o que você está falando.
Júlia- Sabe sim, pode falar Bia. É sobre o Rodrigo- eu a encaro seriamente.
Bia- Da pra ver que eu não vou conseguir esconder de você. Mas, não conta para ninguém... Marcos me disse que ele largou os estudos, teve que começar a trabalhar durante o dia, e cuidar da mãe dele à noite.
Júlia- E, por que vocês não me contaram?
Bia- Rodrigo não queria que você soubesse disso, ele disse que não iria mais te incomodar.
Júlia- Ele é um idiota- começo a ficar nervosa.
Bia- Calma Ju, ele vai ficar bem. Nós vamos dar um jeito.
Júlia- Como Bia? A culpa é minha- começo a chorar.
Bia- Eu pensei que você não se importasse com ele.
Júlia- Eu não sei... Eu detesto algumas atitudes dele, mas eu me preocupo com ele... Eu só queria que ele ficasse bem... Se ele se esforçava muito em entrar em uma universidade, é porque isso é importante para ele.
Bia- O clube de teatro era só um hobbie para ele no começo. Mas, parece que ele descobriu recentemente que o avô dele era dono de um grande teatro, que entrou em falência e manchou o nome de toda a família. Ele disse que queria limpar o nome da sua família, reabrindo esse teatro novamente.
Júlia- Ele te contou isso?
Bia- Eu vi ele chorando desesperado naquele dia que vocês foram no jardim conversar. E, ele me contou essa história, e disse que talvez fosse impossível para ele conquistar seu sonho, porque até a pessoa que ele ama, acha dele um fracassado.
Júlia- Ele disse quem era essa pessoa?
Bia- Não.
Júlia- Eu preciso falar com ele.
Será que Rodrigo estava se referindo a mim? Será que ele me ama? Pode ser que não, pode ser apenas uma coincidência. Mas eu preciso falar com ele.

Júlia CapuletoOnde histórias criam vida. Descubra agora