Prólogo

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Namjoon retirou suas luvas pretas, o couro pesado marcado por manchas de sangue. Cada dedo saía das luvas lentamente, um por um, enquanto ele ouvia o som úmido e suave do material deslizando por sua pele. Jogou-as no chão ao lado da jaqueta escura, cujas mangas também traziam marcas escarlates de sua última "visita".

Calmamente, ele tirou o resto da roupa e entrou no chuveiro, sentindo a água fria escorrer por seu corpo, lavando as últimas evidências.

Caminhou até seu computador, e quando as telas se acenderam, um rosto familiar surgiu. A imagem, retirada de uma câmera de segurança, mostrava a perfeição que Namjoon procurava.

E ali estava o motivo de sua devoção, o ponto central de sua obsessão...

...Jin

O rosto dele preenchia a tela, um sorriso quase tímido, mas gentil.

Tudo o que Namjoon precisava.

Tudo o que ele desejava.


Sete dias antes...

Namjoon estava parado na calçada, seus olhos fixos no outro lado da rua. Não sabia exatamente o que o havia feito parar, mas naquele instante, o mundo parou.

Ele estava do outro lado da rua, segurando uma pequena flor branca, um sorriso suave brincando em seus lábios.

Jin tinha uma presença que parecia gritar em meio ao mundano. Ele estava parado em uma floricultura,  do outro lado da rua, segurando uma pequena flor branca, um sorriso suave brincando em seus lábios. Os dedos delicados percorrendo pétalas com cuidado, seus olhos focados, brilhantes demais para este mundo.

Jin era perfeito.

Cada traço, cada sorriso discreto, a simplicidade no jeito com que movia as mãos, a leveza com que olhava ao redor. Era como se Jin existisse para ele, para ser visto, admirado, desejado.

Sem hesitar, Namjoon deu o primeiro passo, e então o segundo, mantendo a distância exata para que Jin nunca percebesse que estava sendo seguido.

Ele não conhecia Jin, não sabia seu nome, mas não importava. Jin era dele.

Namjoon o seguiu pelas calçadas, observando cada passo, cada gesto, como se estivesse registrando tudo em sua mente. Ao caminhar atrás dele, imaginava o som daquela voz mais de perto, a textura da pele, o cheiro de seu cabelo.

Quando Jin chegou ao trabalho, Namjoon observou de uma distância segura. Jin se movia atrás do balcão da loja de conveniência, os olhos atentos a cada cliente que atendia, a voz calma e gentil. Namjoon o ouviu rir de algo que um cliente disse...

...ele queria aquele som só para ele, queria o dono daquele sorriso enredado em seus braços, longe de todos esses estranhos.

O horário de trabalho se estendeu, a noite caiu, e Namjoon ficou ali, observando cada minuto, cada segundo, até que Jin finalmente fechou a loja e começou a caminhar de volta para casa.

Jin andava calmamente pelas ruas, como se o mundo ao seu redor não carregasse nenhum perigo. Namjoon cerrou os punhos, a mandíbula trincada enquanto o observava. Jin andava sem olhar para trás, sem pressa, sem medo. Ele não sabia que algum louco poderia segui-lo? Que algum psicopata poderia vê-lo?

Oh, Jin era tão... inconsciente, tão inocente.

NAmjoon murmurava, sozinho:

"Ninguém vai te machucar."

"Eu não vou deixar."

Ele passou horas do lado de fora da pequena casa onde Jin morava, um lugar desprotegido, decadente, em um bairro que parecia gritar perigo. Jin não merecia viver em um lugar assim. Namjoon sabia que ele deveria estar em um lugar seguro, cercado de conforto e longe dos olhares alheios.

Quando Jin finalmente chegou ao seu prédio, Namjoon se posicionou do lado de fora, na sombra de uma árvore.

Ficou ali, imóvel, apenas observando.

De sua posição, ele conseguiu ver o interior da casa de Jin, uma janela iluminada, revelando pequenas vislumbres de sua rotina.

Então, o telefone de Jin tocou, e ele o atendeu com um sorriso despreocupado, os olhos brilhando de uma maneira que fez algo dentro de Namjoon se contorcer.

"Para quem ele está sorrindo assim?"

Um onda de ciúme tomou conta de Namjoon, a raiva percorrendo suas veias enquanto via Jin ri, trocando algumas palavras com a pessoa do outro lado da linha. Namjoon sentiu os punhos se fecharem, os dentes cerrados.

"Esse sorriso… não deveria ser de mais ninguém. Jin deveria sorrir assim só para mim."

Aquele riso doce, aquele olhar gentil, era tudo o que ele precisava...

... e tudo o que ele não estava disposto a dividir!

Nos dias atuais...

Depois daquele encontro casual, a obsessão de Namjoon por Jin apenas cresceu, transformando-se em uma rotina fixa. Ele passou a vigiar Jin todos os dias, acompanhando seus horários, cada saída e cada retorno. Foi assim que, certo dia, ele descobriu algo que fez seu sangue ferver: Jin estava se encontrando com outro homem.

Namjoon os seguiu até um café discreto, mantendo-se à distância enquanto observava o sorriso doce de Jin. E o outro homem, aquele maldito, tocava no que era dele, segurando a mão de Jin por sobre a mesa, como se tivesse algum direito sobre ele. Namjoon sentiu o peito pesado.

— Jin, meu amor, não sabe com quem está se envolvendo? — Namjoon se perguntou baixo, enquanto bebia seu café em outra mesa

Como alguém tão puro poderia pensar em olhar para um verme daqueles?

Namjoon começou a investigar o homem, e rapidamente descobriu que ele não era nada além de um agressor. Houve várias denúncias de violência doméstica, uma ficha suja e a longa lista de vítimas traumatizadas. Apenas a ideia de Jin em mãos tão imundas fez Namjoon apertar os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos.

Naquela noite, Namjoon resolveu cuidar disso. Foi atrás dele, o encontrou em um bar decadente, e o seguiu até o beco escuro onde finalmente encontrou o homem.

Pouco depois, estava feito.

As manchas escarlates marcavam suas mãos, as roupas e, no meio do silêncio da madrugada, ele segurava o celular do homem, coberto por respingos de sangue, enquanto digitava calmamente uma mensagem para Jin.

"Jin

Acho melhor terminarmos por aqui. Eu menti sobre tudo, O que temos... não é o suficiente. Eu não sinto o mesmo. Me cansei disso, de nós. Não quero mais te ver."

Namjoon leu uma mensagem uma última vez, com um leve sorriso satisfeito, antes de enviá-la.

Ele observou as cameras no computador a sua frente, Jin estava no caixa, lendo a mensagem que acabara de chegar.

Namjoon observava a tela com um sorriso quase carinhoso, os olhos fixos na expressão de Jin enquanto ele lia uma mensagem na caixa da loja. Jin piscou algumas vezes, como se processasse o que acabou de ler, e, lentamente, sua expressão mudou. Ele desviou os olhos do celular, tentando disfarçar a mágoa, mas Namjoon pôde ver o tremor sutil em seus lábios, o brilho triste em seus olhos.

Namjoon se inclinou para a tela, quase como se pudesse tocá-lo de verdade. Com o dedo, traçou lentamente a curva suave do rosto de Jin, acariciando a imagem como se fosse a própria pele de seu amado.

— Ah, meu querido... não fique triste — murmurou, com a voz baixa e suave — Esse idiota nunca foi digno de você. Ele não merece um único sorriso seu — A ponta dos dedos roçava a tela, como se estivesse enxugando as lágrimas invisíveis que imaginava no rosto de Jin. Namjoon se moveu mais, os olhos fixos naquela imagem — Logo, logo, estaremos juntos, e eu vou te proteger de todos esses vermes. Ninguém vai te machucar outra vez. Eu prometo.

STALKER | NamjinOnde histórias criam vida. Descubra agora