A LITTLE DEATH

2. Uma pessoa de interesse

Sammy faz uma festa

Sam

1

A luz fraca da sala era quase sufocante, iluminando a sala tão pouco que o reflexo sombrio de seu rosto, no grande espelho a sua frente, parecia distante e irreal. A ausência de janelas tornava o ar espesso, como se cada respiração fosse densa e difícil de puxar. Ela encarou o vazio e mordeu a ponta da unha, roendo-a, impaciente. A sensação de espera era uma agonia constante, e o silêncio opressor fazia com que ela quisesse se levantar e gritar com a primeira pessoa que visse do porquê ela ainda estava ali.

Quando a porta finalmente se abriu, ela endireitou a coluna quase que automaticamente, assistindo os dois homens entrando. O primeiro era gordo e carrancudo, que fechou a porta atrás de si e o segundo tinha um olhar gentil e um copo de plástico na mão. Ele estendeu o copo para ela, colocando-o a sua frente e ela encarou o conteúdo, assistindo o vapor quente subir. Café.

— Tem gosto de merda, mas vai te esquentar — Disse, com uma risada seca.

Sam lançou um olhar rápido ao café, sem tocar no copo. A ideia de tomar qualquer coisa a fez sentir o gosto amargo da bile subir novamente, uma ameaça de enjoo que ela reprimiu com um leve tremor. Preferindo fixar os olhos no canto da mesa.

O segundo homem limpou a garganta e se apresentou. — Este é o detetive Stuart, e eu sou o detetive Cole — ele disse, tentando um sorriso. — Viemos apenas fazer umas perguntas.

— Por quê? — Sam perguntou em um tom amargo, levantando o olhar para ambos. — Mike já contou o que aconteceu, Emily já contou, Ashley, Chris, Matt, Jessica... — Ela listou os nomes rapidamente, sentindo uma raiva fria tomando conta de si. Por que eles precisavam ouvir mais? Todos já tinham falado, e cada uma dessas lembranças a fazia sentir-se à beira do abismo novamente.

Cole hesitou, os olhos cautelosos sobre ela e Stuart se inclinou sobre a mesa, encarando-a seriamente.

— Precisamos juntar o máximo de depoimentos possível para entendermos o que houve...

Sam desviou o olhar para o espelho, engolindo em seco, encarando o próprio reflexo distante e sombrio — Vocês precisam me ouvir — disse, a voz mais baixa, em um fio de voz. — Não importa se vão acreditar ou não... — Ela parou por um segundo, sentindo uma pressão insuportável no peito — Vocês precisam ir até as minas.

— O que tem nas minas, Sam? — Cole indagou, cauteloso.

Ela deu um sorriso sombrio, os olhos ainda fixos na mesa — Eu vi o que tem lá embaixo... e daria tudo para não ter visto. — A voz dela falhou, a bile ameaçando de novo, e ela precisou respirar fundo para se acalmar — Ele ainda está lá embaixo... nas minas... eu sei disso.

Cole e Stuart trocaram um olhar breve, um silêncio pesado caindo sobre a sala.

— Ele... quem? — Cole perguntou, confuso.

Sam ficou quieta, sentindo a bile amarga na garganta outra vez. Ela sabia o que tinha visto, mas cada vez que tentava explicar, era como se a realidade dela se tornasse mais distante, menos real. A imagem de Josh preso em sua própria mente, gritando coisas sem sentido, enquanto lutava para voltar a realidade ainda fresca em sua memória. 

— O que aconteceu na montanha, Sam? — Stuart interrompeu, tentando trazê-la de volta.

Ela revirou os olhos, exasperada — Vocês já sabem — murmurou, quase numa explosão, antes de soltar um suspiro profundo — Não começou na montanha. Foi no Halloween.