─── 𝐊𝐇𝐀𝐎𝐒 ───

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[•••] cinco horas antes

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[•••] cinco horas antes... 06:37PM

Desde aquele dia, a vida de Luce havia virado de ponta cabeça. Não que ela já fosse mil maravilhas, mas... isso definitivamente estava além do normal. Era pra ter sido só uma brincadeira idiota de Halloween, mas o que ela acabou ganhando em troca foi um "demônio" acorrentado a ela. Ao menos era assim que ela pensava, era assim que o via.

Um demônio alto... musculoso... de longos fios negros e olhos únicos... e céus! Como podia ser tão lindo? Luce jamais vira humano algum com tamanha beleza. E o que havia de belo nesse ser também havia de mistério e algo como se soando um alerta de perigo, algo gritante que dizia "fique longe", "afaste-se". Mas, quanto mais tentava se afastar e expulsar, mais e mais perto ele parecia se achegar até ela.

── Não vá. ── disse Kiernan, escorado em uma das paredes com os braços cruzados, encarando Luce enquanto ela terminava de se arrumar.

Diego e as meninas haviam convidado Luce para uma boate, e por que não ir? Depois de tudo o que passou e toda a loucura que ela estava enfrentando naquele momento, achava mais que justo ares mais frescos do que seu próprio quarto.

Mas não para Kiernan. Ele ficou a tarde inteira tentando convencê-la do contrário. Ao ver dele, algo estava errado, ele sentia, e estava disposto a convencê-la do mesmo, mesmo com toda a teimosia dela.

── Olha, vão ser só algumas horas... E você mesmo me disse que precisava pesquisar algumas coisas, então... relaxa! Chegarei antes das onze... tá bem "papai"? ── Luce disse com tom de voz afiado e irônico.

Kiernan não era muito familiarizado com os trocadilhos nem piadinhas internas, mas, por incrível que parecesse, essa ele sacou rapidinho, pois havia arqueado uma das sobrancelhas e até mesmo fez questão de se desencostar da parede e se mostrar afetado pela escolha de palavras de Luce.

── Luce... ── disse Kiernan, sua voz soou rouca, quase uma súplica, ao que Luce se virou para ele e o olhou no fundo dos olhos. Ele ficou em silêncio por alguns pouquíssimos minutos, como se ponderando quaisquer que fossem as ideias dentro daquela cabeça. E então, um suspiro lhe escapou e ele desviou o olhar. ── Só... tome cuidado.

── Tá vendo! Um "paizão". ── Luce gargalhou, pegando sua bolsa e assim que passou por ele deu uns dois tapinhas no ombro, como consolo e uma espécie de "até logo", se ele entendeu ou não o recado, ela não ficou para saber.

Desceu as escadas e então se deparou com Martha. Ela estava diferente nesses últimos dias, mais séria e preocupada do que normalmente era. E sempre que perguntada sobre o que estava acontecendo, ela simplesmente lançava aquele doce sorriso e dizia: "nada, querida".

Luce queria ter coragem mais que suficiente para dizer a ela que sentia e sabia que algo estava errado. Queria ter coragem em dizer que ela também poderia contar com Luce como uma amiga, se abrir para ela tanto quanto Luce o fazia com ela. Dizer a ela que seria mais fácil se dividissem o fardo, mas... Luce nunca disse a Martha e ela também nunca viu através de Luce.

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