Capítulo 4

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Havia algo de errado com Jisung.

Sua visão enevoada não conseguia reconhecer o espaço em volta, era embaçada nas bordas, mas algumas partes ganhavam uma nitidez desconcertante. Sentia dores, mas não conseguia olhar para seu próprio corpo. Não se sentia como ele mesmo, mas ainda assim, estava ali, vívido como uma memória.

Segurando seu corpo como um bem precioso, estava Minho, completamente diferente do habitual. Ainda parecia forte e refinado, mas maduro, de maneira que se Jisung apenas conseguisse esticar suas mãos, poderia tocar as linhas de expressão no canto dos olhos intensos dele. Os cabelos escuros estavam curtos e no peito, insígnias brilhavam numa farda verde militar. Quase nada se parecia com o Minho que Jisung conhecia, mas de alguma forma, ele sabia que aquela figura diante dele era Lee Minho.

À distância, sons de bombardeios e tiros faziam tudo tremer. Jisung não sabia de onde vinha, mas também escutava uma melodia suave e melancólica que destoava do caos de fora, persistente e repetitiva, perdida em algum lugar inalcançável. A música parecia ecoar por dentro dele, mexendo em algo que ele não compreendia. Era extremamente familiar ao mesmo tempo que ele não conseguia recordar de onde conhecia tal canção.

Seus sentidos ficavam cada vez mais nublados. Sentia o toque frio das mãos de Minho contra sua pele, segurando-o trêmulo, mas também com uma ternura inesperada. Havia algo nos olhos de Minho — um misto de tristeza e desamparo que ele não conseguia entender, mas que lhe parecia profundamente significativo. E então se sentiu triste, profundamente triste, tentando lutar junto a Minho contra algo que seu coração sabia que eles não poderiam vencer.

Logo ele começou a se afastar da cena, o corpo que possuía cada vez mais fraco, desfalecendo a cada respiração, e tudo se tornava menos real. Gotas molhavam sua camisa, caídas dos olhos marejados de Minho, uma súplica indizível contida naqueles olhos.

Jisung não aguentava mais, seus olhos combalidos percorreram o caminho até o chão e encontraram a origem de onde aquela melodia pertencia — uma a caixinha de música derrubada do móvel, aberta. A visão do objeto era clara e nítida, como um ponto de foco em meio ao turbilhão de sensações confusas, tinha o contorno exterior adornado em prata e azul celeste, enquanto o interno dispunha de um veludo vermelho escuro com uma paisagem pintada a mão na tampa. A mesma música continuava saindo dela, insistente, penetrando até os recantos mais profundos do coração de Jisung.

Ele queria guardar aquele momento, aquelas imagens, aqueles sons, enquanto sentia sua visão escurecer com o resto de suas forças se esvaindo do seu corpo e uma onda de desespero o tomou. Queria chorar de soluçar, gritar, espernear, mas “seu” corpo já não respondia, amalgamado em sentimentos que ele não tinha certeza se eram seus ou de seu outro eu.

De qualquer forma, ele não queria que aquilo acabasse, não queria se afastar de Minho naquelas condições, mas tudo parecia inevitável. A tristeza da melodia se tornava quase insuportável, como se o som estivesse ecoando seu próprio coração partido.

Jisung acordou em seu quarto, suando frio, o rosto úmido de lágrimas que ele nem percebeu derramar. A respiração ainda estava pesada, e ele se sentia descorçoado, como se uma parte dele ainda estivesse presa na atmosfera melancólica daquele sonho estranho.

Sentou-se, secando o rosto no quarto escuro iluminado apenas pela luminária fraca em sua mesa de estudos.
Ao recompor-se, percebeu que o vitral de sua janela estava escancarado, deixando o vento frio da madrugada entrar em seu quarto. Ele se levantou e foi até a janela, encostando no parapeito por um instante, as árvores do lado de fora dançavam em sintonia sob a lua baixa no céu, tudo estava normal. Jisung tomou um pouco de ar fresco e fechou a janela, trancando-a dessa vez.

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⏰ Última atualização: Nov 05 ⏰

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Vermelho como Vinho | MINSUNG HALLOWEEN 👻Onde histórias criam vida. Descubra agora