1- chegada

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O som das malas fechando ecoava pela casa, e Helena acompanhava cada movimento do pai com os braços cruzados, os lábios firmemente pressionados em uma linha fina.

- Eu não acredito que você acha que eu não consigo ficar sozinha por um mês, pai. - A voz de Helena saiu entrecortada de raiva contida. - Já não sou mais uma criança.

Théo suspirou, desviando os olhos dela enquanto dobrava uma última camisa.

- Não é uma questão de confiar ou não, Helena. É uma questão de conforto, tanto pra mim quanto pra Clara. Ela está passando por um momento difícil e... - Théo se interrompeu, escolhendo as palavras. - Achei que seria bom para as duas. Ela precisa de um lugar para ficar, e você terá companhia.

Helena balançou a cabeça em incredulidade, sem acreditar no que ouvia.

- Companhia? - Ela deixou escapar um riso seco. - Acho que se esqueceu de perguntar se eu queria essa "companhia".

Théo fechou a mala e olhou para a filha com um misto de impaciência e carinho.

- Helena, por favor. Clara é minha amiga há anos, e ela precisa de ajuda agora. Estou pedindo que você seja compreensiva.

- Compreensiva. - Ela repetiu a palavra, mordendo o lábio. - Claro, vou tentar ser compreensiva quando ela chegar.

A Chegada de Clara

O relógio marcava sete da noite quando Clara finalmente chegou. Com uma expressão cansada, mas forçando um sorriso, ela saiu do carro, cumprimentando Théo com um abraço. Helena observava da porta, a expressão impassível enquanto cruzava os braços.

- Obrigada, Théo, de verdade. - Clara murmurou, puxando uma mala pequena atrás de si. - Você não imagina o quanto isso está me ajudando.

Helena soltou um suspiro audível, atraindo a atenção de Clara. Clara ergueu as sobrancelhas ao vê-la, um leve desconforto passando pelo olhar, mas logo disfarçado por uma expressão de neutralidade.

- Ah, você deve ser a... babá substituta? - Helena perguntou, com um sorriso sarcástico.

- A... - Clara lançou um olhar rápido para Théo, que suspirou.

- Vocês vão sobreviver sem mim, tenho certeza. - Théo tentou soar leve, mas claramente desconfortável com o clima.

Helena apenas deu de ombros, e se virou, subindo as escadas sem uma palavra a mais. Clara acompanhou a movimentação, erguendo uma sobrancelha e decidindo não se deixar intimidar.

- Acho que temos um bom começo, Théo. - Ela sorriu para ele, tentando fazer graça, mas Théo apenas a abraçou, sussurrando um "obrigado" antes de sair.

O som do carro de Théo desaparecendo na rua era quase um sinal de que o silêncio dentro da casa estava prestes a crescer. As duas agora estavam sozinhas.

Helena estava na sala, folheando uma revista de maneira distraída, mas sem realmente prestar atenção. Clara deixou sua mala no corredor e se aproximou, tentando iniciar uma conversa.

- Olha, sei que essa situação não é ideal. - Clara começou, com um tom mais brando. - Mas prometo que não vou te incomodar.

Helena ergueu os olhos da revista, encarando-a com um olhar calculista.

- Não vai me incomodar? - Ela arqueou as sobrancelhas, cínica. - Vamos ver quanto tempo isso dura.

Clara, ao invés de se abalar, apenas sorriu levemente, mantendo a calma.

- Parece que já decidimos que não vamos nos dar bem, então. - Clara deu de ombros, pegando sua mala e subindo as escadas em direção ao quarto que Théo tinha arrumado para ela. - Mas obrigada pelo aviso.

Helena permaneceu sentada, o rosto quente de frustração. Não conseguia acreditar na audácia de Clara em se instalar ali tão facilmente, como se fosse a dona da casa.

~ Clara Albuquerque

No quarto, Clara se sentou na beira da cama, soltando um longo suspiro. Seus pensamentos voltaram para o término recente, a mudança repentina e o vazio que ela ainda sentia ao pensar em tudo que tinha deixado para trás. De um lar que já não era seu, de um amor que se tornara só uma lembrança.

Olhou ao redor, sentindo o quarto mais como um lugar provisório do que um lar. A casa estava em silêncio, mas o peso da presença de Helena era palpável. Ela não sabia ao certo como ia sobreviver àquele mês, mas algo lhe dizia que, por mais irritante que Helena pudesse parecer, talvez esse tempo juntas trouxesse alguma clareza - ou pelo menos um pouco de distração para seu coração partido.

Após um momento de reflexão, Clara se levantou, decidindo que um banho quente seria a melhor forma de aliviar a tensão do dia. Pegou uma toalha em sua mala, alongou os ombros e caminhou até o banheiro do corredor, tentando se adaptar ao novo ambiente. A casa, embora confortável, ainda lhe parecia estranha e um pouco impessoal.

Ao abrir a porta do banheiro, Clara notou o cheiro suave de lavanda do sabonete, um detalhe que a fez sorrir. Ela ligou o chuveiro, deixando que a água aquecesse, e se encarou no espelho por um momento, observando as olheiras discretas e o ar cansado que insistia em se manter ali.

Depois de alguns minutos sob a água quente, sentiu os músculos relaxarem e um pouco do peso do término e da mudança recente escorrer pelo ralo. Com os olhos fechados, Clara se permitiu esquecer, ainda que por alguns segundos, a tensão da chegada e o olhar penetrante de Helena.

Quando terminou, enrolou-se na toalha, respirando fundo antes de sair. Caminhou de volta ao quarto, onde rapidamente colocou um pijama confortável e se ajeitou na cama. Fechou os olhos, tentando ignorar o fato de que do outro lado do corredor estava alguém que, claramente, não parecia muito feliz com sua presença.

Clara deu um último suspiro e se ajeitou melhor e adormeceu.

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Espero que gostem, estou ansiosa para escrever ela toda pra vocês!

Um Amor Inesperado - CLARENA 💐Onde histórias criam vida. Descubra agora