A primeira luz do dia invadiu o quarto de Clara, que se mexeu na cama, desconfortável com a claridade e o silêncio opressivo da casa. Ao descer as escadas, ainda meio sonolenta, se deparou com Helena na cozinha, já com uma xícara de café nas mãos e um olhar nada acolhedor.
Helena observou Clara entrar, com um sorriso sarcástico brincando nos lábios.
– Espero que a cama tenha sido do seu agrado – disse Helena, o tom envenenado. – Já que parece que vai aproveitá-la por um bom tempo.
Clara apenas ergueu as sobrancelhas, sem perder a compostura.
– Foi ótima, obrigada. Melhor que o sofá que eu imaginei que você ia me oferecer.
Helena deu uma risada seca, cruzando os braços.
– Ah, então você é esperta. Isso facilita as coisas. – Ela estreitou os olhos. – Mas me poupe das gentilezas, não sou fã de visitas prolongadas.
Clara se aproximou do balcão e, sem se abalar, pegou uma caneca, servindo-se de café enquanto falava calmamente.
– Não se preocupe, Helena. Não vim aqui para te agradar.
Helena revirou os olhos, mas continuou com as provocações.
– Claro que não. Afinal, é fácil aceitar ajuda dos outros quando as coisas dão errado, né? Parece que você é boa nisso.
Clara mordeu o lábio, controlando a raiva que subia. Devolveu o olhar afiado, com um sorriso de desafio.
– É, e parece que você é boa em fingir que está no controle. Deve ser cansativo, não?
Helena fechou a cara, mas antes que pudesse responder, Clara deu as costas, levando a xícara com ela.
As duas ficaram em silêncio, cada uma segurando o próprio orgulho.
Mais tarde naquela manhã, Helena estava terminando de arrumar suas coisas quando se deu conta de que seu carro estava na oficina, e Théo havia saído com o dele pra viagem. Precisaria pedir carona para a faculdade. A ideia de pedir ajuda a Clara a incomodava profundamente, mas não havia outra opção viável.
Helena respirou fundo e desceu as escadas, encontrando Clara na sala, lendo algo em seu celular. Clara ergueu os olhos, percebendo a hesitação de Helena, mas não disse nada, apenas ergueu uma sobrancelha, já intuindo o que estava por vir.
Helena soltou um suspiro irritado e finalmente falou, com a voz carregada de relutância.
– Preciso de uma carona pra faculdade. Você pode me levar?
– E desde quando eu sou motorista particular? – respondeu, cruzando os braços.
Helena fechou os olhos e respirou fundo para não perder a paciência.
– Não estou pedindo um favor eterno, Clara. É só uma carona. Eu vou até pagar a gasolina, se é esse o problema.
Clara riu, debochada.
– Dinheiro não é o problema, querida. Mas posso dizer que ver você implorando ajuda já tornou meu dia bem mais interessante.
Helena revirou os olhos, visivelmente irritada.
– Não estou implorando – respondeu com firmeza, tentando esconder o quanto aquilo a incomodava. – É só uma carona.
Clara suspirou exageradamente, mas pegou as chaves do carro, dando de ombros.
– Tudo bem, eu te levo. Mas espero que não se acostume.
Helena, sentindo a ponta da humilhação, entrou no carro em silêncio. Durante o trajeto, o clima era tão tenso que dava para sentir a eletricidade no ar. Clara não resistiu em soltar mais uma provocação:
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Um Amor Inesperado - CLARENA 💐
RomanceThéo Camargo Bastos, pai de Helena Weinberg Bastos, está prestes a fazer uma viagem de trabalho de um mês. Durante esse período, ele decide deixar sua amiga de longa data, Clara Albuquerque, morando em sua casa. Clara acabou de passar por um término...