5 minutos após o início da interminável conversa com Maria, Amy desejava a morte. Não entendia metade do que a empregada dizia, e a outra metade era composta de elogios ao patrão - tinha certeza de que a mulher recebia um extra por aquilo - ou exaltações exageradas ao México, de onde ela era. Quase deixou escapar um grito de alívio quando viu que o garoto descia as escadas. Teria gritado, se lhe restasse fôlego ao vê-lo. Desviou completamente a atenção de Maria, que pareceu perceber já que se retirou da sala principal, onde estavam. Liam sorriu ao parar em sua frente e Amy passou a mão discretamente perto da boca, apenas para conferir que não estava babando. Ele usava uma roupa toda social, porém, sem o smoking, e trazia uma câmera numa bolsa pendurada no pescoço, a camisa com alguns botões abertos, tinha vontade de tocá-lo e... bem, não vem ao caso.
- Antes que pergunte, eu não estou vestido assim pra você. - Sorriu, sem olhar para a garota, tirando a câmera da bolsa. - eu vou a uma festa. Normalmente não faço esse tipo de fotos...casamentos, festas... mas quando me pedem eu não nego. E é uma formatura do colegial. Garotas gostosas em vestidos apertados e tudo mais. - falou casualmente e ela rolou os olhos. Rapidamente, ele tirou uma foto dela, que arregalou os olhos ao sentir a luz do flash em seu rosto.
-Ei! - gritou, tentando inutilmente pegar a câmera das mãos dele, que estava com os braços levantados e ria compulsivamente.
"Ele é bipolar. É a única explicação." Amy pensava enquanto assistia o garoto gargalhar. Quando ele sorria daquele jeito, formavam-se covinhas em sua bochecha. Ele era lindo, de todas as formas. Mas e o idiota da festa? e o idiota de minutos atrás, no quarto? Agora ele era novamente o garoto da estação. Foram até a sala de jantar e uma outra empregada os esperava. Serviu Coq au vin, e depois, torta de damascos como sobremesa. Comeram o jantar em silêncio, enquanto a garota irritava-se mais a cada segundo que se passava sem que o garoto contasse sua proposta. Finalmente terminaram, e Liam fez sinal para que a moça que os servira retirasse os pratos, sorrindo e agradecendo.
-Já pode me contar do que se trata agora? - perguntou a garota, batendo os dedos na mesa, impaciente.
- Claro. - piscou, colocando as mãos sobre a mesa.
-Então... - gesticulou para que ele continuasse.
- Primeiramente: eu não sabia quem era você quando te vi pela primeira vez. Eu estou procurando uma garota para fazer algumas fotos... - pareceu ponderar antes de seguir com a explicação - uma garota como você. - ela franziu o cenho e ele prosseguiu - Te segui até o museu e coincidentemente encontrei um amigo dono de um jornal que me pediu para fazer as fotos, e o resto da história você já sabe - falou, gesticulando. Ela fez menção de falar, mas o menino se adiantou e continuou. - Quanto ao Nick, o conheci na Austrália... - Amy se lembrou que o amigo fizera um intercâmbio para lá há dois anos. - Estive na casa dele à noite, no mesmo dia em que lhe conheci. Vi que ele estava arrumando as caixas para levar à faculdade e ofereci ajuda... vi fotos suas e comecei a fazer perguntas sobre você. Então tive a ideia dos ingressos. - sorriu largamente, orgulhoso.
-E agora que você sabe que eu não sou modelo, desistiu. - ela disse, casualmente, se assustando ao perceber que ele não confirmara.
-Não quero uma modelo.
-Mas você disse que...
-Que quero uma modelo. - intorrempeu - Correto.
-Você não está fazendo nenhum sentido. - ela arqueou a sobrancelha.
-Porque preciso de alguém para tirar fotos. No entanto, não gosto de meninas com rostos superficiais e simétricos... corpos "ideais" - fez sinal de aspas com as mãos - ou idealizados. Como eu expliquei, não costumo tirar esse tipo de foto, eu fotografo como hobbie mesmo, mas esse é um projeto especial. Procuro uma menina bonita, mas que não siga totalmente aos padrões. Alguém autêntico. - ele falou sério, deixando uma Amy maravilhada ao ouví-lo. Ela era linda, mas não era assim tão magra quanto às modelos ou atrizes famosas, seu cabelo ruivo era exageradamente liso e ela era muito branca e tinha sardinhas. Seu rosto tinha pequenas imperfeições que antes a faziam ficar parada em frente ao espelho, analisando cada pedaço errado em si mesma. Mas neste momento, ela sorria ao pensar em cada defeito que a tornava única, exclusiva, autêntica. E estava assim, imersa em pensamentos, quando se deu conta de algo que ouvira.
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Second Chance
Romance"Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração." É um dos conceitos do dicionário para a palavra: Amor. Talvez você queira uma definição menos técnica. Pois bem, dir-te-ei que Camões acert...