⚠️ o capítulo a seguir pode causar desconforto para quem sofre com transtorno de ansiedade.
Pietro abaixou a cabeça e fixou o olhar no chão, tentando buscar algum tipo de ancoragem naquela vastidão de sensações caóticas. Ao seu redor, as pessoas se movimentavam em um vaivém apressado, mas ele as sentia como sombras, ruídos indistintos. Ainda assim, cada som parecia penetrá-lo de forma nítida: os passos, as risadas descontraídas, as conversas dispersas. A cada instante, sua própria respiração ofegante tornava-se mais audível para ele, opressiva e tensa, acompanhada do peso que se instalava em seu peito e da pontada nervosa em seu estômago. Suas mãos trêmulas indicavam o que ele já sabia — uma crise de ansiedade se aproximava, como um velho inimigo que nunca desistia de voltar.
Não era a primeira daquela semana, e Pietro sabia que a dor da ansiedade não vinha só. Sempre que ela surgia, trazia junto fragmentos de memórias que ele desejava enterrar, pedaços sombrios de algo que ele nunca conseguira entender completamente, talvez um trauma. Mas admitir isso... era difícil demais. Pietro De La Cruz, com toda sua aparência inabalável, era incapaz de dar nome à sua dor, pois sabia que seria recebido com olhares duvidosos, julgadores. Sempre teve o desejo de pertencer a um círculo onde a vulnerabilidade fosse aceita, onde os sentimentos pudessem ser ditos sem que isso fosse sinal de fraqueza.
Um empurrão leve o arrancou de seus pensamentos, quebrando a linha escura de raciocínio. Ele olhou para o lado, surpreso. Se fosse alguém desconhecido, talvez teria se irritado. Mas era Margarita, sua namorada, com seu jeito incisivo e direto, sem papas na língua.
— Tô tentando falar com você desde que acordei. Mandei mensagem, fui até a sua casa. Quando cheguei lá, Bryan disse que você já tinha saída Pietro suspirou, ainda tentando recuperar algum controle. — Bom dia pra você também, Margarita. — Ele a encarou de frente, tentando ocultar o cansaço nos olhos. — Tô sem bateria.
Ela bufou e se sentou ao lado dele, jogando a mochila no chão com um estrondo que parecia enfatizar sua frustração. — Igual a ontem, igual a anteontem. Olha, Pietro, eu te adoro, de verdade, mas tem um limite pras desculpa que você inventa pra não falar comigo. Sou sua namorada, e, no mínimo, a gente devia conversar sobre o que afeta um ao outro.
Pietro sabia que a relação deles estava desgastada. Desde os quatorze, quando começaram a namorar, ele e Margarita foram se moldando um ao outro, mas os traços de cumplicidade e amizade de antes se desvaneceram, dando lugar a uma convivência intensa e direta demais para o momento frágil que ele vivia. Margarita era intensa, sem dúvida, e essa intensidade o sufocava nos últimos tempos. Ele temia que a sinceridade dela se transformasse em críticas, em reprovações. Mas será que estava sendo justo com ela? Será que esse incômodo era apenas um reflexo de sua própria luta interna?
— Só tô meio ansioso. — A voz de Pietro saiu firme, mas baixa, uma admissão de algo que ele não queria dizer. — Não quero te preocupar. Às vezes... é como se eu precisasse de espaço, sabe?
Ela ergueu uma sobrancelha, um misto de surpresa e decepção visível em seu rosto. — Você tá ansioso e não quer que sua namorada fique ao seu lado? Porque, ao que parece, você prefere ficar sozinho. — Ela começou a recolher a mochila, como se suas palavras não tivessem lhe deixado alternativa.
— O que tá fazendo? — perguntou Pietro, um pouco alarmado.
— Te deixando sozinho. Não era isso que queria? — A voz dela estava carregada de mágoa, misturada com um toque de sarcasmo.
— Tá vendo? É por isso que eu evito conversar com você! Tudo vira um ataque pessoal. Não tem nada a ver com você, Margarita! É sobre mim e o que eu tô sentindo!
Ela se levantou, e Pietro percebeu o cansaço que também se refletia nela. — Você tá assim há dias, Pietro. Não conversa, não me procura, e quando eu tento falar com você, ignora quase tudo. Fica difícil assim. — Ela respirou fundo, como se tentasse segurar a frustração. — Só espero que, quando você finalmente decidir conversar, lembre que tem alguém aqui que se importa com você. Até quando, eu não sei. Talvez eu também precise de um pouco de espaço.
— Você vai à 𝐿𝑢𝑛𝑎𝑟 hoje? Podemos conversar lá, com mais calma. — Pietro propôs, a voz vacilante.
— Vou, mas não pra conversar. Seu irmão pediu minha ajuda com a lista de convidados. É o aniversário dele e, no mínimo, quer que tudo esteja organizado. — Ela ergueu as mãos num gesto de rendição. — Até mais, Pietro.
Ele soltou um riso amargo e balançou a cabeça enquanto a observava se afastar, sumindo por entre os outros alunos. A última coisa que precisava era de uma discussão logo cedo, mas parecia que a tensão entre eles era inevitável.
Mal ela se foi, e outra garota se aproximou de Pietro. Aparentemente, tinha assistido ao final da conversa e exibia um sorriso discreto, mas amigável.
— Então, é sua namorada, né? Tá dando uma vacilada, hein. Ops, falei alto demais? — A garota riu, descontraída.
— Quem, a Maggie? É... o jeito carinhoso dela. Mas, admito, também não tô fazendo muito pra melhorar a situação. — Ele arqueou uma sobrancelha, curioso. — E você, quem é?
— Rosita. Cheguei aqui em Moonlight Falls faz poucos dias e tô meio perdida. — uma garota estranha surgiu, de pele bronzeada, com um tom que traz um brilho natural. Seus cabelos são longos, de cor castanho escuro e levemente ondulados, emoldurando seu rosto de maneira suave. — Sabe onde posso pegar meu horário? Queria ao menos acertar a sala no primeiro dia.
— Ah, primeiro dia é sempre um saco, né? — Pietro respondeu, relaxando um pouco.
— Não discordo. Eu até tentei achar a diretoria, mas circulei três vezes e acabei no mesmo corredor. Então pensei, por que não pedir ajuda? — Ela sorriu, um brilho de sinceridade no olhar. — Você vai me salvar?
Pietro riu, balançando a cabeça. — Claro, não posso deixar você repetir o mesmo erro pela quarta vez. — Ele estendeu a mão para ela, em um gesto amigável. — Pietro.
Rosita aceitou o cumprimento, e Pietro teve a estranha sensação de que, por um momento, tudo ao seu redor parecia menos sufocante.
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𝐌𝐎𝐎𝐍𝐋𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐅𝐀𝐋𝐋𝐒. (em andamento)
Ngẫu nhiênEm Moonlight Falls, uma cidade montanhosa conhecida pela alta concentração de seres sobrenaturais, humanos e criaturas místicas coexistem em uma frágil harmonia. A trama acompanha a vida de quatro pessoas cujos destinos se entrelaçam quando uma amea...