Em Moonlight Falls, uma cidade montanhosa conhecida pela alta concentração de seres sobrenaturais, humanos e criaturas místicas coexistem em uma frágil harmonia. A trama acompanha a vida de quatro pessoas cujos destinos se entrelaçam quando uma amea...
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3 MESEA DEPOIS.
Hanna tinha um plano. Seu sonho de concluir a faculdade de Medicina Veterinária era inegociável. A paixão por animais era a força que a impulsionava, um amor incondicional que a fazia suportar os empregos temporários, seja como recepcionista em um consultório, seja como garçonete em algum café local. Era o que pagava as contas enquanto esperava por algo melhor. O plano era claro; conseguir um estágio na área, ser contratada e, finalmente, deixar para trás esses bicos. Às vezes, no entanto, ela pensava em Direito. Sua mãe tinha sido uma advogada excepcional, e, de certa forma, seguir essa carreira talvez a mantivesse conectada à alma de sua mãe. Mas, ao mesmo tempo, o desejo de trilhar o próprio caminho, diferente do de sua mãe, prevalecia.
Seu irmão, Beck, era outra fonte de reflexões. Ele sempre foi apaixonado por música e teatro. Hanna tinha a impressão de que, assim que terminasse o colégio, se dedicaria às artes cênicas , ou um caminho semelhante. Ambos estavam de luto, lidando com a perda de seus pais de maneiras diferentes, mas a música parecia ser a única coisa que mantinha Beck no eixo. Fora que, ele ainda tinha um vilão que ganhou de seu pai quando fez quinze anos, e Hanna não deixou de notar que todas as noites, antes de dormir, uma melodia ecoava do quarto de Beck.
Após a tragédia que os atingiu, os sonhos de Hanna ocuparam um lugar menor em suas prioridades. A vida parecia estar suspensa, e as aspirações, congeladas. Três meses se passaram, e o peso do luto ainda pairava, fazendo-a acreditar que talvez nunca conseguisse retomar seus antigos desejos. Tudo estava nebuloso. Tia Jules, que agora morava com eles, tentava ajudar da melhor forma possível. Embora tivesse 24 anos, Hanna ainda se sentia perdida. Ela conseguiu uma bolsa para estudar na Bridget Way, a universidade da cidade de Moonlight Falls, e estava fazendo o que podia para manter o ritmo entre as aulas e o trabalho temporário na recepção do hospital veterinário de uma amiga da família.
Naquela manhã, após o banho, Hanna se olhou no espelho embaçado. A umidade escorria pela superfície e, por um momento, ela observou seu reflexo distorcido. Sentiu uma risada curta escapando de seus lábios, como se estivesse zombando de si mesma.
— Amém — murmurou, enquanto se sentava na privada e acendia um cigarro de menta. O sabor gelado da fumaça preencheu seus pulmões. No momento em que expirou, a maçaneta da porta rangeu, arrancando-a de seus devaneios.
— Quem é? — perguntou, a voz carregada de indiferença.
— Tia Jules tá usando o banheiro lá embaixo com o namorado. A não ser que você queira que a gente se atrase, me deixa usar o seu. — A voz rouca e familiar de Beck a fez rir.
— Ela trouxe ele pra cá de novo? — Hanna apagou o cigarro na pia, sacudindo a cabeça. — Achei que ia dormir na casa dele.
— Bom, pelo menos as portas são à prova de som — Beck respondeu. — Ou teríamos que ouvir coisas desconfortáveis a noite toda.
