COMO CONQUISTAR UM HOMEM EM 10 DIAS

QUATRO E CONTANDO

São Paulo, dia 3 de 10,

Diego encarou a câmera imaginária em sua mente, como se estivesse narrando um documentário sobre o dia anterior  - se passaram apenas três dias desde que o seu experimento tinha iniciado,  naquele piquenique, dias esses que, de tão intensos, mais pareciam semanas.

"Então, nosso terceiro dia começou com o café da manhã. A gente se encontrou numa cafeteria aconchegante no centro, perto da casa de Amaury... e, de repente, ele apareceu com uma rosa branca."

Ele sorriu sozinho, enquanto recordava o momento.

"Foi inesperado, simples, mas eu amei. Quem diria que um dia eu iria gostar tanto de um gesto tão clássico?"

Ele lembrou de como ficou surpreso e feliz, tentando ao mesmo tempo disfarçar o quanto aquele pequeno detalhe mexeu com ele. Mas o que mais marcou, sem dúvida, foi o olhar de Amaury ao lhe entregar a flor, como se quisesse dizer muito mais do que suas palavras permitiam.

Diego continuou sua "narrativa" mental.

"Depois veio o momento inusitado: a ex-mulher dele, Amanda, aparecendo por acaso na mesma cafeteria."

Ele balançou a cabeça, como se estivesse relembrando uma cena de um filme.

"Ela chegou sorridente, tranquila, e me cumprimentou. Ela era... bem diferente do que a gente espera de um ex quando encontra seu ex com outra pessoa. Educada, segura de si. Não tinha aquele clima estranho que a gente vê nos filmes quando ex e atual se encontram."

Mesmo assim, Diego lembrou-se da pontada de desconforto que sentiu, algo que não queria admitir a ninguém, nem a si mesmo. Apesar da amizade clara entre Amaury e Amanda, aquela era uma peça do passado dele que ainda estava lá, e a lembrança de que eles tinham vivido dez anos juntos ficou martelando na mente de Diego.

"Depois desse encontro, ele me mandou uma mensagem mais tarde, convidando para um jantar na casa dele. Aquele tipo de jantar que parece querer dizer algo mais, sabe?"

Ele riu, imaginando se falaria isso em voz alta.

Diego ajeitou a postura, como se estivesse se preparando para falar para a câmera em um tom mais sério.

"E aí, eu achei que o dia já tinha sido bom o suficiente. Mas não... porque, à noite, eu e meus amigos decidimos ir para um bar. Só que o que eu não esperava era que Amaury também estivesse lá, do outro lado, com um amigo dele."

A memória da noite anterior o fez sentir o coração acelerar um pouco. Ele lembrou do momento exato em que viu Amaury, o sorriso que este abriu ao notar sua presença e o jeito que ele se aproximou da mesa, como se o resto do bar nem existisse.

"Eu tentei não demonstrar, mas o ciúmes bateu. Não sabia quem era o amigo dele e, por um momento, minha cabeça começou a inventar mil teorias. Mas foi só quando o amigo dele veio falar com a gente que as coisas fizeram sentido. Eu relaxei, e... bom, o resto da noite passou num piscar de olhos."

Diego, voltando para o presente, terminou sua "narrativa" mental com um sorriso no rosto.

"Acho que, se eu fosse resumir, diria que foi um daqueles dias que fazem você sentir que está vivo, mesmo que algumas partes ainda sejam complicadas. E agora, o próximo passo é o jantar. É isso. Veremos o que São Paulo tem reservado pra mim e para Amaury."

Diego piscou algumas vezes, saindo do fluxo de pensamentos e "desligando" a câmera imaginária. Deu uma última olhada no espelho do banheiro, ajustando o cabelo e ajeitando a gola da camisa, tentando alinhar o Diego do documentário interno com o Diego real. Aquele momento de reflexão foi bom para organizar as emoções, mas agora ele tinha que lidar com o resto do dia e com o jantar que o aguardava naquela noite.