𝐂𝐀𝐏Í𝐓𝐔𝐋𝐎 𝟏 - Passado amargo

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Seungmin sempre soube que era tratado de forma diferente. Ele entendia que havia um abismo entre ele e os outros habitantes do vilarejo. Desde pequeno, carregava um fardo grande demais para um menino tão jovem, sem ter um ombro onde pudesse se apoiar ou um lugar seguro para chorar nas altas horas da noite. Não, ele não teve a sorte de ser agraciado com algo assim. Como primogênito da família Kim e filho da primeira esposa de seu pai — sua mãe, que faleceu no mesmo dia em que ele nasceu —, Seungmin precisava ser preservado, mantido em um pedestal. Ele era obrigado a se manter distante, sem se misturar com os demais, vivendo em um isolamento que parecia inevitável.

Ninguém sequer daquele vilarejo e até mesmo da sua família atrevia dirigir o olhar ou uma palavra para Seungmin. A regra imposta pela anciã e líder daquele vilarejo valia para qualquer um dos habitantes daquelas terras.

Seungmin não era humano, ele não tinha esse direito de pensar em ser como um, ele não tinha que agir e ter as mesmas necessidades mundanas que um ser humano poderia ter. Ele foi criado por um propósito que nem sequer o menino sabia qual era.

Seungmin cresceu em um ambiente isolado, sendo restrito do amor, admiração e carinho vinda de seus familiares. Enquanto ele estava em seu quarto sentado em uma cadeira em frente em uma mesa estudando, ele observava de longe o amor puro e emanado em abundância ao qual seu pai dava para seus meios irmãos ao qual era diferente quando se tratava dele.

O olhar que seu pai lhe direcionava era frio e sem nenhuma emoção, sempre que estavam juntos era assim, seu pai nunca estava consigo de bom agrado e suas conversas eram trocados por poucas palavras formais e terminava em um silêncio esmagador desconfortável que já era normal.

Seungmin então percebeu que ele não merecia o amor e que jamais em sua vida iria conhecer algo tão quente e reconfortante como o amor.

Em sua passagem para sua adolescência, Seungmin conheceu um novo sentimento. Enquanto observava as crianças brincar no pátio através de sua varanda. Em todas as tardes havia uma garota ao qual lhe chamou a atenção e sem que percebesse notava muito mais sua presença em sua vida, mesmo que ele somente ele sabia que ela participava da sua vida, mas ele não participava na vida daquela menina.

Determino sobre seus sentimentos, ele finalmente decidiu falar com a menina de sorriso encantador e de jeito gentil e acolhedor. Com timidez, sentindo seu coração bater ainda mais forte contra seu peito, ele então abordou a menina que logo descobriu se chamar: Min-Jin.

Com muito afinco e pureza em suas palavras e verdades profundas em seus sentimentos que nutria pela a bela senhorita, ele confessou o seu amor através de um poema ao qual fez a mão e entregou ele mesmo para a senhorita, escondido bem ao longe dos olhos de outras pessoas.

A menina também estava tão encantada e sentia seu coração acelerar igualmente Seungmin.

– Obrigada, irei ler com carinho. – Ela disse, suas palavras carregadas de consideração e pela primeira vez Seungmin sentiu algo diferente. Alguém iria lhe tratar com carinho? Aquilo era novo e uma sensação estranhamente boa lhe cercou.

– Tudo bem, Senhorita Min-Jin. – Sorriu apaixonadamente em uma resposta.

No dia seguinte, Seungmin recebeu a notícia que destroçaria seu coração: a jovem que ele amava havia sido encontrada entre os porcos. Seu corpo estava desfigurado, sem vida, e os animais, sem piedade, devoravam o que restava dela. Ele ficou paralisado ao ouvir as palavras, como se um frio mortal tivesse se apoderado de sua alma.

A mente de Seungmin se encheu de imagens que ele não queria ver, mas que teimavam em atormentá-lo. A lembrança do sorriso doce dela, o som suave de sua voz, tudo aquilo parecia um eco distante, quase cruel. Ele sentiu o peito apertar, e a sensação de vazio se espalhou como uma sombra. Era como se parte dele próprio tivesse sido arrancada e deixada para apodrecer naquele chiqueiro.

Foi naquele dia que ele percebeu que apenas ele deveria carregar aquele fardo, que não era necessário trazer vítimas para seu inferno assim como ele fez com sua querida mãe que só ouvia falar dela, porém tão pouco, que mal saberia descreve-lá, era como sua parte materna nunca deveria ser recitada e sim esquecida. Entretanto, seu pai não iria esquecer da única mulher ao qual amor de todo o seu ser e quando estava embriagado confessava e dizia em plantos a saudade esmagadora que lhe apertava o peito e as culpas por não ter salgado aquela ao qual prometeu muitas coisas e nenhuma dessas promessas foram cumpridas.

Seungmin era o culpado pela a dor e o sofrimento alheio, ou, era assim que empurravam toda a calamidade vinda para aqueles da família Kim e sempre justificavam com a existência daquele menino.


Foi então que no vigésimo aniversário de Seungmin a anciã e líder do vilarejo rapidamente se certificou para que Seungmin estivesse bem preparado, ordenou que tomasse um longo banho e se purificasse, além de banhar no perfume da água de uma bacia cheia do adocicado perfume das rosas e vestisse sua melhor vestimenta ao qual se resumia em um hanbok azul com detalhes de folhas de Sakura pintado em branco e logo que bem alimentado, sem ao menos ter direito de comemorar ou festejar seu aniversário, Seungmin foi enviado para aquela casinha que seguia um caminho solitário para o mais distante do vilarejo ficando entre árvores e exposto quase no meio da floresta. Ele não tinha poder de fala, ele não poderia chorar e pedir a mão de alguém para que o levesse até lá e o acompanhasse até que chegasse a tal casinha que ficava nas colinas e na floresta que lhe cobria ao qual era engolida pela a escuridão da noite, já que a lua se escondia entre as nuvens carregadas e negras que ameaçavam derramar todo o choro melancólico que havia até então armazenado. O sentimento que lhe arduava era aquele pressentimento de sentir que algo ou alguém lhe aguardava ansiosamente.

Entretanto, Seungmin jamais imaginaria que, ao fim daquela noite, a verdade lhe seria revelada de forma cruel: ele não passava de um mero sacrifício, uma alma desamparada e sem escolhas. Tudo que vivera até ali, cada passo, cada ordem, não passava de preparação para o momento em que sua vida seria entregue aos caprichos e vontades de outros. Ele era apenas uma peça no ritual, um objeto a ser oferecido, sem direito a voz ou a sonhos próprios. A descoberta pesava sobre ele como correntes, e o amargo sabor da impotência fazia seu peito arder em desespero.

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