Os séculos passados oferecem uma visão interessante sobre esse tema de conexão humana, e é difícil dizer com certeza se as pessoas eram mais empáticas ou frias em comparação aos dias de hoje, porque os valores e as circunstâncias mudaram tanto. No entanto, olhando para trás, percebemos que as pessoas viviam em sociedades onde as relações eram, geralmente, mais próximas e comunitárias.
Em sociedades antigas e até mesmo na era pré-industrial, os laços familiares e comunitários eram a espinha dorsal da vida. As pessoas dependiam umas das outras para sobreviver — seja para plantar e colher, construir abrigos ou proteger o grupo. Essa interdependência forçava uma conexão mais forte, uma necessidade real de se importar com os outros ao redor. A comunidade era essencial para que qualquer pessoa pudesse prosperar, e isso trazia à tona um tipo de cuidado e reciprocidade que, em muitos lugares, foi se perdendo conforme as sociedades foram se modernizando e se tornando mais individualistas.
No entanto, isso não significa que o egoísmo ou a crueldade humana sejam características modernas. Existem relatos de todas as eras mostrando que a frieza e a indiferença também faziam parte da natureza humana. Mesmo em comunidades próximas, pessoas poderiam ser descartadas, perseguidas ou ignoradas se fossem vistas como uma ameaça ou como um fardo. Em certos períodos, as hierarquias e os preconceitos eram tão fortes que, muitas vezes, era socialmente aceitável desconsiderar as vidas de alguns grupos ou classes.
Com o avanço da industrialização, especialmente nos séculos XVIII e XIX, as pessoas começaram a se concentrar em cidades e a viver em cenários onde não conheciam seus vizinhos, não dependiam deles para sobreviver. A vida passou a ser mais anônima, e o foco no trabalho e na produtividade aumentou o individualismo. Isso transformou a maneira como as pessoas se viam: as relações passaram a ser mais transacionais e menos baseadas no apoio mútuo. Esse fenômeno deu início a um tipo de distanciamento emocional que se intensificou até o século XXI, em que a tecnologia e as redes sociais nos conectam de forma superficial e acelerada, mas sem profundidade.
Por outro lado, períodos como as duas Grandes Guerras e as crises econômicas e sociais trouxeram à tona exemplos de solidariedade e empatia, muitas vezes de uma forma que lembrava os tempos antigos. Em situações de grande adversidade, quando a sobrevivência coletiva se torna prioridade, as pessoas voltam a se unir e a desenvolver uma conexão mais forte. Isso sugere que, embora as épocas tenham mudado, a humanidade sempre oscilou entre momentos de grande conexão e momentos de indiferença ou egoísmo.
Hoje, com a velocidade e o isolamento da vida moderna, é possível que as pessoas se sintam mais desconectadas e que a indiferença seja mais visível, especialmente nas cidades grandes, onde o anonimato é a norma. Isso não quer dizer que a empatia tenha desaparecido, mas sim que ela precisa ser cultivada intencionalmente. As gerações passadas tinham a vantagem de que o cuidado e a conexão eram quase obrigatórios para a sobrevivência. Agora, a escolha de se importar é um ato mais consciente, porque a sociedade oferece mais conforto, mas ao custo de um distanciamento emocional maior.
Então, quando pensamos nos séculos passados, podemos imaginar uma humanidade mais unida em aspectos práticos, mas igualmente complexa em sua capacidade de cuidar ou ignorar uns aos outros. Os tempos mudam, mas o desafio de se importar com o outro permanece o mesmo.
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Século XXI
De Todouma reflexão, de uma cena que eu presenciei, e que me fez refletir sobre a sociedade.