ceilings • rocris

[💜] chapter three - ceilings, plaster

Que adorável, estar aqui contigo
Você é tão linda
E eu diria tudo isso
Mas não quero estragar o momento
Que adorável, ficar entre o conforto e caos

Ceilings, Lizzy McAlpine
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21:37
Istambul, Turquia

– Eu fico com as panelas e você fica com os potinhos de tempero.

– Não, eu vou ficar com as panelas.

– Mas você não sabe nem fritar um ovo, Julia!

– Mas eu sou mais velha e tenho direito de escolher primeiro!

Macris, que até então estava apenas ouvindo o burburinho de onde estava no sofá, estranhou o repentino silêncio das três matraqueiras e levantou a vista do álbum de fotos que estava folheando para achar três pares de olhos e uma câmera lhe encarando, esperando sua palavra final. Com um suspiro, fechou o álbum e voltou sua atenção à elas.

– A Diana pediu primeiro, meninas.

Ana e Julia soltaram um muxoxo descontente ao mesmo tempo, enquanto a central em questão apontou a câmera que tinha em suas mãos para si mesma e riu em vitória das outras duas. A levantadora resfolegou uma risada com as reações, o que estourou uma confusão hilária sobre como Diana era a favorita, e com certeza aquilo ia ser cortado do conteúdo que iria pra nova temporada de Sem Bloqueio.

Estavam filmando há alguns dias, e Macris ainda estava se recuperando emocionalmente da cena que havia gravado mais cedo, onde explicava melhor seu problema de saúde e como aquilo afetou seu desempenho na seleção no ano anterior. O assunto estava ficando mais fácil de se falar sobre com o passar do tempo, mas abrir seu coração sobre isso para o público, incluindo a história de seu pai, tinha lhe sugado as energias.

Fora que também haviam as caixas vazias de papelão espalhadas pelo apartamento esperando para serem preenchidas, o que lhe adicionava mais cansaço mental. Ainda era fevereiro, mas as coisas talvez demorassem mais de meses para chegar no Brasil, então achou de bom grado começar logo.

E por isso, Ana, Diana e Julia estavam ajudando a guardar algumas coisas da sala, as três recusando veementemente a deixar Macris pegar peso ou se abaixar, então sua única contribuição era guardar alguns cacarecos, prover snacks e manter a paz quando alguma das três discordava da "divisão de bens", o que até agora estava se provando ser o mais difícil, porém também engraçado.

– Então eu fico com a chaleira elétrica chique. – Julia decidiu, levantando uma das caixas com um grunhido.

– E eu fico com o jogo de xícaras de chá. – Ana completou, parecendo feliz com sua escolha.

Por alguns segundos, as meninas continuaram a guardar as coisas em silêncio – inclusive Diana após deixar a câmera na estante, com a novela das dez na TV soando ao fundo como barulho branco, e Macris voltou sua atenção para as páginas desgastadas do álbum de fotos, contente com o acordo entre elas, até que Diana parou de guardar o conjunto de elefantes de porcelana que tinha em mãos, e em sua visão periférica, Macris quase podia ver as engrenagens mexendo dentro da cabeça dela.

– E quem vai ficar com as plantas?

As três olharam para o mini jardim na varanda, onde as plantas estavam espalhadas pelo chão e penduradas na parede. E pelo jeito que cada uma tinha criado um certo apego em cuidá-las (talvez a coisa mais preciosa que Macris tenha ensinado), a discussão de quem ia ficar com elas não ia ser bonita. Pelo menos elas não estavam brigando pela coleção de borboletas, que eram a paixão de Macris desde criança, pois ela queria a levar de volta para o Brasil para dar um pouco de vida ao seu novo cantinho em Uberlândia, e sabia que se qualquer uma delas pedisse, ela cederia sem pensar duas vezes.