café e conversas

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—— Marina deu uma última olhada no espelho do lobby antes de sair. Seu cabelo estava meio desarrumado, mas, honestamente, não tinha forças para se preocupar — afinal, não era uma entrevista oficial. Apenas um convite casual de Bruno para um café.

Ela o encontrou na entrada do hotel, onde ele já esperava de óculos escuros, capuz e uma xícara de café na mão. Mesmo assim, parecia impossível que ninguém o notasse. Bruno tinha um jeito de chamar atenção só de existir, mas parecia estar totalmente à vontade com isso.

“Eu sabia que ia levar bronca se não te esperasse com café, então aqui está, jornalista do ano,” ele disse, estendendo a xícara.

Marina aceitou o café, sorrindo. “Pelo menos alguém reconhece meu talento!”

Eles caminharam até mais adentro do café, conversando casualmente. O clima era leve, e Bruno parecia contente em conhecer mais sobre ela e, talvez, sobre a cultura brasileira que tanto o fascinava. Marina sentiu uma conexão crescente, mas não apressou as coisas. Ele era o tipo de pessoa com quem dava vontade de passar horas conversando, mas ela mantinha a amizade como foco, deixando qualquer faísca entre eles apenas no fundo da mente.

No café, se acomodaram em uma mesa ao lado da janela. Ele tirou os óculos, revelando um olhar amistoso e curioso.

“Então, me conta mais sobre você. Como você acabou nessa profissão? Entrevistando cantores misteriosos como eu?” ele perguntou, um sorriso se formando no canto dos lábios.

Marina soltou uma risada. “A profissão me escolheu, eu diria. Meus irmãos sempre me dizem que eu sou curiosa demais pra ser normal, então acho que o jornalismo foi uma escolha inevitável. E, confesso, sempre tive uma queda por descobrir o que está escondido nos bastidores.”

Ele ergueu as sobrancelhas, interessado. “E você sempre consegue o que quer descobrir?”

“Eu diria que sou boa nisso, mas…” Ela se inclinou um pouco para frente, o olhar conspiratório. “Ainda não descobri o mistério de como um artista como você se esconde em público usando só óculos e um capuz.”

Bruno riu, balançando a cabeça. “Talvez seja a atitude, sabe? Tipo… agir como se você fosse invisível. Eu me concentro tanto em não ser notado que acabo funcionando.”

Ela ergueu uma sobrancelha, sem resistir a uma provocação. “Ah, claro. A tática do ‘não me olhe, sou só um fantasma’. E eu que achava que só servia em desenhos animados.”

Bruno deu uma risada genuína, o olhar divertido. “É uma habilidade especial. Vai ver é isso que você não sabia sobre mim.”

O papo fluiu de maneira natural, cada um contando histórias engraçadas e pequenas derrotas da vida. Ele parecia gostar do jeito espontâneo dela, e ela adorava o fato de ele conseguir rir de si mesmo, sem aquela pose toda de celebridade intocável. Havia uma simplicidade genuína na maneira como ele se expressava.

Marina, por um instante, sentiu a familiaridade de estar com um amigo de longa data. Olhou para o café à sua frente e fez uma pausa antes de dizer algo que não planejara.

“Sabe, eu nunca achei que conhecer alguém tão… famoso, por falta de palavra melhor, seria assim. Você é, tipo, normal,” ela disse, rindo, mas meio envergonhada pela sinceridade.

Bruno sorriu, balançando a cabeça. “Normal? Isso é um elogio e tanto. Nem sabe o quanto fico aliviado de ouvir isso.”

Ela riu. “Bom, talvez eu devesse cobrar. E a minha parte do cachê por ser sua nova consultora de imagem? Normal, mas misterioso, sabe? Posso ajudar com isso.”

Ele arqueou a sobrancelha, fingindo indignação. “Ah, ótimo. Agora tenho que pagar você por ser meu amigo?”

Eles caíram na risada, e Marina percebeu como essa amizade inesperada tinha um tipo de leveza que ela não encontrava com muita frequência. Ela não sabia onde aquilo poderia chegar, mas pela primeira vez em muito tempo, não estava apressada em descobrir.

Papo de doido - Ɓruŋo MarsOnde histórias criam vida. Descubra agora