08| Partying

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Lapa, Rio de Janeiro


Assim que subi na viatura, respirei fundo, tentando controlar o que restava da adrenalina e da raiva. Puxei o celular do bolso do meu short e mandei uma mensagem rápida para meus amigos, sem explicar muito, mas deixando claro que era melhor eles irem embora.

"Gente, BOPE tá fazendo operação aqui na Lapa. Melhor vocês saírem antes que piore. Já tô indo embora."

Eu não queria explicar naquele momento que tinha saído da festa escoltada por ninguém menos que Nascimento, o cara mais autoritário e complicado que eu conhecia. E o fato de estar sozinha com ele na parte de trás da viatura só deixava a situação ainda mais estranha. No banco da frente, estava o motorista, que eu ouvi Nascimento chamando de Neto e ao lado dele, Mathias. Ambos estavam em silêncio mas dava pra sentir o clima tenso no ar. Eu, no banco de trás, ao lado do próprio Capitão Nascimento, que mal trocava olhares comigo. Ele estava com a mão pousada no joelho, o rosto sério, olhando pela janela.

O silêncio entre nós era sufocante. A tensão no ar era palpável e eu sabia que precisava dizer alguma coisa, por mais desconfortável que fosse. Não podia simplesmente ignorar o fato de que ele, no fundo, tinha me tirado de uma situação perigosa.

Eu pigarreei levemente, mexendo nas mãos sobre o colo antes de abrir a boca. — Eu... queria agradecer. — Minha voz saiu mais suave do que eu esperava, e ele sequer virou o rosto na minha direção. — Por ter me tirado de lá.
Ele soltou uma risada curta, mas sem humor, ainda olhando pela janela. — Agradecer? Tá de sacanagem, né? Você acha que fiz isso porque sou um cara bonzinho? — Ele finalmente virou a cabeça, me olhando de lado, com aquele sorriso debochado no rosto. — Eu te tirei de lá porque você é teimosa e não ia sair sozinha. E eu não tenho tempo pra ficar cuidando de civil metida a corajosa no meio de uma operação.

Fechei os olhos por um segundo, tentando manter a calma. Ele sempre tinha esse jeito de diminuir qualquer gesto que fazia, como se nunca pudesse ser algo minimamente altruísta. Era frustrante.
— Eu sei disso, Nascimento. — Retruquei, cruzando os braços. — E sei que você tá acostumado a mandar em tudo e todo mundo, mas mesmo assim... eu agradeço. Você me tirou de uma situação que poderia ser perigosa, então... obrigado.
Ele bufou, sacudindo a cabeça, visivelmente irritado. — Acha mesmo que vai me dobrar com essa conversinha, Carolina? Você é engraçada. — Ele me olhou nos olhos, aquele brilho arrogante nos dele. — Quer dizer que, de repente, tá toda agradecida? Daqui a pouco vai começar a achar que sou um herói, né? É assim que começa.

Eu revirei os olhos, respirando fundo. — Não tô dizendo que você é um herói, Nascimento. Só tô tentando ser... civilizada. Mas você realmente não facilita as coisas, né?
Ele deu uma risada seca, aquela que eu já conhecia. — Civilizada? Não tem nada de civilizada em ficar rebolando daquele jeito no meio da rua com uma operação prestes a rolar. Eu devia era te prender por desacato.
Eu virei o rosto pra ele, sem conseguir acreditar que ele estava falando aquilo. — Sério? Você vai mesmo jogar essa carta? Desacato porque eu tava dançando? Não tem nada de ilegal nisso.
Ele se aproximou um pouco, o rosto perto do meu, os olhos fixos nos meus. — Não é só sobre a porra da dança, Carolina. É sobre você ser teimosa e não entender o que tá em jogo. Mas vou te falar uma coisa, — ele fez uma pausa, a voz mais baixa e carregada de tensão — eu não tô aqui pra te proteger de mim. Tô aqui pra te proteger de toda a merda que rola lá fora.

Senti meu coração acelerar. O olhar dele era intenso, e o calor entre nós parecia aumentar a cada segundo. Mas eu não ia deixar ele ter a última palavra assim tão fácil.

— Talvez eu não precise de proteção nenhuma, Nascimento. — Respondi, desafiando-o com o olhar. — Talvez eu saiba me cuidar muito melhor do que você pensa.
Ele me encarou por mais um tempo, o maxilar travado, antes de soltar um suspiro frustrado e desviar o olhar. O clima dentro da viatura estava cada vez mais carregado, e a tensão entre nós parecia ser uma mistura de raiva e algo mais que nenhum dos dois estava disposto a admitir.

Mathias, no banco da frente, olhou pelo retrovisor, claramente percebendo o clima, mas ficou em silêncio. Neto continuava concentrado na direção, sem se meter.

Eu respirei fundo, tentando afastar aquele turbilhão de sentimentos. — Só me deixa no meu prédio, Nascimento. Eu não tô pedindo mais nada. Já entendi o recado.

Ele me lançou um último olhar antes de virar para a frente. — Boa escolha. Vai pra casa e tenta não arranjar mais confusão, porque da próxima vez, talvez eu não tenha tempo de te salvar da própria burrice.

Fechei os olhos, cruzando os braços, exasperada. Sempre terminava assim com ele. Eu queria odiá-lo, mas parte de mim sabia que, por mais irritante que ele fosse, havia algo mais ali. Algo que nenhum de nós estava disposto a encarar.

Collide | Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora