Conexões do Passado e Presentes Frágeis

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O sol da tarde se espalhava pelo campo de lavanda com uma suavidade tranquilizadora, mas dentro de Ji-hoon, o calor do passado não se dissipava. A conversa com Hana o deixou inquieto. Era bom vê-la novamente, mas a sensação de estar diante de algo que ele tentava evitar o deixava desconfortável. Ela conhecia sua história melhor do que ninguém, e, mesmo que não dissesse nada, ele sabia que ela sentia sua dor. A dor que ele tentava esconder de todos, inclusive de si mesmo.

Hana estava em uma viagem de férias, mas ela não estava ali apenas para ver os pontos turísticos. Ela tinha algo a mais em mente, algo que Ji-hoon temia. Ela sempre foi a única pessoa que conhecia seu passado de forma tão profunda, e os sentimentos que ela despertava nele nunca haviam desaparecido completamente. Mas ele estava preso no tempo, na memória dos pais e no acidente que levou tudo o que ele mais amava.

— Vamos caminhar um pouco? — Hana sugeriu, sorrindo com um tom de leveza, mas Ji-hoon percebeu o olhar atento e preocupado que ela mantinha sobre ele.

Eles começaram a andar pela pequena rua de pedra que levava até a praça central da cidade. O mercado local ainda estava movimentado, com pessoas conversando e trocando mercadorias, mas o cenário parecia distante para Ji-hoon. O burburinho ao redor dele não conseguia abafar o caos interno que ele carregava. Ele queria falar, mas não sabia como. Queria perguntar a Hana como ela havia conseguido seguir em frente depois de tudo, mas a pergunta parecia acusatória, como se ele fosse o único a estar paralisado no tempo.

Hana percebeu o silêncio pesado que pairava entre eles e tentou quebrá-lo com um comentário leve.

— Você sabia que a França tem uma tradição muito forte de feiras ao ar livre? As barracas de flores, frutas e pães sempre me encantaram. — Ela sorriu, apontando para uma barraca de pães frescos. — Eu me sinto mais viva aqui. Tem algo de acolhedor em tudo isso, não acha?

Ji-hoon olhou para a barraca de pães, mas sua mente estava em outro lugar. As palavras de Hana pareciam ecoar em sua cabeça, mas não faziam sentido. Ele ainda se sentia perdido, como se estivesse flutuando entre o passado e o presente. O aroma doce do pão fresco, a imagem das flores coloridas, tudo ao seu redor parecia um sonho que ele não conseguia alcançar.

— Eu... não sei se entendo mais o que você quer dizer, Hana. — Ele disse, a voz baixa e cheia de angústia. — Sinto que estou preso, como se não pudesse avançar. O que você faria se estivesse no meu lugar?

Hana parou por um momento, colocando a mão gentilmente sobre o braço dele. O gesto foi simples, mas em seus olhos havia um cuidado profundo, uma conexão silenciosa que ele não podia ignorar.

— Ji-hoon, você não precisa fazer tudo de uma vez. Não há uma maneira certa ou errada de seguir em frente. Mas você precisa começar a olhar para o que está à sua volta, para as pessoas que ainda estão aqui com você. Eu sei que é difícil, mas não precisa carregar o peso sozinho. — Ela respirou fundo, tentando escolher suas palavras com delicadeza. — E, se me permite, talvez seja hora de enfrentar os seus sentimentos. Não é justo com você mesmo continuar evitando o que sente.

Ele olhou para ela, os olhos cheios de um turbilhão de emoções. Hana sempre foi direta e sincera, mas a dor que ele guardava não era algo fácil de lidar, nem para ele, nem para ela.

— Eu sei, Hana, mas... — Ele hesitou, olhando para o chão, como se estivesse tentando reunir forças para dizer algo que o aterrorizava. — Eu não sei se consigo. Cada vez que tento lembrar deles, me sinto mais fraco.

Ela o observou atentamente, sem pressa de interromper. Hana sabia que, por mais que tentasse, não poderia entender completamente a dor de Ji-hoon. Mas, mais do que isso, ela queria que ele soubesse que não estava sozinho.

Enquanto a tarde passava, Ji-hoon e Hana caminharam por várias ruas da pequena cidade, explorando lugares que ela já conhecia bem e que lhe traziam paz. O som das risadas de crianças brincando na praça central, o murmúrio suave dos casais sentados em bancos de madeira, tudo parecia um mundo à parte da realidade que Ji-hoon tentava enfrentar. Mas, à medida que o dia se transformava em noite, algo dentro dele começou a mudar.

Quando eles voltaram à pousada, o céu estava tingido de laranja e rosa, com o sol se pondo lentamente atrás das colinas. A beleza do momento quase fez Ji-hoon esquecer por um instante a dor que carregava, mas, antes que ele pudesse processar completamente, Camille apareceu na porta.

Ela sorriu ao vê-los.

— E então, como foi o passeio? — Ela perguntou com uma leveza que contrastava com a seriedade do olhar de Ji-hoon. Ela sabia que ele estava lutando, mas não fazia questão de pressioná-lo.

Hana olhou para Ji-hoon e sorriu, reconhecendo a suavidade que parecia ter surgido nele desde que começaram a caminhar.

— Foi bom. Eu... acho que ele vai ficar bem. — Ela disse, com uma leveza que falava mais do que as palavras. — Às vezes, um pouco de ar fresco e uma conversa com um amigo fazem mais bem do que qualquer coisa.

Camille assentiu, embora soubesse que a verdadeira batalha de Ji-hoon não seria ganha com simples palavras. Ela também tinha as suas próprias cicatrizes, mas a diferença era que ela já estava aprendendo a viver com elas.

— Se você precisar de algo, Ji-hoon, estou por aqui. — Camille disse, olhando nos olhos dele com compreensão. — Todos nós temos nossas próprias lutas. Mas não estamos sozinhos.

No seu quarto, mais tarde naquela noite, Ji-hoon ficou deitado na cama, olhando para o teto. O som suave da brisa através da janela, o cheiro das flores da lavanda e a luz suave da lua que penetrava pelas cortinas formavam um cenário quase onírico. Mas, mesmo assim, sua mente estava longe dali, naquelas memórias que ele não conseguia se livrar.

O peso do luto ainda estava com ele, e talvez nunca fosse embora completamente. Mas, pela primeira vez desde a chegada a Provence, ele sentiu algo diferente. Talvez não fosse uma resposta definitiva para sua dor, mas um início. Uma possibilidade.

Ele fechou os olhos, tentando afastar os fantasmas do passado, ao menos por uma noite.

O futuro ainda parecia nebuloso, mas, ao menos naquele momento, ele não estava mais sozinho com suas sombras.

"Além das Estrelas: Ecos do Destino" continuava a mostrar que o caminho da cura nunca era simples. Ji-hoon começava a entender que a dor era parte de sua jornada, mas que a aceitação e o apoio das pessoas ao seu redor poderiam, de alguma forma, aliviar o peso.

4o mini

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