O vento suave de outono acariciava as folhas douradas das árvores que rodeavam a casa de campo. Ji-hoon acordou cedo naquela manhã, mais cedo do que o habitual. Os raios de sol ainda estavam tímidos, e a casa parecia tranquila, mas dentro dele, uma turbulência começava a crescer. Ele não sabia o que era, mas sentia que algo estava prestes a mudar.
Nos últimos dias, o peso do seu passado parecia aumentar, como se tivesse se tornado mais pesado com o passar do tempo. Ele sabia que estava tentando se afastar de tudo que havia vivido na Coreia, mas as memórias não o deixavam em paz. O que ele mais queria era enterrar tudo, mas algo dentro dele insistia que a verdade não poderia ser ignorada para sempre.
Hana, que estava na cozinha, preparando o café da manhã, percebeu o semblante sério de Ji-hoon quando ele entrou no cômodo. Algo estava diferente, como se ele estivesse prestes a tomar uma decisão importante.
— Você está bem? — ela perguntou com um tom suave, colocando uma xícara de café na mesa. Ela sabia que algo estava acontecendo com ele, mas também sabia que não poderia forçar. Ji-hoon precisava lidar com seus próprios demônios, mas talvez, só talvez, ela pudesse ser um apoio.
Ji-hoon ficou em silêncio por um momento, olhando para a xícara de café que ela havia colocado à sua frente. Ele não sabia como começar a falar sobre o que o afligia. As memórias do acidente, o olhar de sua mãe quando ele partiu para Paris, o peso de cada perda que ele havia carregado ao longo dos anos. Todos esses pensamentos estavam se acumulando em sua mente, formando um turbilhão de emoções que ele não conseguia mais ignorar.
— Eu preciso voltar à Coreia. — Ele finalmente disse, sua voz baixa, mas firme.
Hana olhou para ele, surpresa com a decisão repentina. Ela sabia que Ji-hoon havia fugido de seu país por um motivo, mas a ideia de ele voltar agora parecia arriscada, como se ele estivesse se forçando a encarar algo que ainda não estava pronto para lidar.
— Ji-hoon, você não acha que precisa de mais tempo? — Hana perguntou, a preocupação em sua voz. — Talvez, se você esperar um pouco mais, você vai conseguir entender melhor o que está acontecendo dentro de você. Não precisa tomar essa decisão agora.
Ji-hoon respirou fundo, sentindo o peso de cada palavra que ela dizia. Mas a verdade era que ele já estava cansado de fugir. Ele sabia que a única maneira de realmente seguir em frente era confrontando aquilo que ele havia enterrado.
— Eu sei que não é o momento certo. Sei que estou longe de estar pronto, mas... eu não posso mais fugir disso. Se eu ficar aqui, vou continuar vivendo no passado, e não vou conseguir mudar nada. Eu preciso voltar e enfrentar a minha realidade.
Hana olhou para ele por um longo momento, tentando entender o que ele sentia. Ela sabia que, apesar de toda a dor, Ji-hoon tinha razão. A verdadeira cura só aconteceria quando ele estivesse disposto a enfrentar o que havia deixado para trás. Ela não poderia segurá-lo mais, apesar de sua vontade de protegê-lo.
— Então, vamos. Eu vou com você. — Hana disse, com a determinação que ela sempre demonstrava quando se tratava de ajudar as pessoas que amava. — Você não vai enfrentar isso sozinho.
Ji-hoon a olhou surpreso. Ele não esperava que ela se oferecesse para ir junto. Ele sabia que Hana tinha suas próprias questões e preocupações, mas ela estava disposta a colocá-las de lado por ele. Ela não fazia isso por obrigação, mas porque se importava.
— Você não precisa fazer isso. Não quero que você se sinta pressionada. — Ji-hoon respondeu, tentando evitar que ela se envolvesse em algo que ele sentia que era sua responsabilidade.
— Eu sei que você quer enfrentar isso sozinho, Ji-hoon, mas nós somos amigos, e quando você decide enfrentar algo tão grande, você não precisa carregar o peso sozinho. Eu vou com você. — Ela falou com firmeza, tocando seu ombro suavemente, transmitindo o apoio que ele precisava.
O voo para Seul foi silencioso. Durante a viagem, Ji-hoon ficou com os olhos fechados, tentando processar tudo o que estava prestes a acontecer. O pensamento de ver sua mãe novamente o deixava ansioso, mas também aterrorizado. Ele não sabia como ela o receberia, ou se ela ainda o culparia por tudo o que havia acontecido.
Quando finalmente aterrissaram em Seul, o coração de Ji-hoon disparou. Ele ainda não sabia o que esperava encontrar. Seria uma cidade cheia de lembranças ou um lugar onde ele poderia, finalmente, se libertar do passado?
A cidade estava viva e vibrante, mas Ji-hoon sentia que estava andando em um terreno desconhecido. Tudo parecia familiar, mas ao mesmo tempo, distante. Ele nunca imaginou que retornaria a Seul dessa maneira, como um homem quebrado, buscando respostas para as perguntas que o haviam consumido por tanto tempo.
Eles tomaram um táxi até a casa onde Ji-hoon havia crescido. Ele não sabia se sua mãe ainda morava lá ou se a casa havia sido vendida, mas era para lá que ele queria ir, como se, de alguma forma, o local fosse a chave para entender o que havia acontecido.
Quando chegaram, a casa parecia inalterada, como se o tempo tivesse parado. Ji-hoon parou por um momento na entrada, observando o lugar com um misto de saudade e medo. Hana percebeu o quanto ele estava abalado e, sem dizer uma palavra, caminhou ao seu lado.
— Você está pronto para isso? — Hana perguntou, olhando para ele.
Ji-hoon assentiu, embora o nervosismo ainda fosse palpável em seu olhar.
— Não tenho certeza, mas... não posso mais ficar adiando.
Eles entraram na casa, e a sensação de nostalgia invadiu Ji-hoon. Tudo estava como ele lembrava: as fotos antigas na parede, a mobília que sua mãe escolhera com tanto cuidado. Ele foi até o corredor, parando em frente à porta do escritório de sua mãe. Era ali que as conversas importantes aconteciam, onde ele e ela discutiam a vida, o futuro, e onde, por muito tempo, ele acreditou que poderia encontrar o caminho para a redenção.
Ji-hoon deu uma última olhada para Hana, que o acompanhou com um olhar de compreensão.
— Vamos. — Ela disse, com um sorriso de apoio, segurando sua mão por um momento.
Com um suspiro profundo, Ji-hoon tocou a maçaneta e entrou.
A porta se abriu lentamente, e a mulher que ele nunca pensou que veria novamente estava ali, parada na sala de estar, olhando diretamente para ele. O tempo havia mudado seu rosto, mas seus olhos... seus olhos eram os mesmos.
Ji-hoon engoliu em seco. Ele estava finalmente frente a frente com sua mãe, e a verdade, por mais dolorosa que fosse, estava prestes a ser revelada.
"Além das Estrelas: Ecos do Destino" estava prestes a dar seu maior passo em direção à cura, mas também ao confronto com a verdade que Ji-hoon tanto temia.
4o mini
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Além das Estrelas: Ecos do Destino
Roman d'amourEm meio aos campos de lavanda e lagos cristalinos da pacífica Provence, na França, uma cidadezinha esconde mais do que as suas belezas naturais: ela guarda segredos e histórias complexas de quem vive ali. Lee Ji-hoon, um jovem sul-coreano de 25 anos...