O chá revelação tinha sido cuidadosamente planejado, e a emoção estava no ar. Ana, Gustavo, Aurora e todos os amigos e familiares aguardavam ansiosamente o momento da revelação. Balões azuis e rosas decoravam o espaço, e as expectativas eram enormes. Quando o balão estourou e o pó azul se espalhou, gritos e aplausos encheram o ambiente: era um menino!
Gustavo e Ana se abraçaram emocionados, enquanto amigos e familiares os parabenizavam. Aurora, no começo, ficou feliz, achando divertido o pó azul e a comemoração. Mas, aos poucos, percebeu que toda a atenção estava voltada para o bebê que ainda nem havia nascido. Todos abraçavam a mamãe e o papai, falando sobre como já amavam o Benício e como ele seria especial.
Sentindo-se deixada de lado e com um ciúme que começou a crescer, Aurora se afastou discretamente e foi para o colo da avó Jussara, buscando um pouco de consolo. Lá, não conseguiu mais segurar as emoções e começou a chorar, sentindo-se triste e excluída. As lágrimas vinham com tanta intensidade que chamaram a atenção de Ana, que percebeu o que estava acontecendo.
Ana se aproximou com carinho, ajoelhando-se ao lado de Aurora e tentando confortá-la. “Filha, o que foi? Você está triste?” perguntou, com o coração apertado ao ver a filha daquele jeito.
Mas Aurora, ainda magoada, virou o rostinho e recusou o colo da mãe. “Não quero papo, mamãe… Nem com você nem com o papai.” E abraçou a avó com mais força, sentindo-se mais protegida ali.
Gustavo também tentou se aproximar, mas Aurora apenas olhou para ele e virou o rosto, deixando claro que não queria conversar. Ana e Gustavo trocaram um olhar preocupado, percebendo o quanto aquele momento era delicado para a filha.
Com paciência, Ana decidiu dar um tempinho para Aurora se acalmar, sabendo que precisaria de tempo para entender e lidar com a ideia de ter um irmão. Mais tarde, quando a poeira baixasse, eles conversariam com ela para reafirmar o quanto ela era amada e especial. Afinal, eles sabiam que, com amor e paciência, conseguiriam ajudar Aurora a aceitar o novo irmãozinho que estava a caminho.
Depois do momento intenso no chá revelação, Ana e Gustavo passaram o restante da festa tentando respeitar o espaço de Aurora, mas estavam atentos, esperando o momento certo para conversar com ela. A preocupação no olhar dos dois era evidente, mas sabiam que forçar a situação naquele instante talvez fosse pior.
A avó Jussara, percebendo o quanto Aurora estava sensível, a levou para um cantinho mais tranquilo, longe da agitação. Sentou-se com ela no colo e começou a acariciar seus cabelos enquanto Aurora soluçava, tentando lidar com todas as emoções que ainda não conseguia expressar direito.
“Querida, você sabe que a vovó ama você demais, não sabe?” Jussara disse com uma voz suave. “E que ninguém nunca vai tirar o seu lugar, não importa o que aconteça.”
Aurora enxugou algumas lágrimas e balançou a cabeça, mas seu olhar ainda estava cheio de tristeza. “Mas todo mundo só fala do Benício agora… e eu tô aqui.” A voz dela era um sussurro carregado de mágoa.
Jussara a abraçou com mais força, sentindo o coração apertado pela neta. “Isso é porque o Benício ainda está na barriga da sua mamãe, meu amor. As pessoas estão animadas porque ele é uma novidade, mas isso não significa que amam você menos. Sabe, você foi a primeira netinha da vovó e do vovô, e sempre será especial por isso.”
Enquanto Aurora digeria aquelas palavras, Ana observava de longe. Depois de algum tempo, ela se aproximou novamente, desta vez com mais cautela. Sentou-se ao lado de Aurora e da avó, mantendo uma certa distância, para não pressionar.
“Posso te contar uma coisa, Aurora?” Ana perguntou, tentando suavizar o clima. Aurora olhou para ela com desconfiança, mas deu um leve aceno com a cabeça, permitindo que a mãe falasse.
“Quando você nasceu, foi um momento mágico, sabia? Papai e eu nunca vamos esquecer o dia em que te pegamos nos braços pela primeira vez. Você sempre foi nossa primeira alegria, e isso nunca vai mudar. Agora, o Benício vai chegar para ser seu irmãozinho, mas ninguém jamais vai ocupar o seu lugar no coração da mamãe e do papai.”
Aurora escutava atentamente, as lágrimas diminuindo aos poucos. Gustavo também se aproximou, sentando-se ao lado dela e tomando uma das suas mãozinhas. “Nós te amamos tanto, meu amor. Você é nossa princesinha, e sempre vai ser. O Benício vai ser seu companheiro, e juntos vocês vão viver muitas aventuras.”
Ainda que um pouco relutante, Aurora sentiu-se mais acolhida com as palavras dos pais. A avó Jussara deu um beijo carinhoso na testa dela e a incentivou a abraçar Ana e Gustavo, o que ela fez, meio tímida, mas com uma ponta de sorriso nos lábios.
“Então… eu ainda sou a princesa?” perguntou Aurora, com um leve brilho no olhar.
Ana e Gustavo sorriram, aliviados, e a abraçaram. “Sim, sempre nossa princesinha. E agora, você também é a irmã mais velha do Benício, alguém que ele vai admirar e amar muito.”
Aurora finalmente sorriu, aceitando o carinho dos pais e se sentindo mais segura. Sabia que o coração deles era grande o bastante para amar os dois, e aquele momento marcou o início de uma nova fase para a família, onde Aurora aos poucos iria entender o papel especial que teria na vida do novo irmão.