Á Sombra dos Holofotes

Capítulo: 10 A Luta pelo Controle

Kira se levantou cedo naquela manhã, o sol ainda baixo no horizonte, mas o peso da situação parecia carregá-la para fora da cama. Ela sabia que precisava se preparar para a viagem com Caleb, algo que não conseguia controlar, mas ainda havia um último detalhe que ela poderia decidir: a despedida de sua avó.

Ela se arrumou rapidamente, vestindo um simples vestido preto e uma jaqueta jeans, tentando esconder a tensão de seu corpo. Seus dedos estavam trêmulos enquanto ela terminava de se arrumar, mas ela se forçou a manter a compostura. Não importava o que Caleb pensava ou fazia. Ela não seria dominada por ele. Não podia ser.

Kira respirou fundo antes de sair do quarto e descer as escadas. Ela sabia que a avó estaria na cozinha, como sempre, mas o ambiente parecia diferente. O ar estava carregado, e um frio percorreu suas costas.

Quando chegou à sala, o que ela encontrou foi algo que não esperava. Sua avó estava sentada no sofá, rindo de algo que Caleb havia dito. Ele estava ali, com um sorriso tranquilo no rosto, sentado ao lado dela como se fosse parte da família. O riso suave de sua avó ecoava pelo cômodo, e aquilo causou um aperto no peito de Kira.

Ela ficou parada na porta por um momento, sem saber o que fazer. Caleb percebeu sua presença antes que ela pudesse dizer algo. Ele se levantou imediatamente, com a mesma calma de sempre, e caminhou até ela com passos lentos e medidos.

Kira se manteve firme, mas a tensão em seu corpo era visível. Quando Caleb se aproximou, ele a envolveu em um abraço inesperado, sem avisar. Kira sentiu o calor de seu corpo, o perfume de seu colarinho, e o coração dela bateu rápido, não por desejo, mas por uma sensação de impotência.

Ele a apertou com firmeza, como se estivesse marcando território. E antes que Kira pudesse protestar, Caleb sussurrou em seu ouvido, com a voz suave, mas cheia de autoridade:

— Sua avó me contou que você não estava muito entusiasmada com a viagem, mas vai ser bom para nós dois, Kira. Vai ser bom para todos.

Kira se afastou lentamente do abraço, mas ele ainda a segurava pela cintura, com uma calma quase irritante. Ela olhou para sua avó, que estava sorrindo de forma inocente, como se tudo fosse normal, como se Caleb estivesse ali como um visitante amigável.

— Vó, eu... — Kira começou a falar, mas Caleb a interrompeu, como se fosse a pessoa que realmente mandasse.

— Kira, você não precisa se preocupar com nada. Eu já expliquei tudo à sua avó — disse Caleb, olhando para a mulher idosa com um sorriso charmoso. Ele parecia completamente à vontade ali, como se fosse parte daquela casa.

Foi então que ele olhou para Kira, seu sorriso ganhando um tom de superioridade. Ele se virou para sua avó e falou de forma casual, sem pressa:

— Eu sou o namorado da Kira, não se preocupe, ela vai ficar bem. Vamos cuidar um do outro.

Kira congelou. A palavra "namorado" pairou no ar como uma sentença. Ela olhou para sua avó, esperando que a mulher negasse, que a situação fosse desfeita, mas sua avó apenas sorriu, aparentemente satisfeita com a explicação.

— Eu sabia, minha filha, eu sabia — a avó respondeu com uma expressão tranquila, mas havia algo de ingênuo em seu olhar. Ela não via a manipulação que estava acontecendo ali, ela não sabia que Kira estava sendo arrastada para um mundo que não escolheu.

Kira se sentiu como se a terra tivesse sumido sob seus pés. Ela não sabia o que era pior: a forma como Caleb a tratava como uma peça no seu jogo ou a forma como ele parecia ter ganhado a confiança de sua avó tão facilmente.

Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Não poderia deixar que ele vencesse dessa forma. Não agora.

— Caleb — Kira disse com uma firmeza que ela não sabia que tinha. Ela olhou diretamente para ele, sentindo a pressão do momento, mas não deixando que isso a dominasse. — Você pode enganar todo mundo, mas não vai me controlar.

Caleb olhou para ela com seus olhos penetrantes, sem expressão, mas a tensão entre eles era palpável. Ele não disse nada. Apenas a observou, a calma em seu rosto imperturbável.

Mas ela sabia que ele estava esperando uma resposta, esperando que ela cedesse. No entanto, Kira não ia ceder, não agora.

Kira estava em silêncio enquanto a última palavra de Caleb ecoava em sua mente: "Namorado". Ela tentou ignorar a forma como ele dizia aquilo com tanto conforto, como se fosse natural, como se ele já tivesse o direito de ditar sua vida. Mas, ao ver a expressão tranquila de sua avó, Kira soube que não poderia mais adiar o inevitável.

Ela respirou fundo, tentando afastar o peso que sentia no peito. Kira não tinha mais forças para lutar contra o que estava acontecendo naquele momento. Ela sabia que, por mais que tentasse se rebelar, a viagem era uma realidade a qual não poderia fugir.

Com passos firmes, ela se aproximou de sua avó, que a observava com um sorriso suave. A mulher não fazia ideia do quanto tudo estava prestes a mudar, do quanto Kira estava sendo arrastada para algo que ela não escolhera. Mas, por um momento, Kira desejou que fosse diferente, que sua avó não estivesse tão tranquila com o que estava prestes a acontecer.

Sem dizer uma palavra, Kira envolveu sua avó em um abraço apertado. Ela fechou os olhos por um instante, tentando gravar aquele momento, o cheiro familiar, o calor do abraço, como se fosse a última vez que tivesse aquele conforto.

— Vó, eu vou voltar logo. Prometo — Kira disse, a voz quebrando um pouco, mas ela se esforçou para manter a calma. Ela não queria que sua avó soubesse da angústia que se passava em seu peito. Ela não queria que ela visse o quão perdida Kira se sentia naquele momento.

A avó sorriu, acariciando os cabelos de Kira com ternura, sem desconfiar de nada.

— Eu sei, querida. Eu sei. Vai dar tudo certo.

Com um último suspiro, Kira se afastou da avó e caminhou em direção à porta. Ela sabia que não teria outra chance de falar com ela antes da viagem. O que quer que acontecesse, tudo seria decidido naquela tarde. Ela olhou para trás uma última vez, vendo sua avó voltar a se sentar no sofá, parecendo tão pacífica, e se sentiu um pouco mais perdida.

Ao sair pela porta, Kira viu o carro de Caleb estacionado na frente da casa. O motorista estava esperando pacientemente ao volante, com uma expressão neutra. Kira sabia que, a partir daquele momento, sua vida não seria mais a mesma. Ela não tinha escolha. Caleb a havia arrastado para esse mundo, e ela não podia voltar atrás.

Caleb estava lá, em pé ao lado do carro, observando-a com um sorriso de superioridade, como se estivesse esperando que ela cedesse de alguma forma. Kira o ignorou e entrou no carro sem dizer uma palavra, sentando-se do lado oposto ao de Caleb. O motorista começou a dirigir, e o som do motor preencheu o silêncio pesado entre eles.

Enquanto o carro seguia pela estrada, Kira olhou pela janela, tentando manter a compostura. Ela sabia que, enquanto estivesse com Caleb, não teria paz. Mas havia algo mais dentro dela, uma força silenciosa que a impelia a não se deixar dominar. Ela sabia que ele poderia tentar controlá-la, mas não seria fácil.

Ela estava determinada. Mesmo que tivesse que enfrentar o que fosse necessário, ela não se renderia.