Selene achara que havia fugido o suficiente. Mas estava completamente enganada.
É claro que a traição de sua família, a sombra que a havia marcado, não desapareceriam com tanta facilidade, Como um eco que ressoava em cada passo, o artefato que seus pais haviam lhe deixado, e a feito jurar protegê-lo, e que Selene carregava consigo desde então, pesava em seu pescoço, por debaixo da capa, a cada passo do caminho, arrastando-a para um passado do qual ela preferia ignorar.
Ela caminhava por um mercado imundo, a espreita, o cheiro de peixe podre e suor se misturando a medida que Selene caminhava mais ao centro do local, o cheiro de frutas podres misturados com toda aquela carne, já eram rotineiros para a garota desde que deixara sua vila, ainda criança.
Desde que sua vila fora destruída.
Seus olhos, afiados e vigilantes, percorriam cada esquina, cada rosto, como se estivesse à espera de algo. Ou de alguém. O movimento da multidão a envolvia, mas ela permanecia isolada em sua própria bolha de desconfiança. Vigia, sempre. Sempre preparada para o próximo golpe, o próximo perigo, a próxima traição.
A missão era simples, ou ao menos deveria ser: encontrar um velho conhecido que tinha informações vitais sobre os fragmentos do artefato. No entanto, até as missões mais simples se tornam traiçoeiras para ela. E Selene sabia que cada passo que dava a levava mais para perto do abismo.
Seu olhar se fixou em uma figura familiar, um homem de cabelos claros e capa surrada. Era Arlen, seu fiel aliado, que ainda acreditava que ela pudesse ser algo mais do que apenas uma caçadora de recompensas. Mas ela sabia que esse ideal que ele mantinha era um peso. Não seria a primeira vez que ela veria a desilusão nos olhos dele. O desapontamento pelo excesso de positividade ainda iria o matar.
Quando se aproximou, o silêncio entre os dois era pesado, carregado de uma história não dita, desde que Selene e Arlen decidiram ir atrás das respostas e os pedaços remanescentes deste artefato, o receio pairava sob os dois.
- Você está bem? - Arlen perguntou com sua voz profunda e calma, o que era mais uma afirmação disfarçada de preocupação.
Ela não respondeu de imediato, seus olhos apenas fixaram-se no chão. O artefato estava ali, sob a capa, pulsando levemente como se vivesse de alguma maneira, sempre presente, sempre lembrando-a de seu dever. O artefato era a razão de sua maldição, mas também a chave para o que ela mais desejava: a libertação.
- Eu sempre estou bem, Arlen - A resposta era vazia, um disfarce, mas Arlen a conhecia mais do que ela mesma. Sabia da verdade, e isso era, de certa forma, uma dor silenciosa entre os dois.
À medida que ambos caminham mais adiante, um som estranho interrompe o momento. O vento se eleva de forma repentina, trazendo consigo vozes sussurrantes e uma sensação de que algo os observa. Selene sabe, sem necessidade de palavras, que as coisas estão prestes a ficar complicadas. Eles não estavam sozinhos. A caça havia começado.
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Coração Amaldiçoado
FantasiCarregando um artefato amaldiçoado que há anos assombra sua linhagem, Selene Vorn nunca desejou ser uma heroína. Exilada, cínica e com uma lealdade que se resume à sua própria sobrevivência, ela prefere operar nas sombras, distante dos ideais de nob...