Capítulo 3

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Arthyom.

Ao sair do quarto em que Wiktoria estava, fechei a porta lentamente, o clique da fechadura ecoando pelo corredor silencioso

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Ao sair do quarto em que Wiktoria estava, fechei a porta lentamente, o clique da fechadura ecoando pelo corredor silencioso. O peso de cada passo que dava me levava de volta ao meu próprio quarto, o único lugar que considerava meu refúgio — pelo menos até trazê-la para cá. Era estranho sentir esse contraste entre a escuridão da minha vida e a pureza dela, mas era isso que me atraía, a razão pela qual a trouxe.

Assim que entrei, deixei a porta encostada, permitindo que o som do vento lá fora preenchesse o silêncio. Com um suspiro pesado, sentei-me na beira da cama e comecei a tirar as botas, meus dedos firmes mas trêmulos após a tensão do dia. Eu acabara de voltar de um treino intenso com o batalhão. Estávamos em exercícios de prontidão, a lembrança fresca dos treinamentos quase indistinguível das missões de combate reais. Com cada laço que desfazia, cada peça do uniforme que removia, cenas surgiam como flashes incontroláveis em minha mente.

As missões de guerra... por vezes, tornavam-se pesadelos impossíveis de afastar. Lembrava do som das explosões, das vozes em idiomas que eu mal conseguia entender, das torturas. Eram momentos onde a brutalidade se misturava ao caos e ao medo, e onde qualquer sinal de humanidade parecia se perder na poeira e no sangue.

Uma missão específica atravessou minha memória, algo que talvez jamais pudesse esquecer. Era uma vila, perdida no meio de um terreno desértico. Os rostos das pessoas, a dor nos olhos delas enquanto eram forçadas a se ajoelhar, os gritos abafados pelo som das ordens e dos tiros que logo se seguiriam. E, ainda assim, eu sabia que aquelas ações eram justificadas, ao menos no contexto da missão. Mas, para mim, eram apenas mais fragmentos de uma vida que há muito havia se despedaçado. O peso das escolhas que fiz para sobreviver em um mundo onde a violência era a regra... isso se tornou parte de mim, deixando cicatrizes que nunca poderiam ser apagadas.

Afastei esses pensamentos, esfregando as mãos sobre o rosto. O caos que enfrentava todos os dias no campo de batalha parecia ter contaminado algo dentro de mim, algo que apenas ela conseguia acalmar. Lembrava de como minha mente se voltava para Wiktoria nos momentos mais sombrios, como uma âncora que me mantinha ligado a uma realidade diferente, onde ainda existiam razões para lutar por algo melhor. Ela era a única coisa que me fazia acreditar que havia um propósito, que talvez houvesse algo mais além do ciclo interminável de violência e perda.

Com ela, sentia que podia ter controle novamente, que podia construir algo meu, algo verdadeiro. A ideia de perdê-la para qualquer perigo, qualquer risco, era insuportável. Ela precisava estar segura, precisava estar comigo. Era a única forma de ter certeza de que o mundo não a destruiria da mesma forma que destruiu tudo o que eu já conheci.

Afastei esses pensamentos e levantei-me, caminhando até o espelho ao lado. As marcas no meu rosto, as cicatrizes na minha pele, contavam histórias de tudo o que fiz para chegar até aqui. Histórias que ela nunca entenderia, mas que, de certa forma, me moldaram para protegê-la, mesmo que ela não compreendesse.

Observei meu reflexo no espelho, estudando as linhas duras que se formavam em minha expressão. As cicatrizes, cada uma, era como uma marca permanente das coisas que vi, das escolhas que fiz e que agora pesavam mais do que nunca. O rosto que olhava para mim parecia um estranho, mas ao mesmo tempo era o que restava de quem eu me tornara.

Passei a mão sobre a tatuagem que se estendia do meu pescoço até o ombro, um lembrete de lealdade ao meu país, uma lembrança das promessas que fiz a mim mesmo e das vidas que deixei pelo caminho. E entre todos esses fragmentos, havia ela, Wiktoria, tão frágil e delicada, mas, ao mesmo tempo, algo poderoso que eu sentia que precisava proteger.

Eu não sabia se ela entendia—como poderia? Para ela, talvez eu fosse apenas um homem perturbado, uma ameaça. Mas o que eu queria que ela visse era que eu estava disposto a qualquer coisa para mantê-la em segurança. No meio do caos que me consumia, ela era a única coisa que ainda me dava um propósito, o único reflexo de humanidade que eu era capaz de enxergar. Eu a observava de longe há tanto tempo, vendo cada expressão, cada pequeno detalhe de sua vida. Via seus momentos de alegria, aqueles breves sorrisos que ela trocava com amigas na faculdade, e via também suas quedas, suas lágrimas que eram como facadas em mim. E cada momento só me fazia querer mais, querer ser a presença que a protegeria desse mundo que tanto a magoava.

Respirei fundo, tentando afastar o peso da culpa que me rondava. Eu sabia que ela não queria estar aqui. Sabia que ela provavelmente me odiava, que ela estava apavorada—era inevitável. Mas eu não podia deixá-la ir. Eu não poderia suportar a ideia de vê-la longe do meu alcance, vulnerável a perigos que ela nem sonhava que existiam. Eu a conhecia melhor do que ninguém, conhecia sua força, mas também a fragilidade que ela escondia do mundo. E, por mais que eu soubesse o quanto isso soava insano, me fazia acreditar que ela, talvez, com o tempo, entenderia.

Lentamente, voltei a me vestir, trocando o uniforme pelas roupas simples que deixava no armário. Aquele uniforme de combate, as botas pesadas—eram como uma segunda pele, uma armadura contra tudo que o mundo lançava contra mim. Mas, com ela, eu queria mostrar uma parte diferente, uma parte que ela pudesse ver sem medo.

Saí do quarto e caminhei de volta ao corredor que levava até o quarto dela. Não entrei, apenas encostei no batente da porta, tentando ouvir se ela estava acordada, se ainda estava tranquila. Não queria perturbá-la mais do que já havia feito, mas precisava me certificar de que estava ali, de que ainda estava perto.

Afinal, essa era a única forma que eu conhecia para mantê-la em segurança.

Afinal, essa era a única forma que eu conhecia para mantê-la em segurança

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