𝑬𝒖 𝑵𝒂𝒐 𝑺𝒐𝒖 𝑺𝒖𝒂

ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ - 𝟢𝟤

𝑳𝒂𝒖𝒓𝒂 𝑳𝒆𝑩𝒍𝒂𝒏𝒄 🍓✨️

"A verdade é que eu tinha me perdido muito antes de perceber."

Eu olhei para Clara, que estava distraída com o filme, sem perceber a brisa de confusão que se apossava em mim. A minha amiga sempre foi um porto seguro, mas havia algo em sua atitude, no jeito de olhar para me com tanta clareza, que fazia com que eu me sentisse vulnerável. E, no fundo, essa vulnerabilidade era o que eu mais temia.

- Clara, você já percebeu como tudo muda quando a gente começa a se permitir sentir? - Eu falei baixo, como se eu estivesse testando a minha própria ideia.

Clara parou de olhar pra a televisão e me olhou, pensativa.

- Ah, você vai começar a filosofar agora?

Eu dei uma risada, mas continuei, agora mais firme.

- Quero dizer, antes eu achava que as coisas eram simples: ou a gente está forte, ou a gente está fraco. Mas não é assim, não é? A gente pode ser forte e ainda assim sentir tudo... sentir medo, dor, até esperança, mesmo quando achamos que não deveríamos.

Clara sorriu, essa era a amiga que ela conhecia.

- Às vezes você fala como se fosse a única pessoa do mundo que tem dúvidas. Todos nós temos, e é isso que nos faz humanos. Mas, olha, se você continuar resistindo a essas coisas, vai viver como uma estranha dentro de si mesma.

Eu refletir sobre as palavras de Clara. A minha amiga estava certa. Eu estava presa na sua própria armadura, tentando se proteger de algo que, talvez, não fosse tão ameaçador assim. E o sorriso do estranho não tinha sido uma ameaça, mas uma brecha. Uma brecha que me fazia lembrar que existiam outras formas de viver além da constante batalha interna.

Com um suspiro, eu levantei e caminhei até a janela. A vista da cidade lá fora estava mais tranquila agora, as luzes se espalhando pelo horizonte, como se a cidade tivesse se acalmado, também esperando pelo fim do dia. Eu sentir uma pontada de inquietação misturada com algo mais doce, uma sensação estranha, quase de esperança.

Talvez fosse.

- Clara, você está certa. Eu... acho que preciso aprender a me abrir um pouco mais para o que a vida traz, sem medo de me perder no processo.

Clara me observou, um sorriso sereno no rosto, e então se levantou para se juntar a mim na janela.

- Não é sobre se perder, amiga, é sobre se permitir ser quem você é, mesmo que isso signifique um pouco de caos no caminho. E quem sabe o que vai surgir, quando você começar a deixar a vida entrar, de verdade.

Eu fechei os olhos por um momento, sentindo o vento fresco entrando pela janela aberta. Algo em meu interior parecia ter mudado, como se, aos poucos, eu estivesse começando a confiar novamente. Não só no mundo, mas em si mesma.

- Então, você acha que talvez um sorriso possa significar mais do que imaginamos?

Clara deu um risinho.

- Acho que, talvez, um sorriso seja apenas o começo.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu sentir que estava pronta para dar o próximo passo.